Não dá para tapar o sol com a peneira. Os institutos de pesquisa erraram para além do aceitável neste primeiro turno e terão de rever seus métodos.
Os veículos de comunicação que os contratam esperam que acertem, dentro do propalado intervalo de confiança de 95% e da margem de erro que às vésperas da eleição costuma ser de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Não foi o que se viu nesse domingo.
A começar pelo Rio Grande do Sul, o Ipec, instituto nascido de uma costela com Ibope, errou e errou feio. Não captou a força do bolsonarismo, que levou Onyx Lorenzoni (PL) para o segundo turno e deu ao presidente Jair Bolsonaro uma vitória incontestável no Estado.
Bolsonaro fez 48,89% dos votos válidos no RS, contra 42,28% do ex-presidente Lula. E o que dizia a última pesquisa do Ipec? Que os dois estavam tecnicamente empatados: Lula tinha 44% dos votos válidos e Bolsonaro, 42%.
O percentual de Lula até se enquadra na margem de erro de dois pontos, mas o de Bolsonaro passou longe. Este é apenas um dos pontos que o Ipec precisa explicar. Ele não foi o único a errar, mas foi o contratado pelo Grupo RBS e, por isso, é dele que esta coluna aguarda explicações.
No caso do Senado, pôde-se atribuir as divergências ao movimento estratégico feito pelo vice-presidente Hamilton Mourão, do Republicanos, que ao perceber a iminência da derrota para Olívio Dutra por causa da divisão da centro-direita trabalhou para tirar a vereadora Comandante Nádia do jogo e desidratar Ana Amélia Lemos. Primeiro na propaganda eleitoral, dizendo que Ana Amélia não era direita raiz e ressuscitando críticas feitas pelo PT em 2014. Depois, na sexta e no sábado, com os deputados do PP aderindo à campanha e trabalhando pelo voto útil.
Na pesquisa divulgada na sexta-feira, Olívio liderava com 36% dos válidos, Mourão tinha 28% e Ana Amélia 27%. Resultado: Mourão fez 44,11%, Olívio 37,85% e Ana Amélia 16,44%. Resumindo, só acertou o percentual de Olívio, mas aqui há uma explicação razoável.
No caso da eleição para governador, o Ipec não detectou o crescimento de Onyx, colado ao de Bolsonaro, nem o que foi a grande surpresa da apuração: a apertadíssima diferença entre Eduardo Leite (PSDB) e Edegar Pretto (PT), de 2.441 votos. A última pesquisa apontava a liderança de Leite, com 40% dos votos válidos, contra 30% de Onyx e 20% de Pretto. Resultado: Onyx fez 37,5%, Leite, 26,81% e Pretto, 26,77%. Nenhum se enquadra na margem de erro.
É verdade que o Ipec mostrou haver entre os eleitores de Leite uma maior disposição para mudar o voto e que o PT tem uma tradição de crescimento na boca da urna, mas isso não explica tamanha discrepância.
Para não dizer que só o Ipec errou, registre-se que outros institutos cometeram equívocos monumentais Brasil afora. O caso de São Paulo é emblemático: os últimos levantamentos indicavam segundo turno entre Fernando Haddad (PT) e Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos). Acertaram os finalistas, mas erraram a ordem e os números. Deu Tarcísio à frente, com Haddad em segundo. O senador eleito, Marcos Pontes, do Republicanos, esteve sempre bem atrás de Márcio França (PSB).