Coube à advogada de acusação Janaína Paschoal fazer a abertura dos últimos debates no julgamento final da presidente afastada Dilma Rousseff, na manhã desta terça-feira, no plenário do Senado. Se Dilma teve momentos de emoção na sua manifestação de segunda-feira, Janaína também marejou os olhos. Nas suas derradeiras palavras, embargou a voz e disse que trabalhou pelo impeachment, entre outros motivos, "pelos netos dela (Dilma)".
– Finalizo pedindo desculpa para a senhora presidente. Não por ter feito o que fiz, não poderia me omitir, mas porque a situação dela não é fácil. Não era meu objetivo, mas lhe causei sofrimento. E espero que, um dia, ela entenda que fiz isso também pensando nos netos dela – disse Janaína.
Aplaudida pelos favoráveis ao afastamento de Dilma, Janaína teria sido chamada de "golpista" pelo deputado federal José Guimarães (PT-CE), ex-líder do governo na Câmara que assiste a sessão no plenário do Senado. O episódio causou tensão. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) tomou o microfone, denunciou a fala que ele atribuiu a Guimarães e foi contundente nas respostas. Disse que "não tem medo do PT" e que "golpistas são vocês que saquearam a Petrobras". O tucano ainda pediu que a polícia legislativa pudesse retirar o petista do plenário, o que acabou não ocorrendo. Depois, ainda exaltado, fez gestos bruscos com o braço direito e com o dedo indicador em riste:
– Aqui, não – repetia Aloysio.
A senadora Vanessa Grazziotin (PC do B) fez o contraditório, após pequena pausa na sessão, e considerou desproporcional a manifestação do senador tucano.
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Na manifestação da acusação, Janaína iniciou recuperando a peça inicial de pedido de impeachment apresentada por ela e pelos advogados Hélio Bicudo e Miguel Reale. Lembrou que, entre as denúncias originais, estava o escândalo da Petrobras, que "atingiu pessoas muito próximas da presidente", disse Janaína, em uma tentativa de reforçar a tese do "conjunto da obra".
A advogada ainda disse que Dilma praticou "estelionato eleitoral" ao aumentar gastos em 2014, ano de eleição, a partir do atraso de pagamentos para os bancos públicos e maquiagem das contas. Esse é um dos motivos do julgamento de Dilma, por crime de responsabilidade.
– Não me parece honesto dizer para o povo que existe dinheiro para programas sociais quando eles já não existem – afirmou Janaína, apontando os cortes que ocorreram em 2015, já com a crise econômica em aprofundamento.
No arremate, Janaina, que ganhou notoriedade ao longo do processo, declarou que quer "voltar para a tranquilidade do anonimato".
Depois da acusação, falou, pela defesa de Dilma, o advogado José Eduardo Cardozo. Superada esta fase, os senadores inscritos terão 10 minutos cada para fazer o último pronunciamento. A ideia do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, é terminar os discursos nesta terça-feira. A votação decisiva do impeachment deverá ficar para a manhã de quarta-feira.