Reconstrução é a palavra de ordem na eleição de Muçum, um dos municípios mais afetados pelo desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul. A diferença entre governo e oposição está nos meandros das propostas apresentadas para recuperar os lares, a economia e a vontade de viver no município de cerca de 4 mil habitantes que costeia o Rio Taquari.
Estimativas dão conta de que ao menos 500 casas foram destruídas em Muçum e cerca de mil pessoas deixaram a cidade — quase 25% da população local. No início de setembro, começaram a ser construídas pela iniciativa privada as primeiras casas direcionadas a quem ficou sem moradia pelo desastre natural.
Conhecido nacionalmente por liderar uma cidade atingida por cinco enchentes em oito meses, o prefeito Mateus Trojan (MDB) disputa a reeleição. Seu adversário é o vereador Marcos Bastiani (PSDB), engenheiro civil que atua há quatro décadas na cidade. No período pré-eleitoral, governo e oposição chegaram a conversar sobre um consenso, mas a ideia não avançou.
Como um dos principais trunfos na busca pela reeleição, Trojan apresenta o projeto de expansão urbanística da cidade, com os novos loteamentos planejados para abrigar quem perdeu a casa na enchente
—Nós temos claros os projetos de realocação das famílias que perderam suas casas, dos novos loteamentos do Batalhão, Cidade Alta 2, Cidade Alta 3 e loteamento industrial, dos parques que serão construídos nos locais totalmente destruídos, do cemitério, do auxílio aos produtores rurais, às empresas, da recuperação dos espaços públicos e preservação dos serviços essenciais — aponta o prefeito.
De sua parte, o opositor questiona o plano estruturado pela atual gestão e diz que há resistência em parte da população em deixar áreas atingidas.
— Quem perdeu a casa terá de assinar um papel dizendo que não poderá voltar (à moradia antiga). Há quem tinha uma casa de 150 metros quadrados em um terreno de 300 e agora receberia uma casa de 40 metros quadrados em um terreno de 180. Se essa pessoa tem parentes em outras cidades e recebe um convite para ir, pode criar a perspectiva de sair de Muçum — afirma Bastiani.
Planos diferentes para encarar futuras intempéries
Os dois concorrentes também apresentam providências para lidar com futuras intempéries. Trojan menciona a reconstrução da Ponte Brochado da Rocha, na ligação com Roca Sales, auxílios a produtores rurais e empresários e obras estruturais junto ao Taquari.
Por sua vez, Bastiani prega empenho na dragagem do rio e na definição de cotas mais precisas para lidar com enchentes, além de reforçar as encostas para prevenir deslizamentos e adaptar os prédios locais para lidar com as catástrofes, sem a obrigatoriedade da retirada de moradores de regiões atingidas.
A despeito do tom respeitoso adotado em debates e entrevistas, as alfinetadas também aparecem ao longo da campanha.
— Não é hora de vender ilusões ou demonstrar que as soluções são simples e rápidas. Desfazer o que está sendo feito é extremamente perigoso para a conclusão desse projeto de recuperação — diz Trojan.
— Nossa divergência é a forma como as coisas estão sendo tratadas. Temos uma visão mais serena do que o atual prefeito, que faz uma administração mais midiática — declara Bastiani.
Com a destruição em Muçum, três seções eleitorais foram realocadas na cidade — as de número 132, 135 e 136, que saíram da Escola General Souza Doca para a Escola Pingo de Gente (Rua Costa e Silva, 400).
Quem são os candidatos
Marcos Bastiani (PSDB)
Marcos Antonio Bastiani tem 69 anos, é casado e natural de Muçum. Formado em Engenharia Civil, tem atuação há décadas na cidade. Foi secretário de obras e cumpre o primeiro mandato como vereador em Muçum e concorre pela Federação PSDB/Cidadania. O candidato a vice é Alex Colossi (PSDB).
Mateus Trojan (MDB)
Mateus Giovanoni Trojan tem 29 anos, é solteiro e natural de Muçum. Bacharel em Educação Física, tem cursos na área de administração. Foi vereador de Muçum, é prefeito desde 2021 e concorre à reeleição pela coligação formada por MDB e PSD. O candidato a vice é Amarildo Baldasso (PSD).