O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), revogou, nesta terça-feira, a nomeação da ex-deputada, ré na Lava-Jato e aliada de Eduardo Cunha (PMDB) Solange Almeida (PMDB). Ela havia sido escolhida para o cargo de secretária de Estado e sua nomeação foi publicada na segunda-feira no Diário Oficial do Estado.
Ao nomear a ex-prefeita de Rio para o cargo de secretária de Proteção e Apoio à Mulher e ao Idoso do Estado do Rio, Pezão poderia ajudar o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB) a se livrar de ser julgado em mais uma ação penal pelo juiz Sergio Moro. Isso porque, com o novo cargo, Solange poderia passar a contar com foro privilegiado.
Leia mais
PGR pede arquivamento de investigação contra governador do Rio na Lava-Jato
Pezão sanciona lei que autoriza privatização da companhia de saneamento do Rio
Moro manda Pezão escolher um dia para depor como testemunha de Cabral
Segundo nota divulgada pelo governo do Rio nesta tarde, a decisão do governador foi tomada após o recebimento de um comunicado do Ministério Público Federal (MPF), com a informação de que Solange foi condenada em segunda instância por improbidade administrativa.
A perda do efeito da nomeação será publicada nesta quarta-feira, no Diário Oficial. Segundo a nota, o novo titular da Secretaria será nomeado em breve
Cunha e Solange foram denunciados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em 20 de agosto de 2015 por suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras, a acusação foi aceita pelo STF em 3 de março de 2016, mas com a perda de mandato de Cunha em setembro do ano passado, e com a não reeleição de Solange na prefeitura (que lhe dava foro privilegiado), em janeiro de 2017 o Tribunal Regional Federal da 2ª Região determinou que o caso fosse remetido para o juiz Sergio Moro, em Curitiba.
O Tribunal, contudo, aguarda para julgar um recurso da defesa de Solange contra a decisão de enviar o caso para Moro. Neste meio tempo, ela foi nomeada secretária de Estado no Rio na segunda-feira.
Atualmente, o Tribunal aguarda um parecer da Procuradoria Regional da República sobre o recurso de Solange para, então, poder julgar o caso.
Navios-sonda
Nesta denúncia, o ex-presidente da Câmara é acusado de receber US$ 5 milhões em propinas para que o estaleiro sul-coreano Samsung Heavy Industries fosse contratado pela Petrobras para fornecer dois navios-sondas para a perfuração em águas profundas na África e no Golfo do México, entre 2007 e 2012.
Na época deputada, Solange é acusada de ter atuado a mando do ex-deputado para pressionar por meio de um requerimento na Câmara uma empresa que não estava pagando a propina solicitada pelo peemedebista.
Atualmente, Cunha é réu em três ações penais, incluindo a que está no TRF2. Uma delas tramita em Curitiba, perante o juiz Moro, por supostamente receber propinas referentes à compra, pela Petrobras, de um campo de petróleo em Benin, na àfrica. A outra ação tramita na Justiça Federal do DF, na qual o peemedebista é acusado de cobrar propinas para liberar recursos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS) para grandes empreendimentos.
Defesa
Ao anunciar a nomeação de Solange, na segunda-feira, o governador Luiz Fernando Pezão minimizou o fato de ela ser ré na Lava-Jato.
– Não (incomodam as acusações). Também já passei por isso, estou passando. Tenho certeza que ela vai fazer um grande trabalho – afirmou o governador.
Já Solange Almeida divulgou nota nesta terça-feira afirmando:
– Acho muito desagradável responder ao processo, mas tenho certeza da minha lisura. Vou responder de cabeça erguida.
A assessoria não respondeu à pergunta da reportagem sobre se o governador nomeou Solange para "protegê-la" do juiz Moro.
*Estadão Conteúdo