Após renunciar à presidência da Câmara, o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) protocolou um aditamento ao seu recurso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) pedindo nova apreciação do processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa.
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A sessão da CCJ marcada para segunda-feira, na qual deveria ser votado o recurso, foi transferida para a terça. O argumento utilizado pelo peemedebista é que, ao deixar o comando da Câmara, sua condição foi alterada "profundamente", por isso a necessidade da revisão do resultado do conselho.
Na petição, o deputado afastado diz que o exercício do cargo foi um das razões de aprovação do pedido de cassação e que agora as circunstâncias mudaram, já que ele volta a ser apenas um deputado.
Aliado de Cunha, o presidente da CCJ, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), justificou o adiamento da sessão.
– Queremos evitar nulidade – afirmou.
Embora tenham comemorado a saída de Cunha do comando da Casa, adversários consideram a renúncia como tentativa de sensibilizar aliados e de desviar o foco do processo contra ele na Casa, que, após o anúncio, teve votação decisiva empurrada para depois do recesso parlamentar, que começa oficialmente em 18 de julho. Os trabalhos só voltarão em agosto.
– A saída de Cunha da presidência é a última tentativa de se salvar. Mas acho que a situação dele está insustentável – afirmou o deputado Ivan Valente (SP), líder do PSOL, um dos autores da denúncia contra o peemedebista.
Aliados negam acordo para salvar mandato
Líderes da oposição estão atentos aos próximos passos de Cunha, pois acreditam que ele influenciará fortemente na escolha do seu sucessor, a ser definido em eleição prevista para a próxima semana.
Parlamentares do PT e dirigentes do partido chamaram de “acordão” a decisão do adversário.
– Renúncia de Cunha tem cheiro de pizza e o cozinheiro responsável é Michel Temer. A cena do crime está montada: Cunha renuncia à presidência, mas mantém mandato. Com isso, passa a articular a candidatura do seu sucessor, que terá a missão de evitar a cassação do seu chefe. Tudo isso com a conivência de PSDB e DEM – publicou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) em uma rede social.
– O Planalto não tem interferência nenhuma nesse processo de renúncia – rebateu o líder do governo, André Moura (PSC-SE).
Para o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ), a eleição de aliado poderia facilitar a vida de Cunha na votação da cassação em plenário:
– Esse é um hábito dele, transformar derrotas em manobras.
Um dos principais aliados de Cunha, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) classificou a renúncia como “gesto de grandeza”, que permite eleição na semana que vem de novo presidente para não passar o “recesso com a Casa acéfala”:
– Não foi estratégia para salvar mandato, mas desejo que a CCJ tenha gesto de grandeza de entender seu papel e buscar a constitucionalidade na análise do recurso.
*Estadão Conteúdo