Enquanto impera o silêncio do presidente Jair Bolsonaro (PL) e a incerteza sobre a instalação de equipes formais de transição de governo, aliados do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram escalados para iniciar a discussão do orçamento geral da União de 2023.
Essa será a peça orçamentária do primeiro ano do novo governo Lula. Como ela tem de ser aprovada no ano anterior à vigência, foi enviada ao Congresso por Bolsonaro. O orçamento prevê o fluxo de arrecadação, gastos e investimentos do governo federal e precisa ser referendado no Congresso até o final de 2022.
Na quinta-feira (3), aliados de Lula irão se reunir, em Brasília, com o senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator-geral do orçamento de 2023. Devem participar os deputados federais Paulo Pimenta (PT-RS), Rui Falcão (PT-SP), Enio Verri (PT-PR), o senador Jean Paul Prates (PT-RN) e o ex-governador do Piauí e senador eleito Wellington Dias (PT).
— A situação mais imediata é a votação do orçamento. Até quinta, queremos ter uma opinião preliminar sobre a peça encaminhada pelo Bolsonaro e ver o que é possível pensar em termos de adequação. A ideia é analisar possíveis mudanças para contemplar a proposta vencedora da eleição — afirma Pimenta.
Presidente do PT gaúcho, Pimenta é cauteloso, diz que se trata apenas da primeira reunião e que não há pontos já identificados a serem mudados. As alterações no orçamento podem ser feitas pelo próprio relator e, depois, também pelos demais parlamentares.
Sobre a formalização de um processo de transição, Pimenta assegurou que não há nada definido ou sequer encaminhado. A composição de governo, diz ele, também não começou a ser discutida formalmente. O certo é que será uma fotografia de coalizão ampla, com mais partidos e nomes inclinados ao centro.
— É um governo de união nacional em torno de um projeto democrático, vai ter de contemplar amplos setores — disse o petista.
No PT gaúcho, os nomes mais cotados para assumir um ministério são o de Pimenta, que construiu relação de confiança com Lula, e o do deputado estadual Edegar Pretto, prestigiado pelo bom desempenho como candidato ao Palácio Piratini no primeiro turno da eleição.
Há um certo consenso de que Pimenta e Pretto são, hoje, os nomes mais fortes do PT regional, dentro de um processo de passagem de bastão com a paulatina aposentadoria de nomes históricos da sigla.
— O que tem são especulações, mas tudo muito prematuro. Não existe absolutamente nada tratado de forma efetiva — diz Pimenta, a respeito da composição do futuro governo Lula.
Pretto avalia que o debate sobre a formação da Esplanada dos Ministérios deverá ser liderado por Lula e compartilhado entre o leque de aliados, incluindo o próprio PT.
— Eu sou um cumpridor de tarefas, sempre me movi de forma coletiva. Fui candidato a governador pela primeira vez e meu nome foi indicado para a disputa de forma unânime no PT. Continuarei cumprindo as decisões coletivas do meu partido e estou pronto para seguir ajudando o Rio Grande do Sul — afirma Pretto.
A característica de uma coalizão ampla, que agregue o centro político, é um indicativo de que tradicionais aliados do PT poderão ter menos destaque. O PCdoB, por exemplo, não tem garantia de ocupar um ministério. A legenda saiu diminuta das urnas e, caso obtenha o espaço, as suas principais lideranças nacionais, que poderiam se cacifar à indicação, são Manuela D’Ávila (RS) e os deputados federais Jandira Feghali (RJ) e Orlando Silva (SP). Já o PSB, partido do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (SP), deve emplacar na Esplanada dos Ministérios o senador eleito Flávio Dino (MA) e o ex-governador de São Paulo Márcio França.