O presidente Michel Temer aterrissou ao meio-dia desta segunda-feira, na Argentina, país da região que mais rapidamente reconheceu a legitimidade de seu governo após o impeachment de Dilma Rousseff. É a primeira visita bilateral de Temer – ele foi à China e aos EUA para reuniões do G-20 e da ONU. A viagem inclui uma passagem pelo Paraguai, antes do regresso a Brasília.
Acompanhado de cinco ministros, Temer seguiu diretamente para a Quinta de Olivos, residência oficial de Mauricio Macri. Os dois assinariam um acordo de facilitação do comércio e um de estímulo a pequenas e médias empresas, mas o principal objetivo da visita é uma reaproximação que reverta uma tendência negativa. O comércio bilateral caiu 46% nos últimos cinco anos, segundo a consultoria Abeceb.
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A jornais argentinos, Temer disse, em entrevista publicada no domingo, pensar parecido com Macri. O líder argentino elogiou a jornais brasileiros, na semana passada, a institucionalidade do processo de impeachment.
Entre funcionários de alto escalão da embaixada brasileira em Buenos Aires, a viagem era considerada imprescindível e ocorreu na primeira janela possível após as passagens por China e EUA. A duração inferior a cinco horas teria relação com o processo eleitoral no Brasil e o perfil do convite. A diplomacia brasileira reconhece que a escolha dos destinos dentro do Mercosul está ligada ao apoio político a Temer. O Uruguai, que admitiu a legalidade do governo mas considerou "injusta" a saída de Dilma, ficou de fora.
Ao receber Temer na residência oficial, e não na Casa Rosada, Macri afastou o encontro ainda mais da pompa requerida por uma visita de chefe de Estado, que em geral exige ida do convidado a sedes de outros poderes. Também distanciou o visitante de protestos programados para a Praça de Maio, em frente da sede presidencial, a 17 quilômetros de Olivos.
Ao saber que Temer não passaria pela Casa Rosada, os manifestantes transferiram a primeira parte do protesto para a porta principal de Olivos. Eles penduraram uma faixa com a inscrição "Fora Temer" no muro e espalharam ratos de brinquedo na calçada. Na Praça de Maio, planejavam costurar pedaços de tecido no formato de países sul-americanos. Um grupo de lutas se apresentaria na praça com o lema "golpe, só de capoeira".
Os militantes brasileiros enfrentavam um dilema. Admitiam precisar do apoio dos esquerdistas argentinos, mas não queriam cartazes de "Fora Macri" na manifestação.
– Não gostamos do Macri, mas ele foi eleito. Tira o sentido estar perto do 'Fora Temer' – disse uma das líderes da manifestação que sugeriu, por segurança, atacar o "neoliberalismo".
Outro problema do grupo era de sincronia. O reforço da militância kirchnerista e de sindicatos só chegaria à Praça de Maio às 18h. A esta hora, Temer já estaria no Paraguai.
Assunção deu forte respaldo aos primeiros dias de Temer, principalmente no posicionamento contra a chegada da Venezuela à presidência temporária do Mercosul. A comitiva brasileira se reuniria e jantaria com o presidente paraguaio, Horacio Cartes, antes de voar para Brasília.
Pelo perfil dos ministros que acompanham Temer – Indústria e Comércio, Defesa, Justiça, Segurança Institucional e Relações Exteriores – assuntos ligados ao controle de fronteira estariam entre as prioridades na passagem pelos dois países. A negociação do tratado de livre comércio com a União Europeia e a aproximação com a Aliança do Pacífico também estavam no centro das discussões.
Possível ponto de atrito. Um programa argentino de crédito tributário a empresas do setor automotivo preocupa a indústria brasileira. Alegando prejuízos com o Inovar Auto, plano brasileiro que concede desconto de até 30 pontos porcentuais do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) às indústrias que utilizam conteúdo local e investem em melhoria tecnológica, os argentinos criaram um programa que concede bônus tributário de 4% a 15% à indústria local e incentiva o uso de componentes nacionais.
Esse programa poderá deixar os carros fabricados na Argentina até 18% mais baratos do que os brasileiros.
Segundo o jornal Clarín, os brasileiros tentariam convencer os argentinos a adquirir aviões da Embraer para a frota presidencial de Macri – sucateada durante o kirchnerismo.
*Estadão Conteúdo