Na semana em que vieram à tona revelações de delatores da Odebrecht à Justiça Eleitoral, nenhum depoimento se aproximou tanto da ex-presidente Dilma Rousseff do que a fala do herdeiro da companhia, Marcelo Odebrecht. Ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin, o empresário afirmou que repassou R$ 150 milhões à chapa Dilma-Temer em 2014. Candidata à reeleição na ocasião, a então presidente teria ciência de que parte do dinheiro foi entregue via caixa 2, inclusive com pagamentos no Exterior a João Santana, marqueteiro da campanha.
Prestado na quarta-feira na ação que pede a cassação da chapa por abuso de poder político e econômico, o depoimento teve versões vazadas à imprensa.
As declarações reforçam suspeitas de irregularidades nas campanhas do PT, modelo que se repetiu em outros partidos, como PMDB e PSDB. O empresário apontou que R$ 50 milhões eram contrapartida por medida provisória que beneficiou a companhia.
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Nas avaliações de parlamentares, procuradores e advogados, apesar de Odebrecht ter dito que não discutiu diretamente com Dilma as contribuições, fica difícil sustentar que ela desconhecia o esquema de desvios em obras públicas. Para investigadores da Lava-Jato, o depoimento indica que a petista foi conivente com a corrupção na Petrobras e se beneficiou dela nas eleições.
– Marcelo Odebrecht reforça o que outros delatores e investigados já falaram. Fica difícil manter a fala da ex-presidente de que só havia dinheiro oficial nas campanhas – afirma um procurador.
Ao longo do processo de impeachment, o PT bateu na tecla da retidão da conduta de Dilma, discurso repetido no momento. Por meio de nota, ela chamou de "mentirosa" a versão do depoimento. O texto destaca que "a insistência em impor à ex-presidenta conduta suspeita ou lesiva à democracia ou ao processo eleitoral é um insulto à sua honestidade e um despropósito a quem quer conhecer a verdade sobre os fatos".
A prática de caixa 2 já foi admitida por João Santana e sua mulher, Mônica Moura. Em 2016, ao juiz federal Sergio Moro, o casal confessou ter recebido no Exterior US$ 4,5 milhões do operador Zwi Skornicki, referente a dívida da eleição de 2010. Os dois relataram que os pagamentos teriam sido intermediados pelo tesoureiro João Vaccari e pelos ex-ministros Guido Mantega e Antonio Palocci. Marcelo Odebrecht também teria apontado Mantega e Palocci como responsáveis pelas contas nas quais a empreiteira depositava recursos destinados ao PT.
O teor da fala do executivo criou a expectativa no meio político e jurídico da possibilidade de Dilma ser alvo de novas investigações na Lava-Jato. A ex-presidente já está em um inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) com a suspeita de obstrução de Justiça.
O que disse Marcelo Odebrecht
Relatou ter se encontrado em um jantar com Michel Temer no Palácio do Jaburu. Negou ter tratado de valores com Temer – essa definição teria ficado com Eliseu Padilha e o diretor Claudio Melo Filho.
Citou ter se encontrado diversas com Dilma Rousseff, mas que as contribuições para campanhas eleitorais seriam tratadas com o ex-ministro Guido Mantega.
Indicou pagamento de R$ 150 milhões para a chapa Dilma-Temer e referiu que a maior parte seria caixa 2.
A reação de Dilma Rousseff, em trecho de nota distribuída pela assessoria de imprensa
"É mentirosa a informação de que Dilma Rousseff teria pedido recursos ao senhor Marcelo Odebrecht ou a quaisquer empresários, ou mesmo autorizado pagamentos a prestadores de serviços fora do país, ou por meio de caixa 2. Também não é verdade que Dilma Rousseff tenha indicado o ex-ministro Guido Mantega como seu representante (...) tendo como objetivo a arrecadação financeira para as campanhas presidenciais."
*Zero Hora