O resultado da perícia da Polícia Federal (PF) na gravação da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista tornou-se o novo marco para que PSDB e DEM avaliem eventual saída do governo. Enquanto aguardam a conclusão do pente-fino no áudio, caciques das legendas mantêm o compromisso de votar projetos do interesse do Planalto, com foco em medidas provisórias e reformas.
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Diante do acordo do Planalto com PSDB e DEM para evitar a paralisia do Congresso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou o início da discussão da reforma da Previdência em plenário no próximo dia 5 de junho – um dia antes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retomar o julgamento da cassação da chapa Dilma-Temer. Já o relatório da reforma trabalhista será apresentado hoje na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado pelo tucano Ricardo Ferraço (ES).
– Não devemos deixar o país degringolar em razão da crise do governo, que estamos avaliando separadamente – advoga o presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati (CE).
Repercutiu bem nas cúpulas tucana e democrata a posição da presidente do Supremo, Cármen Lúcia, de só levar a julgamento o pedido de suspensão do inquérito contra Temer depois da conclusão da perícia no áudio. Líderes consideram que o despacho deu preciosas semanas de fôlego ao presidente, apesar de mantê-lo na condição de investigado.
– Cármen Lúcia subordina a decisão da Corte ao esclarecimento do fato sobre a gravação, algo razoável. Vamos aguardar o Supremo antes de adotar qualquer medida – disse o senador José Agripino Maia (RN), presidente nacional do DEM.
Em contato diário com Temer, Agripino e Tasso garantiram que tentarão conter a pressão interna pró-desembarque, movimento capaz de provocar a debandada de outros partidos da base. Deputados e senadores não escondem nos bastidores o incômodo pelo desgaste de imagem em razão do apoio a um presidente impopular e envolvido na delação da JBS.
A situação mais delicada é a da bancada tucana na Câmara, que não acredita na recuperação de Temer e diverge do alto comando da legenda. Tasso tem pedido calma para que o PSDB não seja visto como partido responsável por derrubar o presidente. Por isso, adiou qualquer reunião para definir saída ou permanência na coalizão.
– O melhor é não reunir, pois há risco de não conter a onda a favor da saída – avalia um grão-tucano.
Com auxílio do governador paulista, Geraldo Alckmin, e do prefeito de São Paulo, João Doria, Tasso procura convencer as bancadas a aguardar a retomada do julgamento da ação que pode cassar a chapa Dilma-Temer no TSE. Para fugir de questionamentos sobre Temer e o senador suspenso Aécio Neves (PSDB-MG), o tucanato concentra esforços nas reformas.
Relator das mudanças na legislação do trabalho, Ferraço desistiu de trancar a discussão do tema e vai apresentar hoje o relatório na CAE, com expectativa de aprovação na próxima semana.
– Não podemos misturar a crise institucional com o nosso dever e o nosso compromisso com o país. Esse é um debate que começou há meses no Congresso – justificou.
Ferraço não pretende alterar a versão do projeto aprovada pelos deputados, para evitar o retorno do texto à Câmara. Ajustes necessários devem ser feitos por meio de veto presidencial ou edição de medida provisória. Articuladores de Temer querem aprovar a reforma no plenário do Senado em até duas semanas.
Na Câmara, a semana será concentrada na aprovação de MPs que estão próximas de perder a validade. As votações são consideradas o termômetro da disposição em favor do apoio a Temer. Em outra frente, o PMDB vai coletar assinaturas para criar CPI sobre a delação dos executivos da JBS. A oposição trabalha com a estratégia de tentar obstruir as votações até que Maia aceite um dos pedidos de impeachment de Temer apresentados até o momento.
A manobra da oposição para trancar as votações só terá eficácia com a adesão de parte da base de Temer. Na tribuna, os discursos voltarão a pedir a renúncia do presidente e a aprovação da PEC que antecipa as eleições diretas em caso de queda do presidente.
– A agenda legislativa tem uma única prioridade, definir a data das próximas eleições presidenciais de forma direta – afirma Henrique Fontana (PT-RS).