Em quarto lugar nas pesquisas Ipec para o governo do Rio Grande do Sul, com 4% na última medição, Luis Carlos Heinze (PP) enfrenta dificuldades para transformar em intenção de votos o vigor do próprio partido. Mesmo tendo o maior número de prefeitos e vereadores do Estado, Heinze custa a conquistar o eleitorado refratário à esquerda, dividido entre Eduardo Leite (PSDB) e Onyx Lorenzoni (PL). Nos bastidores, lideranças do PP e aliados políticos admitem uma desmobilização nas bases diante da demora da campanha em engrenar.
Em 2018, Heinze se elegeu senador com 2,3 milhões de votos, quase 200 mil a mais do que Leite conquistou no primeiro turno. Desde então, planejou meticulosamente a campanha a governador. Fazia roteiros pelo Interior toda semana, organizou encontros regionais e foi o primeiro a lançar sua pré-candidatura, em ato oficial do partido em junho do ano passado, 15 meses antes da eleição.
Hoje, muitos correligionários atribuem à precocidade da iniciativa parte dos entraves enfrentados na atual campanha. Com um nome definido tão cedo para a cabeça de chapa, o PP restringiu o espaço para alianças e acabou formando coligação apenas com o PTB e o PRTB, o que lhe concedeu um tempo de propaganda no rádio e na TV menor do que o dos principais adversários, Leite, Onyx e Edegar Pretto (PT).
Nas finanças, a situação é semelhante. Até agora, Heinze recebeu apenas R$ 3 milhões da direção nacional do PP, mesma quantia aportada pelo PT em Pretto. Em contrapartida, Onyx recebeu R$ 8 milhões do PL, e Leite, R$ 5,2 milhões do PSDB. Na soma total das receitas, Heinze tinha recebido, até essa terça-feira (20), R$ 3,9 milhões, perfazendo somente a sexta arrecadação entre os 10 candidatos.
Outro obstáculo citado no partido é a polarização nacional entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Embora Heinze seja apoiador de Bolsonaro e conte com sua simpatia, boa parte do eleitorado enxerga Onyx como o candidato do presidente. Nos municípios, prefeitos e vereadores acabam recuando diante da preferência do eleitor pelos candidatos do PL ou do PT à Presidência, com receio de perder esse voto na próxima eleição municipal.
— A nossa identidade é muito municipalista, então o PP sempre teve dificuldades em eleição estadual e nacional. Mas nossos eleitores estão mais com o Onyx porque ele é mais identificado com o Bolsonaro. Heinze não é rejeitado, muitos reconhecem o seu trabalho, mas o pessoal prefere o Onyx ou o Leite. Isso está claro — diz o presidente do PP em Santa Cruz do Sul, vereador Henrique Hermany.
Segunda maior cidade administrada pelo PP no Estado, Santa Cruz do Sul concentra uma espécie de resumo dos embaraços encontrados por Heinze nessa eleição. Na pré-campanha, a prefeita Helena Hermany ameaçou romper com o senador após ele anunciar aliança com o PTB, então sigla de seus maiores adversários locais. Depois, a família Hermany anunciou que não iria fazer campanha para a candidata do partido ao Senado, Comandante Nádia, mas sim para Ana Amélia Lemos (PSD) — situação que se repete em vários municípios geridos pelo PP.
As divergências com Heinze estão na gênese da saída de Ana Amélia do PP. Em 2018, ele era pré-candidato ao Piratini, mas foi forçado pelo partido a concorrer a senador depois que Ana Amélia ocupou a vaga de vice do então postulante tucano à Presidência, Geraldo Alckmin. A aliança nacional entre PP e PSDB se repetiu no Estado, levando o partido para o palanque de Leite. Ressentido, Heinze não pediu votos para os tucanos e fez campanha alinhado com Bolsonaro.
Mesmo eleito e com mandato até 2026, Heinze guardou reservas a Ana Amélia e a vários dirigentes do PP. Sentindo-se em dívida com o senador, a cúpula do partido descartou outro caminho este ano que não fosse a candidatura dele ao Piratini, a despeito do movimento de lideranças que queriam aliança com Leite ou Onyx. Essa tensão se acirrou durante a campanha.
Nos bastidores, eventuais equívocos na condução da atual campanha não são sequer comentados para não causar melindres, e há candidatos a deputado estadual e federal que não exibem o nome de Heinze em peças de propaganda ou colocam em tamanho tão pequeno que se torna quase ilegível. Os sete deputados do partido na Assembleia seguem mantendo seus indicados em cargos no governo do Estado e há um flerte com a reeleição de Leite.
Coordenador da campanha de Heinze, João Carlos Breda minimiza o apoio de lideranças do PP a outros candidatos e diz que ele também atrai políticos de outras agremiações. Breda afirma que pesquisas internas mostram Heinze na terceira colocação e que a campanha deve crescer na reta final, com atos na Região Metropolitana e nos principais colégios eleitorais do Interior. Todavia, reconhece algumas dificuldades, sobretudo a escassez de verbas.
— É uma empreitada difícil. Temos adversários fortes e precisamos reconhecer que o Onyx acabou identificado como o candidato do Bolsonaro. Também temos poucos recursos, a campanha carece de estrutura e visibilidade. Isso faz diferença. Mas não tem nada decidido. Heinze tem uma enorme capacidade de trabalho e vai surpreender. Ademais, a vida não acaba depois da eleição — comenta o ex-prefeito de Cotiporã.