Após três anos de investigações, a Operação Lava-Jato ganhou aval do Supremo Tribunal Federal (STF) para avançar sobre a cúpula da política nacional em dimensão inédita. Ao autorizar a abertura de inquéritos contra oito ministros do governo de Michel Temer, 24 senadores, 39 deputados federais, três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), o relator Edson Fachin paralisou Brasília, que tenta lidar com o tsunami provocado nos maiores partidos do país a partir das delações dos dirigentes da Odebrecht.
Antecipada na tarde de terça pelo jornal O Estado de S. Paulo, a abertura de 74 inquéritos, apenas dois sob sigilo, foi confirmada à noite pela assessoria do Supremo. Fachin se manifestou sobre pedidos enviados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em 14 de março. Os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), aparecem na lista, que traz nomes de 14 partidos diferentes. Após as apurações, Janot verá se há elementos para denunciar ou não os envolvidos.
Leia mais
Lista de Fachin: o que pesa contra os sete gaúchos investigados no STF
Lista de Fachin fragiliza o governo Temer
Lista de Fachin: confira os nomes de quem será investigado
Além dos casos que serão investigados pela Corte, também foram divulgados os alvos das petições encaminhas a instâncias inferiores da Justiça. Entre eles, constam os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de outros nove governadores e ex-governadores, ex-ministros, deputados estaduais, prefeitos, ex-parlamentares e assessores.
A revelação da lista de Fachin surpreendeu o Congresso e o Palácio do Planalto, que aguardavam os inquéritos apenas para depois do feriadão de Páscoa. Passava das 16h, com sessões em andamento no Congresso, quando a reportagem começou a circular em grupos de WhatsApp. No cafezinho anexo ao plenário da Câmara, alguns deputados conferiam o jogo entre Juventus e Barcelona, pela Liga dos Campeões. Todos deixaram a TV de lado e fixaram os olhos nos celulares. Passavam o dedo na tela, procurando o próprio nome. Quem não achava, suspirava.
O mesmo movimento ocorreu no plenário, que discutia o projeto de recuperação fiscal, com mais de 400 parlamentares presentes. Houve uma debandada, que resultou no encerramento da sessão, anunciado por um constrangido Rodrigo Maia. Cercado por repórteres, o presidente da Casa adotou o tom dos demais investigados, negando qualquer irregularidade:
– Vou repetir o que sempre tenho dito: confio na Justiça, confio no Ministério Público e confio na Polícia Federal.
Entre os alvos das novas investigações, poucos deputados permaneceram na Câmara. No Senado, que tem 24 dos 81 integrantes na lista, Eunício tentou manter a naturalidade, mantendo votações de projetos sem importância.
– Estava presidindo a sessão e não tenho nenhuma informação sobre nome e inquéritos – disse. – Os homens públicos têm de estar sempre atentos, sem medo de fazer os enfrentamentos que a vida pública oferece.
Na Casa, os tucanos foram os principais alvos, com sete dos 11 senadores na relação de Fachin. Aécio Neves (MG) é alvo de cinco inquéritos, assim como o peemedebista Romero Jucá (RR). Renan Calheiros (PMDB-AL) está em quatro investigações. Já nos declínios de competência, o ex-presidente Lula aparece seis vezes.
No Planalto, como base e oposição foram alvejadas, aposta-se em um desgaste compartilhado, com impacto inevitável na popularidade já combalida do governo. No caso de Temer, como ele está blindado pela imunidade conferida pela lei a episódios anteriores ao mandato de presidente da República, mesmo tendo sido citado por delatores, a preocupação é menor. A principal dúvida fica em torno das condições dos ministros de permanecerem no cargo. Por ora, Temer quer evitar demissões.
______________
Contrapontos
O que diz o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS):
Por meio de sua assessoria de comunicação, o ministro afirmou que não vai se pronunciar sobre o caso no momento.
O que diz o deputado federal Marco Maia (PT-RS):
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o deputado federal Marco Maia (PT-RS) disse que já esperava a aparição de seu nome na lista, porque já estava entre os citados na delação de Cláudio Melo Filho, vazada no fim do ano passado. Maia disse que o processo é normal "para que possamos nos defender dessas acusações caluniosas". O deputado também criticou a forma como as delações são utilizadas nas investigações, pois, segundo ele, o delator faz as acusações para se livrar de um crime cometido. Maia destacou que assim que for intimado da abertura do processo e tiver acesso ao texto, vai tomar as medidas judiciais cabíveis.
O que diz o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS):
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o deputado afirmou que nunca esteve com ninguém da Odebrecht e que desconhece as pessoas que o acusam. "Tenho absoluta tranquilidade dos meus procedimentos e vou em busca dos esclarecimentos. Se necessário, vou abrir mão do meu foro privilegiado. Devo isso aos meus eleitores, que confiaram em mim", disse o parlamentar gaúcho. Onyx ainda afirmou que, no caso do surgimento de provas, ele deixaria o cargo.
O que diz Humberto Kasper, ex-diretor-presidente da Trensurb:
Em reposta à Rádio Gaúcha, Kasper disse que não conhece o assunto e que não sabe do que se trata. Por isso, não tem como se pronunciar.
Marco Arildo Prates da Cunha, ex-diretor-presidente da Trensurb:
Por meio de nota, afirmou que o conteúdo da delação premiada que cita seu nome "não é verdadeiro". Marco Arildo Cunha diz que " a execução da obra de extensão da Trensurb seguiu e respeitou todas as condicionantes estipuladas pelo Tribunal de Contas de União". O ex-diretor da Trensurb destaca estar à disposição da Justiça e que "vai provar sua inocência".
O que diz a deputada federal Maria do Rosário:
Por meio de nota divulgada por sua assessoria de comunicação, a deputada afirma que a decisão do ministro Edson Fachin "é uma mera autorização do STF para apuração dos fatos sobre as delações da Odebrecht". No entanto, a parlamentar diz que "a citação de seu nome a deixa indignada.
"Não me calarei frente a este episódio e não me afastarei um milímetro sequer das causas que acredito e que o nosso trabalho representa. Vou disponibilizar meus sigilos fiscal, bancário e telefônico ao STF tamanha é minha tranquilidade. Meu nome e minha vida não estão à disposição para serem enxovalhados por ninguém em nenhum lugar", diz a deputada no documento. Ela também divulgou um vídeo com seu posicionamento.
O que diz a deputada federal Yeda Crusius:
A deputada gaúcha, por meio de nota, afirma que transparência é fundamental, e aguarda o levantamento do sigilo das delações que embasaram a decisão do Procurador Janot e do Ministro Fachin.
"Embora desconhecendo ainda as razões que o levaram a elaborar estas listas, considero fundamental tanto a Lava-Jato quanto o trabalho do Supremo para que os inquéritos hoje autorizados sejam feitos e concluídos com a celeridade requerida por mim e por toda a população brasileira, separando o joio do trigo e promovendo a Justiça de que tanto o país precisa", diz um trecho do comunicado.
ZH tenta ouvir os outros gaúchos citados pela reportagem.
______________
Confira a lista dos políticos incluídos na lista de Fachin:
1 - Ministro da Casa Civil Eliseu Lemos Padilha (PMDB-RS)
2 - Ministro da Ciência e Tecnologia Gilberto Kassab (PSD)
3 - Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República Wellington Moreira Franco (PMDB)
4 - Ministro das Cidades Bruno Cavalcanti de Araújo (PSDB-PE)
5 - Ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB)
6 - Ministro de Estado da Integração Nacional, Helder Barbalho (PMDB)
7 - Ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços Marcos Antônio Pereira (PRB)
8 - Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Blairo Borges Maggi (PP)
9 - Senador Antônio Anastasia (PSDB-MG)
10 - Senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR)
11 - Senador Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG)
12 - Senador Renan Calheiros (PMDB-AL)
13 - Senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE)
14 - Senador da República Paulo Rocha (PT-PA)
15 - Senador Humberto Sérgio Costa Lima (PT-PE)
16 - Senador Edison Lobão (PMDB-PA)
17 - Senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)
18 - Senador Jorge Viana (PT-AC)
19 - Senadora Lídice da Mata (PSB-BA)
20 - Senador Eunício Oliveira (PMDB-CE)
21 - Senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES)
22 - Senador Ciro Nogueira (PP-PI)
23 - Senador Dalírio José Beber (PSDB-SC)
24 - Senador Ivo Cassol (PP-RO)
25 - Senador Lindbergh Farias (PT-RJ)
26 - Senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)
27 - Senadora Kátia Regina de Abreu (PMDB-TO)
28 - Senador Fernando Afonso Collor de Mello (PTC-AL)
29 - Senador José Serra (PSDB-SP)
30 - Senador Eduardo Braga (PMDB-AM)
31 - Senador Omar Aziz (PSD-AM)
32 - Senador Valdir Raupp (PMDB-RO)
33 - Deputado federal Ônix Lorenzoni (DEM-RS)
34 - Deputado federal Vicente "Vicentinho" Paulo da Silva (PT-SP)
35 - Deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA)
36 - Deputado federal Mário Negromonte Jr. (PP-BA)
37 - Deputado federal Nelson Pellegrino (PT-BA)
38 - Deputado federal Daniel Almeida (PCdoB-BA)
39 - Deputado federal Paulinho da Força (SD-SP)
40 - Deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP)
41- Deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RM), presidente da Câmara
42 - Deputado federal João Carlos Bacelar (PR-BA)
43 - Deputado federal Milton Monti (PR-SP)
44 - Deputado federal Arthur Oliveira Maia (PPS-BA)
45 - Deputada federal Yeda Crusius (PSDB-RS)
46 - Deputado federal Paulo Henrique Lustosa (PP-CE)
47 - Deputado federal Marco Maia (PT-RS)
48 - Deputado federal Jutahy Júnior (PSDB-BA)
49 - Deputada federal Maria do Rosário (PT-RS)
50 - Deputado federal José Reinaldo (PSB-MA), por fatos de quando era governador do Maranhão
51 - Deputado federal Rodrigo Garcia (DEM-SP)
52 - Deputado federal Cacá Leão (PP-BA)
53 - Deputado federal Celso Russomano (PRB-SP)
54 - Deputado federal Dimas Fabiano Toledo (PP-MG)
55 - Deputado federal Pedro Paulo (PMDB-RJ)
56 - Deputado federal Lúcio Vieira Lima (PDMB-BA)
57 - Deputado federal Daniel Vilela (PMDB-GO)
58 - Deputado federal João Paulo Papa (PSDB-SP)
59 - Deputado federal Vander Loubet (PT-MS)
60 - Deputado federal Alfredo Nascimento (PR-AM)
61 - Deputado federal Zeca Dirceu (PT-SP)
62 - Deputado federal Vicente Cândido (PT-SP)
63 - Deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ)
64 - Deputado federal Fábio Faria (PSD-RN)
65 - Deputado federal Heráclito Fortes (PSB-PI)
66 - Deputado federal Beto Mansur (PRB-SP)
67 - Deputado federal Antônio Brito (PSD-BA)
68 - Deputado federal Décio Lima (PT-SC)
69 - Deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP)
70 - Deputado federal Betinho Gomes (PSDB-PE)
71 - Deputado federal Zeca do PT (PT-MS)
72 - Governador do Estado do Acre Tião Viana (PT)
73 - Governador do Estado de Alagoas Renan Filho (PMDB)
74 - Governador do Estado do Rio Grande do Norte Robinson Faria (PSD)
75 - Ministro do Tribunal de Contas da União Vital do Rêgo Filho
76 - José Feliciano
77 - Prefeita Municipal de Mossoró/RN Rosalba Ciarlini (PP), ex-governadora do Estado
78 - Ex-deputado federal Valdemar da Costa Neto (PR-SP)
79 - Luís Alberto Maguito Vilela, ex-senador da República e prefeito municipal de Aparecida de Goiânia entre os anos de 2012 e 2014
80 - Edvaldo Pereira de Brito, então candidato ao cargo de senador pela Bahia nas eleições 2010
81 - Oswaldo Borges da Costa, ex-presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais/Codemig
82 - Cândido Vaccarezza (ex-deputado federal PT)
83 - Guido Mantega (ex-ministro)
84 - César Maia (DEM), vereador e ex-prefeito do Rio de Janeiro e ex-deputado federal
85 - Paulo Bernardo da Silva, então ministro de Estado
86 - Eduardo Paes (PMDB), ex-prefeito do Rio de Janeiro
87 - José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil
88 - Deputada Estadual em Santa Catarina Ana Paula Lima (PT-SC)
89 - Napoleão Bernardes, Prefeito Municipal de Blumenau/SC
90 - João Carlos Gonçalves Ribeiro, que então era secretário de Planejamento do Estado de Rondônia
91 - Advogado Ulisses César Martins de Sousa, à época Procurador-Geral do Estado do Maranhão
92 - Rodrigo de Holanda Menezes Jucá, então candidato a vice-governador de Roraima, filho de Romer Jucá
93 - Paulo Vasconcelos, marqueteiro de Aécio
94 - Eron Bezerra, marido da senadora Grazziotin
95 - Moisés Pinto Gomes, marido da senadora Kátia Abreu, em nome de quem teria recebido os recursos
96 - Humberto Kasper, ex-diretor-presidente da Trensurb
97 - Marco Arildo Prates da Cunha, ex-diretor-presidente da Trensurb
98 - Vado da Famárcia, ex-prefeito do Cabo de Santo Agostinho
*Zero Hora