Presente nas programações de rádio e televisão de todo o Brasil desde o dia 26 de agosto, a propaganda eleitoral para o primeiro turno das eleições deste ano se encerra nesta quinta-feira (29). A interrupção da veiculação das inserções com campanhas dos candidatos faltando 48 horas para o pleito – que ocorre neste domingo (2) – é prevista pela Justiça Eleitoral.
Ao longo de mais de um mês de exibição dos programas, foram veiculados diariamente quatro blocos de 25 minutos cada, sendo dois deles no rádio e os outros dois na televisão. Além disso, ainda houve inserções de 30 segundos e de 60 segundos ao longo das programações.
No primeiro turno, a propaganda eleitoral apresentou ao eleitor os candidatos a presidente, governador, senador, deputados federal e estadual. Vale destacar que o debate realizado no rádio e na televisão é uma exceção, podendo se estender até as 7h de sexta-feira (30) – a TV Globo realiza o último debate presidencial na noite desta quinta-feira, devendo se estender até o começo da madrugada do dia seguinte.
Se houver segundo turno, a propaganda eleitoral gratuita será retomada em 7 de outubro, e permanecerá no ar até a antevéspera da eleição, dia 28 de outubro. Lembrando que o segundo turno, caso aconteça, será apenas para os candidatos a presidente e/ou governador. Os demais cargos serão preenchidos ainda no primeiro turno.
Dois objetivos da propaganda eleitoral
Especialistas ouvidos por GZH analisaram a propaganda eleitoral veiculada no primeiro turno e o impacto das redes sociais e aplicativos de mensagens na definição do voto. Para o cientista político e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Rafael Madeira, apesar dos avanços tecnológicos, a propaganda eleitoral manteve seu protagonismo no processo democrático.
Na avaliação do especialista, a propaganda política desempenha duas funções centrais nas campanhas, que dialogam com diferentes tipos de eleitor. Ele explica que o primeiro objetivo é municiar os eleitores e militantes dos partidos com argumentos que possam ser utilizados para convencer outras pessoas do seu círculo, como familiares e amigos, a votarem em determinado candidato.
O segundo objetivo da propaganda eleitoral é converter novos eleitores. Conforme o pesquisador, os eleitores com maior distanciamento da política tendem a se interessar pelos candidatos nos últimos dias da campanha e por isso há esta diferenciação no direcionamento do conteúdo.
O professor também aponta que a ideia de anonimato oferecida pelas redes sociais viabiliza um ambiente propício à propagação das fake news. Apesar disso, ele pontua que em relação à eleição de 2018, a Justiça Eleitoral avançou consideravelmente no combate às mentiras propagadas pelas redes sociais e aplicativos de mensagens.
— O impacto das fake news é muito preocupante porque permite o jogo baixo, desleal, abaixo da linha da cintura. Todas essas inovações tecnológicas colocam um desafio enorme para a Justiça Eleitoral, porque ela precisa ser extremamente ágil. Em 2022, comparado com 2018, acredito que a Justiça Eleitoral aprendeu muito, mas vai continuar a ser um desafio enorme, não apenas em punir estes delitos, mas em reverter os efeitos que eles causam, em não deixar que esse delito beneficie uma determinada candidatura — pontua.
O cientista político e professor da PUCRS, Augusto de Oliveira, sublinha que em relação às duas últimas eleições (2018 e 2020) o que ocorreu foi um aperfeiçoamento no controle das tecnologias já existentes em um movimento descrito por ele como "normalização". Ele reitera a relevância dos mecanismos desenvolvidos pelas próprias empresas de comunicação como Meta – que administra Facebook, Instagram e WhatsApp – e Google no combate às publicações com conteúdo falso.
— A expectativa que se tinha em relação à internet era que ela traria apenas grandes benefícios às pessoas. Mas os últimos seis anos revelaram uma face negativa em que ela é utilizada para ameaçar a democracia, seja por meio de fake news e teorias da conspiração, que põem em dúvida a lisura do modelo democrático. As empresas perceberam que se elas não tomassem medidas, os próprios governos realizariam uma regulamentação, então começaram a trabalhar para diminuir o mau uso das redes sociais — comenta.
O professor acredita que o eleitor hoje está mais atento ao conteúdo disseminado pelas redes sociais, devido às campanhas ostensivas de conscientização com relação às informações falsas. Ele avalia que o horário eleitoral recuperou a importância nessas eleições e que atuou de forma a potencializar a visibilidade de candidatos expressivamente reconhecidos pelos brasileiros como Lula e Bolsonaro.