Após participar de desfile cívico-militar em Brasília, pela manhã, Jair Bolsonaro esteve em ato em Copacabana, no Rio de Janeiro, para o bicentenário da Independência do Brasil. Em discurso, o presidente e candidato à releição adotou tom de campanha. Atacou governos de esquerda e defendeu os empresários que foram alvo de investigações pela Polícia Federal e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
— Hoje estive em Brasília com empresários acusados de golpistas. Estamos ao lado dessas pessoas, que nada mais tiveram do que sua privacidade violada — disse Bolsonaro, ovacionado por seus eleitores.
Ao longo de sua fala, que durou pouco mais de 15 minutos, o candidato evitou tecer críticas diretas aos demais Poderes. O presidente se limitou a argumentar que, durante o seu governo, as pessoas conseguiram entender como funciona a presidência da República, a Câmara dos Deputados, o Senado e o STF — a menção à sigla foi acompanhada por rumorosa vaia dos apoiadores. E afirmou que "defende a família brasileira".
— Três anos e meio sem corrupção: isso não é virtude, é obrigação — afirmou Bolsonaro.
O discurso do presidente teve início por volta das 16h. Antes, ele participou de uma motociata pelas ruas da cidade, do Aterro do Flamengo até a orla de Copacabana, onde ocorriam tanto apresentações militares pelo 7 de Setembro quanto atos em seu apoio. Ao saltar da moto na Avenida Atlântica, Bolsonaro seguiu para os apertos de mão e fotos com os seus eleitores, enquanto as autoridades militares aguardavam no palanque montado à beira-mar.
No palco destinado a celebrar os 200 anos da Independência, autoridades militares dividiam espaço com aliados políticos do presidente, como o deputado condenado pelo STF Daniel Silveira e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazzuelo. Durante o evento com militares, Bolsonaro não discursou.
Antes dos 21 tiros de canhão que marcariam o fim da cerimônia militar, Bolsonaro deixou o espaço oficial e seguiu para um segundo palanque: um caminhão de som contratado por aliados políticos, também na orla. Então, o presidente pediu votos e elencou críticas aos governos do PT. Afirmou que, caso seja reeleito, fará um "governo muito melhor" do que o atual, comparou a situação do Brasil com a de outros países, como a Venezuela, a Argentina e a Nicarágua, e aproveitou para atacar seu principal adversário nas eleições, Luiz Inácio Lula da Silva (PT):
— O que todos esses chefes de Estado têm em comum? São amigos do quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição no Brasil. Esse tipo de gente tem de ser extirpado da vida pública.
Sem fazer menção a nenhum ministro em específico, Bolsonaro ainda sugeriu que uma eventual reeleição mudaria a forma como seu governo lida com decisões contrarias aos seus interesses.
— Esperem uma reeleição para ver se todos não vão jogar dentro das quatro linhas da Constituição — disse, sem detalhar o seu alvo.
Em frente ao caminhão de som, milhares de pessoas se apertavam na avenida e na praia de Copacabana para chegar perto do presidente. Do candidato à reeleição, ouviram compromissos com pautas religiosas e de comportamento. Bolsonaro afirmou que defende a família brasileira e que é contra aborto e ideologia de gênero.
— Somos o governo, que sabemos que o Estado é laico. Mas o seu presidente é cristão. Nós defendemos a vida em sua concepção. Não existe em nosso governo a ideia de legalizar o aborto — afirmou, para depois completar: — Nosso governo não aceita sequer discutir a legalização das drogas.
Ele disse ainda que seu governo melhorou a economia, "apesar da pandemia de covid-19":
— Lamentamos todas as mortes, mas, na economia, o nosso governo deu o exemplo — apontou, garantindo que a inflação no país será menor do que "na Europa e nos Estados Unidos".
O presidente ainda destacou a política externa, que chamou de "inigualável":
— Fomos negociar fertilizantes com a Rússia mesmo com o mundo e a imprensa contra.
Por fim, o jingle de campanha do presidente foi colocado nos altos-falantes do evento, enquanto ele tirava fotos, de cima do trio elétrico, com a multidão de apoiadores.
Após a passagem por Copabacana, de acordo com a assessoria do presidente, ele seguiria para uma instalação militar na Urca e, de lá, para o Maracanã, onde deve acompanhar o jogo entre Flamengo e Vélez Sársfield, pela semifinal da Libertadores.
Brasília
O mesmo tom eleitoral foi usado pelo presidente durante a manhã, em Brasília. Na ocasião, ele chegou a comparar as duas eventuais primeiras-damas — a esposa dele e a de Lula. Ele enalteceu Michelle, que lhe acompanhava no palco.
— Podemos fazer várias comparações, até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir.