Na tentativa de quebrar a hegemonia do grupo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a ala majoritária do PT negocia o apoio ao candidato do DEM, Rodrigo Maia (RJ), para a sucessão à presidência da Câmara. Acompanhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se reuniu nos últimos dias com o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), a articulação política já divide o PT.
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A ideia é que a nova oposição - PT, PC do B e PDT - se una a antigos adversários, como DEM, PSDB e PPS, para enfrentar o Centrão, bloco que abriga cerca de 270 deputados e foi fundamental para aprovar o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.
A negociação também envolve o PSB.Para dirigentes da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), grupo de Lula, somente com essa estratégia será possível se contrapor ao presidente em exercício Michel Temer. Nos bastidores, o comentário é que Maia seria o único nome capaz de enfrentar o candidato do Centrão, que deve ser Rogério Rosso (PSD-DF), ligado a Cunha.
A bancada do PT, porém, rachou. Integrantes da tendência Mensagem ao Partido - segunda maior força no espectro ideológico do partido - e de outras correntes mais à esquerda não aceitam apoiar um nome do DEM. Argumentam que Maia votou a favor da deposição de Dilma e sempre fez oposição a Lula.
Esse grupo defende a candidatura de Marcelo Castro (PMDB-PI), que foi ministro da Saúde de Dilma e ficou contra o impeachment. Há também os que têm simpatia por Fernando Giacobo (PR-PR).
– A nossa preferência é por um candidato que tenha votado contra o impeachment, mas isso não é condicionante. Vamos apresentar uma agenda de pauta social e queremos um candidato com potencial de ir para o segundo turno – disse o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA).
Articulações
Não é apenas no PT, no entanto, que a articulação a favor de Rodrigo Maia causa polêmica. A deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ), pré-candidata à Prefeitura do Rio e adversária de Maia, é contra o acordo. Já o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), está conversando com o candidato do DEM. Ao mesmo tempo, Aécio emitiu sinais para o Planalto ao dizer que o PSDB pode não lançar concorrente a mandato-tampão na Câmara, desde que o governo apoie os tucanos para a presidência da Casa, em 2017.
A proposta não foi vista com bons olhos no Planalto. Nos bastidores, ministros do PMDB alegam que o partido não pode correr riscos – lembram que a gestão Cunha provou ao PT o quanto um presidente da Câmara pode desestabilizar o governo.
Waldir Maranhão fechou acordo com Rodrigo Maia. O presidente interino da Câmara demitiu o secretário-geral da Mesa Diretora, Silvio Avelino, porque não gostou de ver publicada no Diário da Câmara a decisão do colégio de líderes que antecipou de quinta-feira para terça a eleição de seu sucessor.
Para o lugar de Avelino, Maranhão nomeou Wagner Soares Padilha, que foi assessor da liderança do DEM. O secretário adjunto será Lourimar Rabelo, que é próximo de deputados do PT, como José Guimarães (CE).
Governo
O Planalto vê com preocupação o movimento para dividir a base aliada. Em conversas reservadas, ministros dizem que o governo não deixará Maia ir para "o lado de lá". Embora o discurso oficial seja o de que o Planalto não vai interferir na disputa da Câmara, nos bastidores há muitas negociações de cargos em andamento.
– Diante desse quadro, não faz sentido lançarmos uma candidatura apenas para marcar posição – afirmou o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), que defende o aval a Maia.
– Não vamos eleger o líder do governo Michel Temer. O que está em discussão aqui é quem defende a política feita à luz do dia e quem prega os métodos de Eduardo Cunha.
Para o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), não é hora de definir os candidatos à sucessão de Cunha por ideologia partidária.
– Nós queremos que o nome represente o conjunto da Casa", comentou.Maia disse ao Estado que só formalizará sua candidatura depois de costurar o apoio dos partidos de esquerda.
– Eu posso ser o nome que vai unificar a Câmara – observou ele.
*Estadão Conteúdo