Livre da prisão há pouco mais de seis meses, irradiando alto astral e curtindo momentos de celebridade, o ex-ativista italiano Cesare Battisti circulou com desenvoltura na terça-feira pelo centro de Porto Alegre, onde permanecerá até sábado.
Pela manhã, o italiano cumpriu uma tarefa que idealizava há tempos: agradecer ao governador Tarso Genro pela concessão de refúgio político no Brasil. Em viagem patrocinada pelo Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro, Battisti está em Porto Alegre para o pré-lançamento, nesta quarta-feira, do romance Ao Pé do Muro, em evento integrado ao Fórum Social Temático 2012.
Na companhia de duas amigas cearenses do grupo Crítica Radical - ambas lhe prestavam solidariedade no período de reclusão -, o ex-ativista político Cesare Battisti conversou com Zero Hora por cerca de 30 minutos, ontem, no Mercado Público, sobre a vida após a prisão.
Zero Hora - O senhor conhecia Porto Alegre? O que está achando da cidade?
Cesare Battisti - É a primeira vez que venho aqui. Estou gostando muito da cidade.
ZH - As pessoas o reconhecem nas ruas?
Battisti - Alguns me reconhecem. No bairro onde moro, no Rio, todos os dias sou reconhecido por alguém.
ZH - O que faz no Rio?
Battisti - Estou trabalhando na livraria Martins Fontes. Leio livros para ver quais vale a pena traduzir, faço resenhas.
ZH - O que acha do Rio?
Battisti - Eu gosto, estou lá há dois meses. Me parece uma síntese do Brasil. Não é tanto pela praia, até porque existem outras mais bonitas. E eu não vou muito à praia. Mas respirar o ar do Rio é como uma elipse, eu apago o período de cadeia.
ZH - Pretende regressar à França, onde também foi refugiado?
Battisti - Não, isso é o que escreveram (na imprensa), mas quero ficar no Brasil. Na França tenho minhas duas filhas, mas estou esperando elas virem. Não se trata de uma escolha. Não posso mais sair do país.
ZH - E o seu agradecimento ao governador Tarso Genro?
Battisti - Tarso como homem, ministro e hoje governador é uma pessoa que mostrou ter um valor muito alto de ética e de coragem política. Quando ele teve de se expressar e decidir sobre o meu caso, mostrou tudo isso. Eu tinha muita vontade de conhecê-lo pessoalmente e de apertar a mão dele, como hoje aconteceu.
ZH - E ele lhe respondeu de que maneira?
Battisti - O governador desejou que eu fizesse bom proveito da liberdade. Que eu aproveitasse a generosidade do povo brasileiro.
ZH - O ex-presidente Lula esperou até o último dia de governo para manter o seu status de refugiado. Já agradeceu a ele também?
Battisti - Ele esperou o último dia, mas a decisão foi boa. Não conheço Lula, nunca o vi, mas também gostaria de apertar a mão dele. Agora infelizmente ele está com essa doença. Desejo que supere. Mas é claro que eu gostaria de encontrar com ele, com certeza.
ZH - A Itália ainda reclama a sua extradição por conta da acusação de quatro assassinatos.
Battisti - Desculpe, mas eu não posso me pronunciar sobre esse assuntos que envolvem questões políticas e jurídicas da Itália e do Brasil. Seria dar pretexto aos meus inimigos.
Ativista na Capital
"Tinha muita vontade de conhecer Tarso", diz Cesare Battisti
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