Pela segunda eleição municipal consecutiva, Porto Alegre recebeu o incômodo título de capital com o maior índice de abstenção do país. Dos quase 1,1 milhão de pessoas aptas a votar, 345.544 deixaram de comparecer às urnas neste domingo (6), o que corresponde a 31,51% do eleitorado. O contingente é ligeiramente maior do que os 345.420 votos que quase renderam uma vitória em primeiro turno a Sebastião Melo (MDB).
Mesmo abaixo dos 33,08% de abstenção registrados em 2020, no pleito realizado durante a pandemia de covid-19, o número de Porto Alegre superou o de outras capitais com grande índice de ausência, como Rio de Janeiro (30,58%) e Belo Horizonte (29,54%). No conjunto do país, a abstenção foi de 21,71%.
Até a tarde desta segunda-feira (7), a Justiça Eleitoral ainda não havia fornecido os dados detalhados sobre o perfil dos faltantes. No entanto, um dos fatores que pode ter influenciado nesse resultado é a quantidade proporcional de eleitores nas faixas etárias para as quais o voto não é obrigatório.
Esse grupo é formado por jovens de 16 e 17 anos e, principalmente, idosos com mais de 70 anos. A capital gaúcha é a segunda no país com maior percentual de eleitores nessa condição (15,78%), atrás do Rio (16,18%) e à frente de BH (14%) – justamente as três metrópoles com o maior índice de falta nas eleições deste domingo.
O cientista político Rodrigo Stumpf González aponta que o fato de o voto ser facultativo contribui para a ausência desse grupo de eleitores.
— Em alguns casos, o voto é visto mais como obrigação do que como direito pela população. Muitas vezes o deslocamento implica filas e em pegar ônibus, o que pode ser um fator de afastamento — ressalta González, professor do departamento de Ciência Política da UFRGS.
No caso de Porto Alegre, o professor avalia que houve dificuldade de mobilização dos eleitores, o que costuma ocorrer em eleições mais acirradas e com uma divisão ideológica marcante entre os concorrentes.
— Foi uma campanha morna, em que não foi possível perceber muita diferença no discurso e não houve tanta polarização no sentido ideológico ou de costumes. A expectativa de que Melo teria uma vitória relativamente fácil talvez tenha feito com que alguns de seus apoiadores não saíssem de casa — pondera Stumpf.
Por sua vez, o cientista político Carlos Eduardo Borenstein lembra que a abstenção na capital gaúcha cresceu em todas as eleições entre 1996 e 2020 e que, conforme tendência histórica, o índice deve cair no segundo turno.
— A campanha de Maria do Rosário deve fazer muitos apelos com relação a isso, porque precisa do eleitor que não compareceu para conseguir virar a eleição — afirma Borenstein, consultor da Arko Advice.
Os especialistas ainda mencionam que a facilidade em justificar o voto e o valor baixo da multa imposta aos ausentes são outros dois fatores que estimulam a abstenção.
Os cinco maiores índices de abstenção nas capitais
- Porto Alegre (RS): 31,51%
- Rio de Janeiro (RJ): 30,58%
- Belo Horizonte (MG): 29,54%
- Goiânia (GO): 28,23%
- Florianópolis (SC): 28,05%
O que acontece com quem não vota
- Como o voto é obrigatório no Brasil, o eleitor que não comparecer deve justificar a ausência em um prazo de 60 dias. O procedimento pode ser feito pelo site justifica.tse.jus.br.
- Quem não justificar a ausência está sujeito a pagar multa de R$ 3,51.
- Se o eleitor faltar em três votações consecutivas, tem a inscrição eleitoral cancelada. Nessa situação, fica impedido de emitir documentos como RG e passaporte, se inscrever em concursos públicos e concorrer nas eleições futuras.