O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta segunda-feira, ao deixar a cerimônia de posse da ministra Cármem Lúcia como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ensinou ao país que ainda é preciso aprender "muito para consolidar o nosso processo democrático".
– O impeachment consagrado apenas por conta de uma maioria política eventual, sem levar em conta a inexistência de crime de responsabilidade, é crime, é grave – disse, ressaltando que todos os parlamentares, tanto na Câmara como no Senado, sabem que não havia base legal para afastá-la. – Não tinha um crime que pudesse referendar aquilo. É um alerta pra gente aperfeiçoar o nosso processo democrático. A democracia é uma construção constante, não tem limite – completou.
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Questionado se pretende conversar com o presidente Michel Temer em algum momento, Lula disse que, "se algum dia for necessário", mas que não acredita que isso é viável neste momento.
– Se algum dia for necessário conversar com qualquer pessoa, eu conversarei. Não acho necessário neste momento. Acho que primeiro precisamos arrumar as coisas dentro do PT – afirmou.
Lula disse ainda que o PT vai ter que reaprender a fazer oposição.
– Aqui no Brasil, muita gente exige que a oposição contribua com o governo. Nos Estados Unidos, os republicanos fazem oposição oito anos aos democratas e os democratas fazem oposição oito anos aos republicanos e ninguém se queixa. Ou seja, é normal, é da vida democrática. Eu acho que o PT vai ter que fazer oposição, vai ter que brigar – afirmou, ressaltando que obviamente o partido avaliará temas que são interesses do conjunto da sociedade.
Enquanto Lula dava as declarações à imprensa, um pequeno grupo de manifestantes gritava palavras de ordem contra ele e pedia a sua prisão. Questionado se não se incomodava, Lula disse que nasceu na vida política fazendo manifestação.
– Tudo o que eu quero na vida é que o povo se manifeste quantas vezes quiser – disse.
O ex-presidente disse ainda que acredita que os movimentos de rua contrários ao governo Temer devem durar "muito tempo".
– Eu acho que isso vai perdurar, porque uma parcela da sociedade brasileira continua indignada. Obviamente que o Temer vai ter que fazer um exercício muito grande como presidente para fazer com que esse país saia da crise econômica que ele está submetido – completou.
Lula comentou ainda a polêmica envolvendo o reajuste do Judiciário e afirmou que todas as categorias que merecem reajuste devem ter reajuste.
– Eu fui presidente da República e partia do seguinte pressuposto: o dia que não puder dar aumento real de salário, eu vou dizer que não posso dar aumento real, mas a reposição inflacionária é obrigação de todos nós porque significa a perda de poder aquisitivo do trabalhador. De qualquer poder, seja da presidência, metalúrgico – afirmou. – A reposição inflacionária é um direito das pessoas. O que não pode é você ficar dizendo que é preciso diminuir o custeio e fazer reajuste exagerado para qualquer categoria, pública ou privada. Acho que, se o Brasil precisa de sacrifício, é importante fazer sacrifício.
Lula disse ainda que o governo não pode tentar resolver problemas da crise "mexendo em direitos dos trabalhadores".
– É inaceitável – finalizou.