A educação foi tema de destaque no debate entre os candidatos a governador do Rio Grande do Sul promovido neste sábado (17) pelo canal de televisão SBT. Também receberam atenção as pautas das finanças públicas, da fome, da segurança pública, com olhar especial aos feminicídios, e o futuro do Banrisul.
Participaram do encontro, realizado em um estúdio do bairro Anchieta, em Porto Alegre, oito postulantes ao Palácio Piratini: Argenta (PSC), Edegar Pretto (PT), Eduardo Leite (PSDB), Luis Carlos Heinze (PP), Onyx Lorenzoni (PL), Ricardo Jobim (Novo), Vicente Bogo (PSB) e Vieira da Cunha (PDT).
No primeiro bloco, em que os candidatos fizeram perguntas livres entre si, a educação foi o tema dominante. Ex-governador e líder das pesquisas de intenção de voto, Leite foi o alvo predileto dos candidatos. Vieira apontou dados que indicam evasão de 10,7% entre alunos do Ensino Médio no Estado em 2021, quarto pior resultado do país. Na sequência, houve até uma inusitada tabelinha entre Vieira e Onyx. O candidato do PL afirmou que existem 665 colégios com problemas elétricos, prometeu criar a Secretaria da Primeira Infância, criar uma gratificação de desempenho aos servidores da educação e implantar escolas cívico-militares. Depois, Onyx disse que aderiu à proposta de Vieira de investir na formação de tempo integral.
— Tenho refletido muito. Tu tens razão. As escolas de tempo integral serão implantadas — afagou Onyx.
O pedetista respondeu dizendo que pretende colocar 200 mil alunos neste formato de ensino e indicou que os recursos sairão do próprio orçamento do Estado, com o investimento de 35% das receitas.
Jobim voltou ao tema e apresentou sua intenção de privatizar o Banrisul. O passo seguinte seria aplicar todo o dinheiro em um fundo de educação.
— Para revolucionar, precisa de dinheiro. Precisamos financiar o ensino médio em tempo integral e profissionalizante. Vamos privatizar o Banrisul enquanto ele ainda vale alguma coisa — afirmou Jobim.
Vieira retomou o assunto mais adiante, apelando para que Jobim revisasse a proposta, alertando que os gastos em educação são permanentes.
— Investir em educação com receita extraordinária não vai adiantar. A venda do banco é uma receita extraordinária que se esvai — declarou o pedetista.
Leite disse que seu governo promoveu avanços, mas reconheceu que ainda restam mazelas. Diante das críticas, que vinham sobretudo de Onyx, Heinze, Pretto e Vieira, ele apresentou programas do seu governo, com destaque para a política que paga uma bolsa de R$ 150 mensais para 70 mil estudantes. O valor é um incentivo para que os jovens permaneçam na escola. No tema da fome, o tucano valorizou outra iniciativa da sua gestão.
— É legítima a preocupação com a fome. A partir do equilíbrio das contas, criamos o programa que devolve imposto (ICMS) para 500 mil famílias de baixa renda — afirmou Leite, destacando que esse dinheiro é útil para botar comida na mesa em lares humildes.
Pretto fez várias sinalizações aos servidores públicos, dizendo que os terá como parceiros e retomará conversas frequentes sobre reposição salarial. Também afirmou que parte de sua política contra a fome será transformar o Estado no maior cliente de pequenos produtores rurais, a partir de compras de alimentos para programas sociais.
— A principal causa do meu mandato (de deputado estadual) foi o enfrentamento da violência contra às mulheres. Foram 1.319 mulheres vítimas de feminicídio no governo Bolsonaro. Os bolsonaristas defendem a família, mas deixaram 33 milhões de famílias passando fome no país — atacou Pretto, que buscou vincular sua imagem à do ex-presidente e novamente candidato ao Palácio do Planalto Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na resposta, Onyx, ligado ao presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro, defendeu as políticas do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH), citando canais de comunicação para denúncias.
No tema da segurança, Heinze retomou sua proposta de ampliar o efetivo da Brigada Militar, inclusive como método para combater os feminicídios.
— Vamos resolver colocando mais policiamento na rua. Temos mais de mil brigadianos dentro dos presídios. Também vamos pagar horas extras aos brigadianos — projetou Heinze.
Senador e apoiador de Bolsonaro, o candidato do PP ao Piratini defendeu a aceleração da liberação de licenças ambientais para empreendimentos, criticou a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) por “cobrar pedágio e deixar estradas esburacadas” e disse que apostará em programa de contraturno escolar para que alunos do Ensino Médio façam cursos profissionalizantes.
Bogo, do PSB, registrou preocupação com o orçamento de 2023 enviado na última semana à Assembleia Legislativa, em que o governo estadual prevê déficit de R$ 3,7 bilhões nas contas públicas em 2023. Ele afirmou que o próximo governador terá de exigir do presidente da República uma compensação pelo corte feito no ICMS que incide sobre os combustíveis para forçar a queda no preço da gasolina neste ano eleitoral. O ICMS é a principal fonte de arrecadação dos Estados.
— A situação é crítica. O Estado tem dívidas de mais de R$ 100 bilhões (considerando dívida com a União, financiamentos e precatórios). Será necessário rever o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) — avaliou Bogo, citando o novo acordo de pagamento da dívida com a União, cujo texto estabelece uma série de amarras ao orçamento estadual.
Bogo ainda defendeu fomentar a indústria da saúde no Estado, dando o exemplo da produção de vacinas.
Argenta, assim como em debates anteriores, reiterou sua obsessão pela geração de empregos e disse que pretende incorporar o Badesul, banco estadual de fomento, ao Banrisul. A intenção é ampliar o papel do Banrisul nas políticas de crédito para pequenas e médias empresas. Ele retomou sua proposta de usar as reservas cambiais do país para criar um fundo soberano de investimento, iniciativa que dependeria do presidente da República e do Ministro da Economia.
— Fazer investimentos para gerar muitos empregos. Temos de ter audácia e coragem. Não se conhece empresa, Estado ou município que melhore a vida do cidadão sem investimento. O Brasil precisa de água, esgoto, estradas — discorreu Argenta.
O debate se prolongou por duas horas e teve predominância de propostas. Prevaleceu a cordialidade mesmo nos momentos de críticas e discordância.