O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), criticou a ação da Polícia Federal, que prendeu o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, marido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). A Operação Custo Brasil, um desdobramento da Lava-Jato, fez busca e apreensão no apartamento funcional de Gleisi em Brasília.
– É um abuso. Um juiz de primeiro grau não tem autorização para busca e apreensão no apartamento funcional de uma senadora. Só quem poderia autorizar essa ação é o Supremo – afirmou Cunha Lima, que é advogado de formação, em referência ao Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta Corte do país.
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O senador confirmou que conversou com Lindbergh Farias (PT-RJ), um dos principais porta-vozes do PT no Senado, antes do início da sessão da comissão especial do impeachment na manhã desta quinta-feira. Durante a reunião, que já dura mais de quatro horas, ninguém fez qualquer comentário a respeito da ação da PF que atingiu a senadora e o PT.
– É um constrangimento. Por mais que o embate político seja duro, há uma família por trás disso. Não há motivo para tripudiar, não tenho razão para soltar fogos pela prisão de ninguém. Há um limite de embate político e de respeito à pessoa humana – afirmou Cássio.
O senador relembrou que, apesar das críticas, também foi contrário à condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao vazamento das gravações entre Lula e a presidente afastada Dilma Rousseff, que intensificaram os movimentos pró-impeachment.
Acordo
O tucano negou qualquer pacto de não-agressão entre os partidos no Senado após a ação da Polícia Federal. O PSDB também foi atingido ontem com a divulgação de um vídeo em que o ex-presidente do partido, Sérgio Guerra, negociava pagamento de propina para encerrar a CPI da Petrobras.
– Não houve nada combinado. Apesar de políticos, somos gente. ê preciso ter o mínimo de compreensão com a dor alheia. O silêncio dos senadores é um silêncio respeitoso – disse.
O tucano aproveitou para rebater as declarações de Lindbergh que, mais cedo, disse que a motivação da ação da PF era política e que estranhava o fato de ter acontecido em seguida ao caso Sérgio Guerra.
– Essas teorias conspiratórias só demonstram o grau de deslocamento da realidade. O PT faz com essas operações se transformem em chiclete e escolhem de que lado vão morder. Eles afirmam que a ação é correta ou política quando convém – acusou.
Bancada do PT
Composta por dez parlamentares, a bancada do PT no Senado divulgou uma nota de repúdio contra a prisão preventiva do ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo. Segundo os congressistas, houve "abuso de poder" na ação da Polícia Federal (PF), que "atenta contra o Estado Democrático de Direito".
Eles alegam que a residência oficial de Gleisi foi "invadida", na presença de seus filhos menores, sem a devida autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). Os senadores insinuaram que a ação da PF desta quinta busca acobertar fatos que atingem o governo do presidente em exercício, Michel Temer.
"A bancada estranha que tal prisão tenha ocorrido no momento em que a nação toma conhecimento de fatos gravíssimos de corrupção que atingem diretamente o governo provisório (...) Tal prisão e a invasão da sede do PT desviam o foco da opinião pública do governo claramente envolvido em desvios, para a oposição democrática, que sempre buscou a apuração de todos os fatos com isenção e transparência".
No manifesto, os congressistas demonstram solidariedade à Gleisi, que faz parte da tropa de choque da presidente afastada Dilma Rousseff na Comissão Especial do Impeachment. "A bancada dos senadores do PT manifesta apoio irrestrito a uma de suas senadoras mais atuantes na defesa da democracia e dos direitos do povo brasileiro, hoje ameaçados por um governo ilegítimo, autoritário e retrógrado".
Câmara
Em um dia de Câmara esvaziada por causa das festas juninas no Norte e no Nordeste, poucos deputados se manifestaram publicamente sobre a prisão do ex-ministro Paulo Bernardo. Para os parlamentares, a ação realizada nesta quinta-feira mostra que as investigações seguem fortalecidas.
Por meio de nota, o deputado e presidente nacional do PPS, Roberto Freire (SP), disse que as investigações da Operação Lava-Jato "continuam firmes" no combate à corrupção. "Essa nova operação para desbaratar mais este esquema de corrupção nos governos do PT demonstra que os trabalhos da Lava Jato contam com total apoio do presidente interino da República", afirmou Freire.
O líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), preferiu não entrar no mérito das acusações e limitou-se a dizer que a ação de hoje demonstra que o Ministério Público e a Justiça Federal estão "cada dia mais fortalecidos".
– Para todos os envolvidos tem de ser garantido o direito a ampla defesa – acrescentou.
*Estadão Conteúdo