A atuação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como principal fiador das propostas do governo tem preocupado líderes de partidos da base aliada. Ao assumir a dianteira das articulações dos projetos de interesse do Palácio do Planalto, Maia tem sido visto na Casa como verdadeiro "líder do governo", posto que oficialmente é ocupado por André Moura (PSC-SE).
Parlamentares dizem acreditar que a "rusga" entre Maia e Moura pode, no futuro, atrapalhar a aprovação de propostas importantes para o governo. O estremecimento entre os dois começou com a disputa pela liderança do governo na Casa, logo que o presidente Michel Temer assumiu interinamente a Presidência da República, em maio.
Leia mais
Temer embarca para viagem de sete dias à Índia e ao Japão
Presidente diz que PEC do teto dos gastos poderá ser revista em 4 ou 5 anos
"São profetas do apocalipse", diz ministro da Saúde sobre críticos da PEC do teto
Apadrinhado pelo deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Moura levou a melhor porque tinha também o apoio do Centrão – maior grupo da base aliada, formado por 13 partidos, e liderado por PP, PSD, PTB e PR. Na sequência, Cunha renunciou à presidência da Câmara e Maia foi eleito para um mandato-tampão.
Na ocasião, o deputado do DEM teve respaldo da atual oposição (PT, PCdoB e PDT) e do bloco formado por PSDB, DEM, PSB e PPS para derrotar o líder do PSD na Casa, Rogério Rosso (DF), candidato apoiado por Moura e pelo Centrão.
Experiência
Nos bastidores, parlamentares dizem que Moura não tem habilidade para a função e que Maia assumiu automaticamente a articulação política por ser mais experiente, além de ter mais acesso a Temer e seus ministros. Logo ao assumir, Maia aproveitou a boa relação com a oposição para se cacifar com o Planalto. Em projetos como o da renegociação da dívida dos Estados, atuou informalmente como líder do governo e entrou diretamente na negociação com aliados e opositores.
Já na PEC do Teto, partiu de Maia a organização de encontros com deputados e economistas para convencer a base aliada a votar a favor da matéria. Moura ficou como coadjuvante. A aprovação em primeiro turno por 367 votos, nesta semana, trouxe uma breve harmonia, mas, no dia seguinte, a relação ruim ficou novamente exposta após impasse na votação do projeto de repatriação.
Piora
A relação entre Maia e Moura esteve estremecida na tramitação do projeto de repatriação, do qual o presidente da Câmara é fiador. Semana passada, Maia ficou contrariado com a atuação de Moura e do secretário da Receita, Jorge Rachid, para desfazer mudanças que ele havia articulado.
– Se essa arrecadação vier abaixo do que está se esperando, o governo não vai fechar a conta. O grande conflito era "foto" ou "filme". Agora, o governo quer de novo filme, então não trate a gente como palhaço – disse Maia na ocasião.
O presidente da Câmara acusou Moura por não conseguir votar o projeto na terça-feira. O líder do governo não ajudou a mobilizar quórum e Maia ficou nas mãos do PT, que se recusou a fazer acordo para votação simbólica, inviabilizando a aprovação da matéria. Na avaliação de aliados de Maia, Moura cruzou os braços propositalmente.
Questionado pelo jornal O Estado de S. Paulo, Moura negou atritos com Maia e disse que sua relação com o presidente da Câmara é "muito boa".
– Minha missão é aprovar as matérias do governo. Todas estão sendo aprovadas. Quem deve estar satisfeito ou não com o meu trabalho é o presidente Michel Temer. Não tenho ciúmes – afirmou.
Para aliados de Maia, mesmo com a disputa, não interessa ao presidente da Câmara substituir o líder do governo agora. Segundo eles, Moura poderia ser trocado por algum parlamentar de maior "estatura" política e poder de articulação no Centrão, o que fortaleceria o grupo na eleição à presidência da Casa, em fevereiro de 2017.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.