Ao ser apontado por Marcelo Odebrecht como responsável por negociar repasse milionário ao PMDB, na campanha de 2014, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, viu sua situação ficar ainda mais delicada. Por ora, interlocutores do presidente Michel Temer não apostam em demissão, mas acreditam que espichar a licença médica é o caminho para depurar a crise política e bater o martelo sobre a permanência ou a saída do governo.
O futuro de Padilha já era considerado incerto após o advogado José Yunes, amigo e ex-assessor de Temer, afirmar que serviu de "mula" para o ministro, ao receber, a pedido dele em 2014, um pacote do doleiro Lúcio Funaro. O escritório de Yunes seria um dos locais para entrega do dinheiro da Odebrecht ao PMDB. O depoimento de Marcelo reforça suspeitas da participação de Padilha nos repasses, parte via caixa 2.
Afastado da Casa Civil desde a semana passada, Padilha passou em Porto Alegre por uma cirurgia de retirada da próstata, realizada na segunda-feira. Sua ideia era ficar poucos dias em licença, a fim de participar da reunião do Conselhão, na próxima terça-feira. Contudo, assessores projetam um retorno em 15 ou 20 dias.
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Segundo a Folha de S.Paulo, Temer estaria discutindo nomes para assumir interinamente a Casa Civil. Seriam cogitados o assessor especial Rodrigo Rocha Loures e o subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha. O segundo chegou a ser cotado para o Ministério da Justiça, no final do mês passado, e o primeiro assume na semana que vem o mandato de deputado federal, mas há possibilidade de se licenciar. A avaliação é de que são ligados ao PMDB, reduzindo a chande de queixas do partido pela perda de espaço.
O período de ausência casa com as projeções feitas no núcleo do governo para medir a turbulência que está por vir. No Palácio do Planalto, corre a avaliação de que as atenções a Padilha podem se dissipar com a chegada ao STF da nova leva de pedidos de abertura de inquéritos na Lava-Jato. Com base nas delações da Odebrecht, que citam mais de cem políticos de diferentes partidos, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve protocolar nas próximas semanas as solicitações para iniciar as investigações.
Com a expectativa de que o ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato, autorize os inquéritos e levante o sigilo de parte das delações, peemedebistas preveem um cenário de desgaste compartilhado na classe política. Somente após avaliar os reflexos dos casos, nas ruas e na base parlamentar, Temer definirá a situação de Padilha e de outros auxiliares. Contra a demissão do gaúcho, pesa o receio de deixá-lo sem foro privilegiado.
Nas poucas reuniões nas quais comentou a situação de Padilha, Temer lembrou que já definiu sua linha de corte para os auxiliares citados nas delações: afastamento temporário em caso de denúncia e demissão para quem se tornar réu. Pelo ritmo da Lava-Jato no STF, o chefe da Casa Civil teria tempo para se recuperar da cirurgia e do desgaste político.