O PSDB, que governou o Brasil duas vezes com Fernando Henrique Cardoso, e polarizou a disputa nacional com o PT por 20 anos, saiu do primeiro turno eleição de 2022 com um tamanho menor do que aquele que tinha. Nenhum tucano foi eleito senador e nenhum governador foi eleito no primeiro turno. O partido convocou uma reunião para terça-feira (4) e deve liberar os filiados para apoiarem quem quiserem no segundo turno — Jair Bolsonaro (PL) ou Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O partido decidiu, pela primeira vez desde a sua fundação, não ter candidato a presidente. A legenda estava na coligação de Simone Tebet (MDB) e tinha Mara Gabrilli (PSDB) como candidata a vice. Na prática, poucos tucanos se engajaram na campanha de Simone. A velha guarda se moveu na direção de Lula e os parlamentares colaram em Bolsonaro.
A legenda perdeu pela primeira vez em 28 anos o governo de São Paulo. Rodrigo Garcia, que fez carreira no DEM — hoje União Brasil — e entrou nas fileiras tucanas apenas no ano passado, ficou em terceiro lugar da disputa e não vai ao segundo turno, que terá Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT).
No RS, o PSDB ainda vai disputar o segundo turno para o governo estadual, onde Eduardo Leite (PSDB) vai concorrer com Onyx Lorenzoni (PL). Além disso, os tucanos seguem na disputa em Pernambuco, no Mato Grosso do Sul e na Paraíba.
A bancada na Câmara, que já havia diminuído em 2018, vai ser de 18 deputados a partir de 2023, contando com os eleitos pelo Cidadania, que fazem parte de uma federação com os tucanos. O instrumento obriga as siglas a terem a mesma posição nas eleições municipais, estaduais e nacionais por no mínimo quatro anos, além de agirem como um partido só no Congresso. Há quatro anos, o PSDB sozinho elegeu 29 deputados. Antes, o partido tradicionalmente ficava com mais 50 e estava em as três maiores bancadas, disputando protagonismo com PT e MDB.
Parte do entorno do PSDB está insatisfeito com a condução do presidente do partido, Bruno Araújo, e diz que ele decidiu se omitir diante de uma bolsonarização do país.
Garcia era a última esperança de o PSDB manter uma relativa relevância nacional. Ele foi eleito vice-governador de João Doria (PSDB) em 2018 e assumiu o Palácio dos Bandeirantes em meio a um processo de guerra interna no partido. Doria renunciou ao cargo em abril para tentar concorrer a presidente, mas quase desistiu de fazer isso e ameaçou ficar no cargo de governador diante da possibilidade de não ter o apoio da legenda para disputar a Presidência. Depois da ameaça, a cúpula nacional tucana convenceu Doria a sair do cargo para que Garcia assumisse o governo. Mesmo com a máquina paulista na mão, Garcia ficou em terceiro lugar e pela primeira desde 1994 um tucano não comandará o maior Estado do país.
— Quero agradecer o carinho com que fui recebido durante nossa campanha e os votos recebidos neste domingo. Vou continuar trabalhando para o Estado que tanto amo. São Paulo, conte sempre comigo — disse o governador de São Paulo no Twitter após a derrota.
Além disso, nomes históricos da legenda tiveram votações pífias. O senador José Serra, que foi governador, prefeito e duas vezes candidato a presidente, não conseguiu se eleger para deputado federal em São Paulo. O ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba Beto Richa também não se elegeu deputado federal.
O ex-governador de Minas Gerais e candidato a presidente em 2014, Aécio Neves conseguiu se reeleger deputado federal, mas ficou no limite. O PSDB de Minas Gerais conseguiu duas vagas para a Câmara e Aécio ficou em segundo pelo partido. O mineiro foi o principal tucano a se articular para que Doria não fosse candidato a presidente. O ex-governador paulista havia comprado uma briga com o mineiro e tentou promover sua expulsão do partido em 2019.