Os acordos de delação premiada da Odebrecht devem revelar casos de corrupção em vários Estados do país, afirmou o coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato, o procurador federal Deltan Dallagnol, em entrevista ao portal UOL.
– É natural que aconteça um desdobramento da Lava-Jato com 'filhotes' da operação por todo o país – disse. Ele explicou que decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) geraram desdobramentos em São Paulo, no Rio e outras operações.
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– O STF, em dois precedentes, entendeu que fatos que não estejam relacionados a algo próximo à Petrobras não devem tramitar em Curitiba, mas em seus Estados – indicou. Dallagnol também considera que, a princípio, existem acordos de colaboração premiada que estão sendo objeto de decisão do STF.
O procurador afirmou que a Operação está num "movimento de expansão", com novos fatos vindo à tona, em decorrência de acordo de colaboração com indivíduos e de leniência com empresas. Ele vê o marketing da Petrobras como uma tendência de expansão da Lava-Jato.
– Outra área que estamos estudando é a das instituições financeiras. Não exatamente porque não existe um controle, mas porque várias delas violaram regras para praticar atos que acabaram favorecendo a realização de crimes graves contra a sociedade – acrescentou.
Dallagnol minimizou críticas de que a Lava-Jato teria efeito negativo para a economia, ao ressaltar que o fator prejudicial é a corrupção.
– Vários dos problemas que surgiram em decorrência da Lava-Jato não estão ligados à atuação do Estado, mas sim às práticas dos crimes pelas pessoas que os cometeram anos atrás. Vemos ainda que corrupção e ineficiência econômica estão muitas vezes relacionadas – disse.
Na entrevista, também evitou polemizar declarações de que haveria interesses estrangeiros e partidaristas na Operação. Ele não comentou casos específicos, como um possível pedido de prisão do ex-presidente Lula, nem sobre afastamento da PF das delações da Lava-Jato.
– Existe essa crítica de que a Lava-Jato é partidária porque atingiria só membros do PP, PT e PMDB. Mas existe uma razão para que isso tenha ocorrido. Essa razão é a forma como os crimes se desenvolveram – afirmou.
Dallagnol ressaltou que a investigação se debruçou por um largo momento sobre os crimes praticados na Petrobras e quem estava à frente da estatal eram pessoas indicadas pelo "partido no poder".
– A investigação continua evoluindo e é possível e até provável que as outras frentes que estão se desenvolvendo revelem crimes praticados por uma série de outros partidos que até então não estavam implicados – disse. Acrescentou que, se o STF decidir que esses casos devam ser investigados aqui em Curitiba, o tratamento dado será idêntico ao dado aos outros casos.
Sobre as dez medidas contra corrupção propostas pelo MPF e rejeitadas no Congresso Nacional, Dallagnol disse que, caso voltem à Câmara, acredita-se "que as medidas poderão ser reavaliadas com mais calma e profundidade. Sobretudo considerando que quando elas tramitaram na comissão especial, elas foram aprovadas na sua maior parte".