O segundo turno teve início cordial e focado em propostas, mas a situação se modificou nos últimos dias de campanha, e a disputa pela prefeitura de Porto Alegre foi parar no Palácio do Polícia. No final da manhã desta quarta-feira (25), o candidato Sebastião Melo (MDB) foi à sede da Polícia Civil para registrar boletim de ocorrência contra a adversária Manuela D’Ávila (PCdoB), a quem acusa de ter cometido crime eleitoral e contra a honra em suas inserções de propaganda política.
Melo reagiu com indignação diante do fato, que eclodiu após exibições de peças publicitárias da campanha de Manuela na terça-feira (24), em que ela supostamente o vincula ao racismo. Na inserção, a candidata do PCdoB reproduz declarações do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), sobre racismo, e do vereador Valter Nagelstein (PSD), sobre vereadores negros eleitos pelo PSOL. Depois, o vídeo mostra uma montagem com imagens de Melo, de Mourão, do presidente Jair Bolsonaro e de Nagelstein. O locutor da propaganda afirma: “Essa é a turma do Melo. Converse com a tua turma e vote contra o racismo e a favor da igualdade”.
O candidato do MDB diz que buscará o direito de resposta na Justiça Eleitoral — em primeira instância, o pedido foi negado nesta quarta, e será apresentado recurso ao Tribunal Regional Eleitoral —, além de processar Manuela nas esferas criminal e cível. Desde o início da semana, a campanha já vinha se acirrando, com trocas de acusações políticas entre os candidatos, mas, agora, faltando três dias para a votação de segundo turno, o nível de tensão subiu mais um degrau. Nos bastidores da campanha de Melo, a propaganda de Manuela é atribuída ao “desespero” diante de desvantagem em relação ao adversário (a pesquisa Ibope divulgada na terça-feira mostrou Melo em vantagem).
— Estou chateado, não esperava isso dela. Tenho relação pessoal boa com a Manuela. Não vou ofender ela pessoalmente, não é o meu estilo. Eu já esperava que a eleição fosse dura, mas sem pessoalizar. Ela entrou no campo da honra. Se ela tem alguma questão em relação a apoiadores meus, que ela acha que são racistas, ela que faça o procedimento em relação a eles — diz Melo.
O candidato se disse especialmente indignado com a declaração da adversária por conta de sua origem humilde.
— Sou retirante de Goiás, cheguei aqui em 1978, trabalhei em lancheria, carreguei caixa na Ceasa. Convivi com as agruras da vida. Minhas atuações sempre foram pelos que mais precisam, pelos pobres, pelos negros. Ser chamado de racista, para mim, é uma ofensa à honra. Não aceito — rebateu Melo.
No campo da política, o emedebista segue angariando apoios para a sua aliança, que se tornou ainda mais ampla na reta final da eleição. Embora o PDT e Juliana Brizola, candidata da sigla no primeiro turno, tenham declarado apoio oficial a Manuela, parte da bancada de vereadores do partido e de lideranças da Capital está fazendo campanha para Melo, inclusive com participação em atos políticos.
— A Manu não nos procurou, não mandou emissário, nada. Veio por cima achando que resolveria com o (presidente nacional do PDT, Carlos) Lupi. Tomou o troco — diz, sob anonimato, um vereador do PDT de Porto Alegre.
Nesta quarta-feira, Melo também gravou programas para a propaganda eleitoral na TV e participou de mobilização eleitoral na Esquina Democrática.