Em dois depoimentos à Procuradoria da República em Campinas (SP), em meados de dezembro, o ex-diretor da Odebrecht no Rio Grande do Sul, Alexandrino de Alencar garantiu que o setor de operações estruturadas da empresa, o departamento da propina, fez repasses de R$ 650 mil, via caixa 2, atendendo a pedidos do ex-deputado Beto Albuquerque (PSB). O dinheiro seria para apoiar candidaturas de Beto, de correligionários do PSB e da deputada estadual Manuela D'Ávila (PC do B).
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Desse total, Alexandrino disse que R$ 200 mil foram doados a Beto, como ajuda na campanha dele a deputado federal, em 2010. Conforme o ex-executivo da empreiteira, o valor superou em muito a quantia de doações legais candidatos a deputados federais – tabelada pela empresa em R$ 50 mil. Alexandrino afirmou que, em 2012, foram repassados R$ 100 mil a Beto, a título de contribuição a campanhas municipais do PSB.
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– Ele, como líder do partido no Estado, iria distribuir para alguns candidatos a vereador e prefeito. E nós oferecemos, via caixa dois, R$ 100 mil para ele fazer as benesses – afirmou Alexandrino, lembrando que o codinome de Beto era "trinca-ferro", um pássaro, em alusão ao símbolo do PSB.
Conforme o ex-diretor da Odebrecht, em 2008, R$ 300 mil irrigaram a campanha de Manuela D'Ávila à prefeitura de Porto Alegre, por meio de caixa 2. Alexandrino ressaltou que o dinheiro foi solicitado por Beto, que era coordenador da campanha de Manuela, e que a quantia estava acima da tabela oficial de doações da empreiteira por dois motivos:
– Primeiro, pela relação que tínhamos com o deputado, jovem, aguerrido, com bastante projeção nacional. Segundo, pela própria candidata Manuela, que era jovem liderança no Rio Grande do Sul, que vinha despontando, e nós acreditávamos que viria ter projeções futuras e porque ela liderava as pesquisas.
Questionado se teve algum encontro com Manuela, Alexandrino disse que não, mas que ela saberia da origem do dinheiro por intermédio de Beto. De acordo com o ex-diretor da empreiteira, Manuela voltou a ser beneficiada na campanha para reeleição a deputada federal, em 2010, dessa vez com R$ 50 mil, também por meio de caixa 2. Alexandrino recordou que, nas planilhas da Odebrecht, o codinome de Manuela era "avião", mas garantiu que não tinha uma razão específica para tal.
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CONTRAPONTOS
O que diz Beto Albuquerque:
"Só teme a Justiça ou uma investigação quem deve ou praticou algum ato ilegal. Eu não devo e não temo! Ao contrário, confio na Justiça, no MP e na verdade. Nunca tive qualquer relação ilegal com a Odebrecht. Nunca! Ainda não sei das razões para o meu nome estar citado. Mesmo assim afirmo, ou se trata de um enorme engano ou estou diante de uma grande mentira e calúnia. Tomarei todas as providências cabíveis e estou a disposição da justiça para esclarecer a verdade. Minha conduta de uma vida inteira é a melhor forma de me defender de qualquer injustiça".
O que diz Manuela D'Ávila:
"Sobre as notícias veiculadas pela imprensa, comunico que não fui informada pela justiça, mas tenho ao meu lado a tranquilidade de quem há 13 anos constrói sua vida pública com transparência e ética".