O penúltimo debate do primeiro turno entre candidatos ao governo do Rio Grande do Sul realçou a polarização entre Eduardo Leite (PSDB) e Onyx Lorenzoni (PL). Nas mais de duas horas do confronto promovido nesta quarta-feira (21) por Rádio Guaíba, Correio do Povo e Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), Leite e Onyx trocaram farpas e acusações.
Além da presença dos dois candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto, participaram os demais aspirantes ao Piratini cujos partidos têm representação no Congresso: Argenta (PSC), Edegar Pretto (PT), Luis Carlos Heinze (PP), Ricardo Jobim (Novo), Vicente Bogo (PSB) e Vieira da Cunha (PDT). Na plateia, cada campanha pôde contar com até 50 apoiadores, o que rendeu vaias e aplausos durante as manifestações.
Logo no começo, todos responderam a uma pergunta formulada pelo sistema Guaíba/Correio do Povo, negando com firmeza qualquer intenção de aumentar impostos em uma eventual gestão.
No segundo bloco, quando os candidatos fazem perguntas entre si, tiveram início as altercações entre Leite e Onyx. Ao escolher Vieira da Cunha para falar sobre educação, Onyx citou uma representação popular feita ao Ministério Público Federal (MPF) sobre suposta pedalada fiscal que teria sido cometida por Leite com recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb):
— Dos R$ 11,2 bilhões para educação, o então governador desviou R$ 4,3 bilhões em 2021. De que forma: R$ 1,2 bilhão foi desviado do pagamento dos profissionais de educação básica. Os outros R$ 3,1 bilhões foram para equilibrar o déficit previdenciário, retirados de crianças e jovens do Estado.
O tucano imediatamente pediu direito de resposta, negado pela comissão julgadora do debate. Na sequência, Leite usou o tempo de uma pergunta que faria a Bogo para reagir à acusação de Onyx. Segundo o ex-governador, a representação encaminhada ao MPF é de autoria de um aliado político do candidato do PL que trabalhou como assessor do presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.
— Foi sonegada uma informação importante. O cidadão é candidato a deputado na coligação do candidato Onyx e foi assessor do Bolsonaro. Isso não pode ser sonegado. Aliás, sonegou de onde vinham os recursos para a campanha, não seria essa informação que prestaria — respondeu o tucano, em referência ao uso confesso de caixa 2 por Onyx nas campanhas eleitorais de 2012 e 2014.
Como não houve confronto direto entre os dois em todo o debate, a troca de farpas foi sempre lateral. Onyx disse que o fato de o denunciante ser bolsonarista não o desacreditava e que Leite “usou o bolsonarismo para se eleger em 2018, depois traiu”. Já Leite afirmou que obteve diversos direitos de resposta na Justiça Eleitoral por conta “das mentiras dos adversários”, mas que prefere atacar problemas, e não pessoas.
Na discussão de programas, ambos repetiram o que têm dito durante toda a campanha. Leite salientou a organização das finanças públicas em sua gestão, afirmando que busca novo mandato para ampliar investimentos em saúde, educação e segurança. Já Onyx reforçou o alinhamento com o governo Bolsonaro e prometeu atuar para facilitar o empreendedorismo e socorrer os mais necessitados.
Descolados da dupla nas pesquisas, os demais candidatos apresentaram propostas tentando quebrar a dualidade da campanha. Mesclando críticas a Leite e Onyx, Pretto destacou a necessidade de combater o avanço da fome no Estado.
— Vamos voltar a investir nos setores produtivos. Quem quiser produzir terá o apoio do Estado, financiamento subsidiado, juro zero. Vamos aumentar a produção de comida e baixaremos o preço na prateleira do supermercado — prometeu.
Heinze citou a necessidade de investimentos em infraestrutura, como portos, hidrovias e ferrovias, mas defendeu a educação como prioridade, com ensino técnico e profissionalizante.
— É um compromisso que estamos assumindo. Todas as escolas de segundo grau do Estado terão essa oportunidade. Vamos implementar o contraturno escolar. Alunos que quiserem uma profissão, vão ter — garantiu.
Defensor histórico da educação, Vieira da Cunha também exibiu preocupação com a segurança pública, prometendo recompor os efetivos da Brigada Militar e da Polícia Civil.
— Não se faz segurança pública sem profissionais nas ruas para atender a população. Então, o ponto número um é concurso público para que tenhamos policiais condizentes com essa escalada da violência — afirmou.
Com carreira no setor empresarial, Argenta citou a geração de empregos como fator de desenvolvimento e defendeu a desburocratização dos licenciamentos ambientais.
— Estive em Caxias do Sul, onde uma empresa demorou seis anos para obter uma licença ambiental. Parece que emprego não é prioridade. Como vamos aumentar a arrecadação sem aumento de empregos? — questionou.
Com discurso semelhante, Jobim enfatizou a necessidade de o Estado adotar medidas que aumentem a competitividade das empresas e mais uma vez pregou a venda do Banrisul.
— Temos R$ 1,6 bilhão em ações trabalhistas a pagar. Olha o tamanho do buraco que esse banco vai virar. Por que ele está perdendo valor? Por causa da parte política, que é aprovar crédito para amiguinhos — criticou.
Dizendo-se contrário à privatizações, Bogo afirmou que o Estado precisa discutir e apoiar potenciais regionais como forma de produzir riqueza e sustentar desenvolvimento:
— Eu criei um programa de reconversão da matriz produtiva da Metade Sul. Quero conversar com cada região para construir um projeto de futuro, até porque, no presente, o Estado investe só 3% do orçamento.
O derradeiro debate no primeiro turno ocorre na próxima terça-feira (27), na RBS TV.