Com dezenas de ambulâncias perfiladas no Parque de Exposições Assis Brasil e cercado por políticos aliados, o presidente Michel Temer faz na manhã desta segunda-feira, em Esteio, o primeiro de uma série de anúncios planejados para 2017. A entrega dos veículos a 61 prefeitos gaúchos integra uma ofensiva do Palácio do Planalto, que intensifica as viagens do peemedebista, a fim de reverter sua baixa popularidade – 51% dos brasileiros consideram a gestão do presidente ruim ou péssima, conforme última pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em dezembro.
Em sua primeira visita oficial ao Estado desde que assumiu a Presidência, há quase oito meses, Temer desembarca na Região Metropolitana acompanhado dos ministros Osmar Terra (Desenvolvimento Social) e Ricardo Barros (Saúde) e do deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). A comitiva será recepcionada pelo ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e pelo governador José Ivo Sartori.
A solenidade de entrega das ambulâncias para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de 61 municípios está programada para as 10h30min. Antes, o presidente deverá sobrevoar a região de Rolante, atingida por inundação na última sexta, e possivelmente se encontrar com o prefeito do município, Ademir Gomes Gonçalves, às 10h, na localidade de Alto Rolante.
Leia mais
Ambulâncias que serão entregues por Temer chegam ao Estado
Temer vem ao RS na segunda e distribuirá ambulâncias
Cármen Lúcia e Michel Temer discutem crise em presídios
Novo mandatário de Porto Alegre, Nelson Marchezan discursará em nome dos prefeitos, que devem receber das mãos de Temer as chaves dos veículos. Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o gaúcho João Gabbardo dos Reis também ganhará uma chave, que representa outras 279 ambulâncias distribuídas no país.
Pelo receio de protestos, o parque terá acesso restrito. Só entrarão convidados. A plateia será dominada por parlamentares, prefeitos e vereadores de partidos da base de Temer. Após o evento em Esteio, o presidente deverá viajar a Portugal para participar do funeral do ex-primeiro ministro português Mario Soares.
A viagem do presidente na segunda semana do ano faz parte de uma estratégia definida no final de 2016. Com aprovação baixa, economia em recessão e citado na delação da Odebrecht, o peemedebista preparou uma "agenda positiva". A intenção é passar a imagem de que seu governo não é refém da Operação Lava-Jato. Por isso, lança medidas populares para dar equilíbrio ao cardápio de austeridade, capitaneado pelo teto de gastos e a reforma da Previdência.
Planalto construiu agenda de anúncios
Em novembro, os ministérios repassaram ao Planalto um inventário de ações. O presidente e seus auxiliares mais próximos elencaram as principais e construíram um calendário de anúncios, que se intensificou em dezembro com a missão de garantir "uma boa notícia por semana". O palácio gostou da repercussão da liberação dos saques das contas inativas do FGTS e da promessa de reduzir o juro do cartão de crédito.
– Vencida a fase das medidas estruturais, de ajuste fiscal, o governo ingressou na fase das medidas conjunturais, com objetivo de incrementar a atividade econômica para gerar emprego e aumentar a arrecadação – destaca Eliseu Padilha.
Para divulgar a agenda, conselheiros convenceram Temer a circular mais pelo país. Em mais de 120 dias de gestão, ele priorizou solenidades com empresários e políticos, a maioria em São Paulo. Na última semana de 2016, o presidente anunciou em Maceió (AL) recursos para construção de cisternas e microaçudes. Antes, esteve em Mogi das Cruzes (SP) para entregar 420 apartamentos do Minha Casa Minha Vida. Na oportunidade, afirmou que o governo deve concluir 500 mil novas residências do programa em 2017.
A ideia de Temer é "rodar o país". Para as próximas semanas, está previsto um evento no Centro-Oeste com a entrega de títulos de propriedade a assentados da reforma agrária. O Planalto ainda trabalha na formatação de uma nova faixa do Minha Casa Minha Vida. Em fevereiro, deve ser lançada a estratégia nacional de inclusão produtiva para jovens e adultos. Para o mesmo mês, está programado o início das visitas do Criança Feliz, voltado ao cuidado de bebês de famílias do Bolsa Família.
Nova frota substitui veículos em uso há mais de cinco anos
Com a substituição de 61 das 225 ambulâncias do Samu no Estado, o Ministério da Saúde atende a um pedido antigo dos prefeitos e retira do serviço dezenas de veículos que passavam longas temporadas nas oficinas, com alta no custo de manutenção para os municípios.
– Quanto mais antigas as ambulâncias, mais tempo ficam paradas. Essa troca é emergencial, porque muitas chegaram ao Estado em 2009 e 2010 – afirma o ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, ex-secretário de Saúde do Estado.
Pelas regras do governo federal, as prefeituras pedem a substituição dos veículos quando completam 200 mil quilômetros rodados ou três anos de uso. A nova leva a ser entregue hoje era solicitada desde março de 2015 – muitas dessas unidades rodam há mais de cinco anos.
As novas ambulâncias irão para 61 municípios – uma por cidade –, sendo que 54 receberão unidades básicas e sete ficarão com UTIs móveis, que funcionam com a presença de um médico a bordo. Com a ação, o ministério renova 27% da frota do Samu no Estado, que também dispõe de 18 motolâncias, 10 veículos de intervenção rápida e um helicóptero.
Presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Luciano Pinto comemora a substituição e espera que novas levas sejam entregues a outras cidades. Pinto também aguarda revisão dos valores repassados por Estado e União para auxiliar no custeio da operação das ambulâncias. Segundo a Famurs, desde maio de 2014 o Piratini atrasa repasses referentes ao Samu aos municípios, em um total estimado de R$ 27 milhões.
– A frota não está sucateada, mas exige manutenção. Pelas regras do Samu, o município deveria custear 25% de cada unidade, mas acaba ficando com 60% da conta. O valor dos repasses também está defasado há anos, sem acompanhar altas como a do combustível – explica.
REFORÇO À SAÚDE
Temer fará a entrega de 61 ambulâncias para municípios gaúchos. Como são os veículos:
54 unidades básicas
– Equipe: técnico em enfermagem e motorista
– Repasses mensais para custeio: R$ 10,2 mil (RS) e R$ 13,1 mil (Ministério da Saúde)
– Valor de compra: R$ 150 mil
7 UTIs móveis
– Equipe: médico, enfermeiro e motorista
– Repasses mensais para custeio: R$ 90 mil (RS) e R$ 30,5 mil (Ministério da Saúde)
– Valor de compra: R$ 297 mil
O Samu no RS
– Abrange 276 municípios
– Frota: 225 ambulâncias (sendo 187 unidades básicas e 38 UTIs móveis), 18 motolâncias, 10 veículos de intervenção rápida e um helicóptero
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde