Sensação das eleições municipais em todo o país ao adotar um tom debochado e agressivo na disputa pela prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) não encontra eco nas principais campanhas eleitorais de Porto Alegre. Os comitês de Felipe Camozzato (Novo), Juliana Brizola (PDT), Maria do Rosário (PT) e Sebastião Melo (MDB) descartam recorrer ao estilo provocativo do ex-coach, embora reconheçam a eficácia com que manobra as redes sociais, apostando na adoção de memes e vídeos curtos.
No MDB, a coordenação de campanha diz observar as movimentações de Marçal, mas prefere conduzir as ações de Sebastião Melo de forma bem diferente. Segundo o coordenador político do comitê, André Coronel, Melo faz uma campanha propositiva e usa as redes sociais para reforçar a mensagem, sem busca desenfreada por engajamento com piadas, ataques e cortes de vídeo.
— Nós respeitamos o eleitor, especialmente nesse momento, em que ele ainda sofre por tudo que passou na enchente. Apresentamos nossas propostas, dizemos o que fizemos e vamos fazer. O mais importante é conteúdo — diz Coronel.
O fato de ser governo e candidato à reeleição também reafirma em Melo a convicção de buscar amenizar a campanha, ao contrário do espírito incendiário que move Marçal em São Paulo. Alvo de críticas constantes dos adversários, o prefeito usa os ataques como munição, dizendo-se empenhado em solucionar os problemas enquanto os demais candidatos “só falam mal de Porto Alegre”.
— Melo fez um governo de diálogo e construção. A campanha precisa refletir isso. O comportamento não pode e não vai mudar — afirma Coronel.
No PT, há entendimento de que Porto Alegre tem tradição em cultivar o debate de ideias em detrimento do antagonismo beligerante e por vezes rasteiro de Marçal, que cria apelidos pejorativos para os rivais, cujo nome evita citar em público. São Paulo, por outro lado, tem histórico de catapultar candidaturas folclóricas.
— É muito difícil um candidato assim crescer em Porto Alegre. Já São Paulo fomenta esse tipo desde os anos 1950, com Jânio Quadros, que jogava talco no paletó para fingir que era caspa — lembra Cícero Balestro, coordenador da campanha petista.
Mesmo representando uma candidatura de oposição e tendo uma trajetória de conquistas eleitorais com fortes críticas aos adversários, o PT rejeita a tática do barulho a qualquer custo e pretende pautar a campanha pela discussão dos problemas da cidade.
— Até aqui o embate está sendo no campo político, sem ninguém querendo fazer algo absurdo para chamar a atenção. Vamos seguir na mesma linha, dando atenção ao conteúdo — diz Balestro.
No PDT, o coordenador da propaganda de rádio e TV, Tiago Brum, salienta que não haveria acolhida entre os eleitores a uma campanha nos moldes da de Marçal. Com a população ainda consternada pela enchente, o escracho seria contraproducente, sustenta Brum.
— Nossa mensagem é bem diferente, tem um tom de pacificação e união. É uma campanha institucional e informativa — afirma.
Para Brum, a estética fragmentada usada por Marçal nas redes sociais, com edição rápida e inspirada em jogos de videogame, faz mais sucesso em nichos do eleitorado, sobretudo nas camadas mais jovens.
— É uma linguagem gameficada, que viraliza em aplicativos como TikTok e Discord. Nosso modelo vai de encontro a isso, tanto na forma como no conteúdo — afirma.
No Novo, o fenômeno é monitorado a distância, principalmente por guardar similaridades com a situação de Felipe Camozzato, que também não tem direito à propaganda de rádio e TV. Para o coordenador da campanha, Frederico Cosentino, a principal inspiração é a adoção de uma mensagem direta, multiplicada na internet com a publicação de vídeos cada vez mais curtos.
— Se antes trabalhávamos com vídeos de um minuto, um minuto e meio, agora sabemos que tem de ser de 30, 45 segundos, sempre replicados em mais de uma rede — comenta Cosentino.
Todavia, o estrategista alerta que não é possível reproduzir o comportamento de Marçal, que não tem compromisso partidário e faz política de dois em dois anos. Ao final da campanha, diz Cosentino, Marçal volta para suas empresas enquanto a maioria dos demais candidatos têm de prestar satisfações aos aliados, aos dirigentes partidários e aos eleitores.
— Embora não seja possível copiá-lo, não tem como não olhar para Marçal. E talvez esse seja o principal efeito na nossa campanha: a falta de atenção para os candidatos à prefeitura de Porto Alegre. Está todo mundo olhando para Marçal e a eleição de São Paulo, os eleitores, a imprensa, as redes sociais, e pouca gente prestando atenção no que está acontecendo aqui — lamenta Cosentino.