Graças à boa vontade do Supremo Tribunal Federal, o ex-deputado Roberto Jefferson ganhou um bônus de três meses de liberdade em comparação com os demais condenados no processo do mensalão, a começar por seu arqui-inimigo José Dirceu. Midiático, garantiu foto nos principais jornais do país ao desfilar no fim de semana em sua Harley Davidson. E foi para a cadeia sem perder a pose.
- Caí de pé. Não me rendi, não me ajoelhei e fiz da minha maneira. Não sou melhor do que ninguém. Não foi à toa que fui eleito seis vezes deputado federal - disse aos jornalistas que faziam plantão em frente a sua casa.
Jefferson é um personagem e tanto. Delator de um esquema do qual seu partido, o PTB, foi um dos principais beneficiários, cunhou a expressão "mensalão" e deu um tom teatral a cada ato de sua controvertida trajetória. Livrou-se da obesidade mórbida com uma cirurgia de redução de estômago e, repaginado, enfrentou a CPI dos Correios e o julgamento do mensalão no papel do mocinho que pôs a nu um esquema que consistia em liberar dinheiro para aliados do governo. Fiel aos seus, nunca delatou os companheiros com quem dividiu o dinheiro que o PT repassou ao PTB.
O gosto pelos gestos teatrais vem dos tempos de advogado acostumado a enfrentar o tribunal do júri. Em Brasília, exibiu os dotes de tenor, soltando a voz como cantor de ópera, enquanto os jornalistas faziam plantão na frente de seu apartamento à espera de notícias.
No embate com Dirceu, proferiu uma das frases que entrariam para a história:
- Vossa Excelência provoca em mim os instintos mais primitivos.
Em uma das sessões da CPI, apareceu com um olho roxo, atribuído a um acidente doméstico até hoje mal explicado.
Já sem mandato, enfrentou um câncer de pâncreas e ainda está em tratamento. Na tentativa de escapar da prisão, seguiu o exemplo do petista José Genoino e foi além: justificou a necessidade de alimentação especial, inacessível na cadeia, como salmão defumado, geleia real e suco com água de coco.
Jefferson foi para a prisão convencido de que contribuiu para melhorar a qualidade da política. Disse que os políticos melhoraram seu comportamento com a fiscalização intensa da imprensa. Há controvérsias.