Após depor por três horas perante o juiz Sergio Moro, na Justiça Federal em Curitiba, o ex-presidente da Câmara e ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) leu uma carta de próprio punho na qual afirma que tem um aneurisma – como o que vitimou a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva – e que não tem condições de se tratar na prisão onde está detido atualmente.
A audiência desta tarde foi o primeiro interrogatório do peemedebista diante de Moro e começou por volta das 15h. Responsável por aceitar o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), ele levou um calhamaço de folhas para a audiência em Curitiba.
– Gostaria de dizer que também sofro do mesmo mal que acometeu a ex-primeira-dama Marisa Letícia: um aneurisma cerebral. Aproveito para prestar minha solidariedade à família pelo passamento. O presídio onde ficamos não tem a menor condição de atendimento se alguém passar mal. São várias as noites que os presos gritam, sem sucesso, por atendimento médico e não são ouvidos pelos poucos agentes que lá ficam à noite.
Até então, Cunha havia adotado o silêncio como estratégia. Oficialmente, ele não deu qualquer sinal à Polícia Federal e Ministério Público Federal de que quer colaborar com as investigações. Mas, logo após ser preso, contratou o criminalista Marlus Arns, de Curitiba, responsável por algumas das delações da Lava-Jato.
Nesta terça-feira, a defesa de Cunha protocolou um pedido de liberdade para o deputado cassado.
– A defesa já fez um pedido por escrito. Considerando o fim da instrução processual, nós pedimos que seja revogada a prisão preventiva dele e que, se for o caso, que ele atenda outras situações cautelares. E foi dito na audiência que se o juiz resolver colocá-lo em prisão domiciliar, ele se ofereceu para ficar em Curitiba, já que o processo tramita aqui, ficando aqui até o final do processo – disse Arns.
Nesta ação, a segunda em que Cunha é réu na Lava-Jato, o deputado cassado é acusado de ter recebido em suas contas na Suíça propinas de ao menos R$ 5 milhões referentes à aquisição, pela Petrobras, de 50% do bloco 4 de um campo de exploração de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011. O negócio foi tocado pela Diretoria Internacional da estatal, cota do PMDB no esquema de corrupção.
O Ministério Público Federal (MPF) sustenta que parte destes recursos foi repassada para Cláudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha, também em contas no Exterior – a transação está sendo investigada em outra ação, específica contra a mulher do peemedebista.
*Estadão Conteúdo