O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, disse neste domingo (15) que a mudança de procedimento na divulgação dos votos, com a centralização dos procedimentos no próprio TSE, foi uma decisão técnica, a partir da recomendação expressa em um relatório da Polícia Federal. Segundo o Estadão apurou, a decisão foi tomada pela equipe técnica do TSE durante a presidência da ministra Rosa Weber, que assumiu o comando do tribunal em agosto de 2018. Nesta eleição, houve um atraso até então inédito na divulgação dos dados eleitorais.
— A centralização da totalização no TSE foi recomendação da pericia da PF em nome de se prover maior segurança à totalização. Portanto, é até possível que a centralização no TSE tenha sido a causa da lentidão, estamos estudando, mas foi decisão técnica decorrente de recomendação da PF e embora tenha dito que não tinha simpatia pela medida, eu também a teria tomado, porque era recomendação técnica de relatório minucioso da PF a esse respeito — disse Barroso, em coletiva de imprensa na noite deste domingo.
— A totalização nada mais é que olhar os boletins e somá-los. Não é singelo, porém, ao final, a demora não compromete a integridade do sistema. Eu não tenho controle do imaginário das pessoas, mas objetivamente o que aconteceu: foi preservada a integridade do sistema, os dados são conferíveis de cada urna e no final tudo se resume a lentidão — acrescentou o ministro.
Falha inédita na história da urna eletrônica
A falha no sistema de totalizar os votos que causou o atraso na apuração é inédita desde a adoção da urna eletrônica, em 1996. Barroso reforçou que a falha não altera o resultado, uma vez que os comprovantes com o balanço dos votos de cada urna são emitidos ao fim do dia de votação em cada zona eleitoral. "A ideia de que a demora possa trazer algum tipo de consequência não faz nenhum sentido, porque o resultado das eleições já saiu no momento em que a urna imprimiu o boletim", disse.
Um dia antes de uma falha técnica atrasar a divulgação dos votos do primeiro turno das eleições municipais, o secretário de tecnologia da informação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Giuseppe Janino, participou de um evento em que prometeu "mais estabilidade" e "melhor aproveitamento do processamento" na divulgação dos dados. O cenário que a população brasileira encontrou neste domingo foi totalmente outro.
— Até a eleição passada, a totalização era feita nos datacenters dos 27 Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). Cada órgão fazia a recepção, verificação e soma dos votos, cabendo ao TSE proceder a leitura desses bancos de dados e, também, a divulgação dos resultados — disse Giuseppe, durante apresentação no último sábado (14) em que o TSE realizou a verificação dos sistemas das eleições de 2020. O vice-presidente do TSE, Edson Fachin, acompanhou o evento.
Na ocasião, Janino frisou que agora a divulgação dos votos se concentraria no próprio TSE, com os boletins sendo transmitidos para o datacenter do TSE. De acordo com ele, a medida representaria uma economia aos cofres públicos e um ganho na segurança.
— Conseguimos baixar bastante os custos, concentrando em um processo de nuvem, fazendo a virtualização de equipamentos — afirmou Janino na ocasião.
Na avaliação de Thiago Tavares, presidente da ONG SaferNet Brasil, é prematuro concluir que o TSE errou ao centralizar a divulgação dos votos.
— É necessário conhecer mais detalhes técnicos do que ocorreu para se chegar a uma conclusão mais abalizada. O TSE precisa ser totalmente transparente e divulgar um relatório técnico sobre o incidente, como recomendam as boas práticas de segurança cibernética — afirmou Tavares.