Michel Temer vislumbra ser efetivado como presidente da República até o final deste mês. A intenção do Palácio do Planalto é de que o julgamento de Dilma Rousseff comece em 23 de agosto, no Senado, em sessão que poderá durar cerca de cinco dias. Nos planos de Temer, ele entrará em setembro garantido no comando do país até dezembro de 2018 e abrirá fase de gestão focada em reformas.
Na madrugada de quarta-feira, depois de quase 17 horas de debates, o Senado colocou, por 59 votos favoráveis e 21 contrários, Dilma na condição de ré por crime de responsabilidade. Agora, resta apenas a última etapa do processo de impeachment para que ela seja cassada.
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No alto escalão do governo interino, o placar foi visto como "demonstração de força" e "pá de cal para Dilma". Em comparação com a sessão que avaliou a admissibilidade do processo e afastou a petista, em maio, Temer ganhou quatro votos. Dilma perdeu um. Hoje, o Planalto tem cinco apoios além dos 54 exigidos para condenar a presidente afastada.
E as previsões são de que terá entre 60 e 61 senadores no derradeiro duelo, incluindo Renan Calheiros (PMDB-AL).
– É muito difícil que haja algum fato que mude, em tese, esse resultado. É uma página que tem de ser virada para que o país possa se reorientar e voltar a crescer – afirma o ex-ministro Romero Jucá (PMDB-RR), alvo de investigações da Operação Lava-Jato e principal articulador de Temer no Senado.
Com o momento favorável, a intenção é acelerar. Ontem, a acusação entregou as alegações finais e a lista de testemunhas para o julgamento. Foi utilizada metade do prazo de 48 horas para cumprir esse rito. O período para que a defesa de Dilma apresente a mesma documentação se encerra na sexta.
Temor com novas revelações da Lava-Jato
Três motivos explicam a celeridade imprimida pelos aliados de Temer, embora dois sejam admitidos publicamente. Um deles é deixar a condição de presidente em exercício.
– O Michel vive a angústia da interinidade. (Se assumir em definitivo,) ganha outra estatura para tocar as coisas que precisam ser feitas. A prioridade é aprovar a PEC 241 (teto de gastos para o setor público). Ainda em outubro, ele encaminha a reforma da previdência e a trabalhista – diz o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), vice-líder do governo na Câmara.
O ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, diz que "a chave do sucesso do Michel é a questão econômica e, para isso avançar, são necessárias medidas duras que não irão passar em período de interinidade".
Outra causa para finalizar o impeachment é o desejo de Temer de participar da próxima reunião do G20, no início de setembro, na China, já na condição de presidente em definitivo.
O terceiro item, evitado publicamente, é o avanço da Lava-Jato. A informação de que a Odebrecht teria relatado, em negociações de delação premiada, ter pago R$ 10 milhões ao PMDB a pedido de Temer acendeu o sinal amarelo.
Com o manto da presidência, ele não poderá, por determinação da lei, ser investigado por atos pretéritos. Algo que petistas definem como "blindagem". Passado o impeachment e a eleição municipal de outubro, Temer também poderá fazer adequações políticas e avaliações de desempenho da equipe ministerial.