Diante de um público que lotou o largo da prefeitura, neste sábado, em Rio Grande, o ex-presidente Lula defendeu a retomada de investimentos no polo naval, atacou o governo Michel Temer e disse estar disposto a concorrer novamente à Presidência em 2018. Ao lado da ex-presidente Dilma e de lideranças nacionais e estaduais do PT, Lula falou durante 40 minutos, período em que destacou realizações de seu governo, disparou alfinetadas ao juiz Sergio Moro e à Operação Lava-Jato e apresentou um discurso de pré-candidato, pedindo antencipação das eleições.
– Eu vi gente aqui falando nas eleições de 2018. Eu posso esperar até 2018, mas quem está desempregado, não pode esperar. Quem está passando fome não pode esperar.
Lula chegou à cidade por volta das 13h35min, em um voo fretado direto de São Paulo. Comeu frutas no almoço, na sala de reuniões da prefeitura, enquanto aguardava o início da manifestação. O ato foi organizado pelo PT local para denunciar o que consideram o desmonte do polo naval da região, que chegou a empregar 22 mil pessoas no auge do setor, em 2013. Atualmente, restam 3 mil trabalhadores, e os dois estaleiros da cidade não têm mais encomendas à vista.
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No início do evento, que começou com 40 minutos de atraso, Lula e Dilma receberam um documento das frentes parlamentares em defesa do polo naval, no qual deputados e políticos locais fazem um diagnóstico da situação. No último ano, a arrecadação da prefeitura perdeu R$ 70 milhões (10% do orçamento anual) em função da depressão da economia local.
Dirigentes da Frente Brasil Popular, da Central Única dos Trabalhadores, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra abriram os discursos. Em seguida, falaram a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), o líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zaratini (PT-SP) e o prefeito Alexandre Lindenmeyer (PT). Dilma foi antecedida pelo ex-governador Olívio Dutra, o mais ovacionado pelo público. Em 15 minutos, a ex-presidente criticou as reformas conduzidas pelo governo Temer, disse que está em curso no país um processo de falsificação do processo eleitoral para impedir Lula de ser candidato em 2018.
– Quando se faz um impeachment de uma presidenta com 54,5 milhões de votos, pode se fazer qualquer coisa. Cada nova medida é um complemento do golpe. Não podemos deixar eles se consolidarem no poder – conclamou.
Dilma também disse ter orgulho dos mais de R$ 6 bilhões em investimentos feitos no polo naval pelos governos do PT e atacou a decisão da Petrobras de voltar a encomendar plataformas no Exterior, política extinta nas gestões dela e de Lula.
– Fiquei extremamente triste quando olhei para o polo naval. Aqui eu vi sair das areias, do chão, o que era mais avançado em tecnologia do mundo. Aqui se gerava a capacidade do nosso país se transformar. O polo naval trazia o caminho de esperança de um Brasil soberano – afirmou.
Recebido com gritos de "Lula, eu te amo" vindos da plateia, Lula começou seu discurso elogiando a politização dos gaúchos. Em seguida, disse que o preconceito e o ódio dos quais sempre foi vítima se ampliaram no país com a cassação do mandato de Dilma.
– Fizeram uma farsa, nos deram uma rasteira. Há neste país uma luta de classes cotidiana que eu achava já não existir mais. Tem um tipo de gente que não suporta ascensão de pobre, não suporta que uma menina negra faça Odontologia. Pobre quer se meter a frequentar teatro, a comer picanha. Onde se viu? Pobre tem comer carne de segunda, se comer pescoço de frango já está no limite – ironizou.
Lula disse que comprou brigas dentro do próprio governo para incentivar a indústria naval com o objetivo de recuperar regiões deprimidas, como a Zona Sul do Estado. Ao dizer que na época a compra de uma plataforma no Exterior era US$ 100 milhões mais barata do que uma construída no país – "não posso ter um navio mais barato feito em Cingapura e ter um rio-grandino dormindo na sarjeta", justificou –, interrompeu o discurso para alfinetar o juiz Sergio Moro, a quem irá depor dia 10 de maio. Pouco antes do início do evento, um avião sobrevoou o largo puxando uma faixa com a frase "Lula, Moro te espera".
– Tô até preocupado: o Moro deve tá olhando meu discurso aqui. Estão tentando me condenar por causa do meu jeito de governar esse país. Mas vou dizer como o Fidel (Castro, ex-presidente cubano): "a história me absolverá".
Ao encaminhar o final do discurso, voltou a insinuar uma candidatura presidencial.
– Não sei quanto tempo tenho pela frente, mas na minha idade é difícil mudar ou ter medo. Mas se eu tiver 20 anos de vida, ou um ano, será para recuperar a democracia. Não sei o que vai acontecer comigo, mas eles podem esperar, porque nós vamos voltar – encerrou, antes de dar um beijo em Dilma e ser saudado com gritos de "volta Lula" pelo público.