Um vídeo divulgado pela revista Veja, em posse da Polícia Civil de São Paulo, mostra o chefe de gabinete do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), Talma Bauer, negociando o silêncio da jornalista Patrícia Lélis, que acusa o parlamentar de assédio, tentativa de estupro e agressão.
Na gravação, de 30 de julho, feita no Hotel San Rafael, Bauer pergunta se o dinheiro que entregou a um conhecido de Patrícia seria suficiente para ela "se resolver". Patrícia dá a entender que recebeu uma quantia menor do que a que Bauer se refere, de R$ 50 mil. Até então, o caso de assédio ainda não havia se tornado público.
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De acordo com a revista, a jornalista também denunciou Bauer, por sequestro e ameaça, crimes que já foram descartados pela polícia de São Paulo. Patrícia ficou hospedada por uma semana no hotel onde o diálogo foi gravado e recebeu a visita da mãe e do irmão. Para os investigadores, esses são indícios de que ela não foi mantida em cárcere privado, como afirma. Não é possível, pelo vídeo, concluir se houve ou não o crime de estupro.
Ainda conforme a publicação, a polícia considera a gravação prova de que a jornalista e o chefe de gabinete de Feliciano mentiram em seus depoimentos. O inquérito apura a conduta de Bauer, e não as acusações da jovem contra o deputado. Agora, tanto Patrícia quanto o assessor podem ser indiciados. Ela, por extorsão e falsa comunicação de crime; ele, por favorecimento pessoal.
Telefonema de Feliciano
Um segundo vídeo reforça os indícios de que o deputado e sua equipe negociavam para que a jornalista desmentisse as acusações. Nas imagens, divulgadas pela Coluna Esplanada, do portal UOL, o assessor Talma Bauer entrega um celular a Patrícia e afirma: "É o Marco".
À coluna e à Polícia do Distrito Federal – que apura as acusações contra o parlamentar –, a jornalista afirmou que Feliciano pediu, no telefonema, para que ela caprichasse no vídeo em que desmentiria as acusações de assédio. Nessa ligação, segundo Patrícia, o deputado teria dito: "Oi, tudo bem com você? Grava o vídeo direitinho, tá bom? Me ajuda porque tenho família". Emerson Biazon – que se apresenta como assessor do PRB e gravou a conversa entre a Patrícia e Bauer – confirma que o deputado telefonou e pediu "atenção especial" para o vídeo que ela gravaria, mas "em nenhum momento a ameaçou".
Entenda o caso
- Em boletim de ocorrência registrado no último domingo, a estudante de jornalismo Patrícia Lelias, 22 anos, acusa o deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) de assédio sexual, tentativa de estupro e agressão, que ocorreram, segundo ela, no dia 15 de junho, no apartamento funcional do parlamentar na capital federal.
- Segundo Patrícia, o deputado a havia convidado para uma reunião. Quando chegou lá, Feliciano estava sozinho e teria dito que desejava conversar com ela a sós. Patrícia afirma que o parlamentar propôs que ela fosse sua amante em troca de um salário de R$ 15 mil para ocupar uma posição dentro do partido.
- Diante das supostas agressões, Patrícia disse que começou a gritar e, segundo ela, uma vizinha do deputado tocou a campainha do apartamento para saber o que estava acontecendo. Nesse momento, a jovem diz ter conseguido escapar do local.
- Em entrevista coletiva na segunda-feira, a estudante afirmou que o presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo (RJ), e Talma Bauer, assessor de Feliciano, lhe ofereceram dinheiro quando ela procurou ajuda do PSC a respeito das acusações que pretendia fazer contra Feliciano.
- A jornalista é filiada ao PSC desde março e conhecida no YouTube por ser conservadora, religiosa e antifeminista.
As investigações
- A jornalista registrou boletim de ocorrência na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, na Asa Sul de Brasília, em que acusa o deputado de assédio, tentativa de estupro e agressão.
- O caso também é investigado em São Paulo pelo delegado Luiz Roberto Hellmeister, com foco na apuração de suposto sequestro e cárcere privado de Patrícia Lélis. Segundo o portal G1, no entanto, Hellmeister já descartou esta hipótese, já que, para ele, as imagens desconfiguram a situação de sequestro descrita por Patrícia, pois ela recebeu o namorado no hotel e aparentemente trata Bauer como amigo nas gravações.
- As polícias civis de SP e do DF passam a investigar o caso em relação à coação (para que ela gravasse vídeos a favor de Feliciano). Também será apurado se Patrícia cometeu o crime de calúnia pela denúncia de cárcere privado contra Bauer.
- A Procuradoria-Geral da República pedirá à Polícia Legislativa as imagens de vídeos das câmeras instaladas no prédio, corredores e elevadores onde mora o parlamentar.
- A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), procuradora especial da Mulher no Senado, protocolou junto ao Ministério Público do Distrito Federal um ofício no qual solicita que Feliciano seja investigado pela suposta tentativa de estupro.
- Na quarta-feira, um grupo de deputadas entregou ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), representação solicitando que o Conselho de Ética da Casa investigue o deputado por suposta quebra de decoro parlamentar. O documento foi assinado por 22 deputadas. Como apenas partidos políticos e o corregedor-geral da Câmara podem acionar o Conselho de Ética para investigar deputados, o caso terá de passar por análise da Corregedoria da Casa antes de, eventualmente, ser submetido ao conselho. Se for constatada quebra de decoro, o deputado pode vir a responder a um processo disciplinar que pode culminar em sua cassação.
- Além disso, a cúpula do PSC determinou a criação de uma comissão interna para apurar a suposta acusação de assédio sexual e agressão.