O ministro das Relações Exteriores, José Serra, afirmou nesta quarta-feira que a Venezuela não assumirá a presidência do Mercosul porque é um país governado "por um regime autoritário" e não reúne as condições para presidir o Bloco.
– A Venezuela não vai assumir o Mercosul, isto é certo – disse Serra a jornalistas após receber líderes opositores venezuelanos no Palácio do Itamaraty, em Brasília.
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– A Venezuela vive sob um regime autoritário, não democrático. Um país que tem presos políticos não pode ser um país democrático – declarou o ministro, que recebeu o deputado Luis Florido e a mulher do líder opositor Leopoldo López, condenado a 14 anos de prisão por fomentar a violência durante a onda de protestos contra Maduro em 2014.
– Estamos buscando uma fórmula, que tem que ser encontrada, para poder levar o Mercosul até dezembro para que em janeiro assuma o presidente (argentino, Mauricio) Macri – declarou Serra, que desde que assumiu a pasta tem adotado um tom duro com o governo de Nicolás Maduro.
O Mercosul atravessa sua pior crise em anos diante da negativa de Brasil, Paraguai e Argentina em admitir a presidência temporária da Venezuela, devido à crise política que abala o país caribenho. Serra avaliou que a entrada da Venezuela no Mercosul, em 2012, foi "através de um golpe", porque ocorreu enquanto o Paraguai - que rejeitava a admissão de Caracas – estava temporariamente suspenso do Bloco devido a uma crise política interna.
O ministro manifestou seu apoio aos opositores venezuelanos e disse que "todos os países democráticos do mundo" devem pressionar o governo de Maduro para que o referendo revogatório de seu mandato seja realizado este ano, e não em 2017, como sugere o calendário anunciado recentemente pelas autoridades eleitorais da Venezuela.
– Rejeito este governo autoritário, quando ressurgir a democracia, a Venezuela poderá contar com o Brasil para sua reconstrução – declarou.
Há três semanas, o Uruguai concluiu seu período na presidência do Mercosul e defendeu a entrega da liderança à Venezuela, dentro do critério de ordem alfabética. Apesar da oposição de Brasil, Paraguai e Argentina, Caracas içou a bandeira do Mercosul na capital venezuelana para simbolizar o início do seu período na presidência do Bloco.
Mal-entendido desfeito
Serra afirmou que as relações com o Uruguai "voltaram à normalidade" após o breve mal-estar por uma suposta pressão do Brasil envolvendo a crise no Bloco.
– O chanceler uruguaio (Rodolfo Nin Novoa) me telefonou há pouco e disse que os fatos divulgados ontem não passaram de um mal-entendido. Tudo voltou ao normal – destacou Serra.
A chancelaria uruguaia emitiu um comunicado destacando que houve um mal-entendido sobre a proposta brasileira de efetuar atividades conjuntas de promoção comercial entre os dois países em terceiros mercados, e que agora ficou perfeitamente claro que a mesma não tem relação alguma com a consideração da transferência da presidência pro tempore do Mercosul.
Na terça-feira, em um fato sem precedentes em décadas, a chancelaria convocou o embaixador uruguaio em Brasília para que desse explicações sobre as declarações do ministro Nin Novoa, que acusou o Brasil de querer mudar a posição de Montevidéu sobre a transferência da presidência pro tempore do Mercosul para a Venezuela, oferecendo-lhe participar de negociações com terceiros países.O Brasil "recebeu com profundo mal-estar e surpresa as declarações do chanceler Nin Novoa sobre a visita do ministro José Serra ao Uruguai", em julho, anunciou o Itamaraty.
*AFP