Maior partido de esquerda do país, o PT busca recuperar nas eleições de 2020 o espaço perdido quatro anos atrás no Estado. À época, no auge da crise pós-impeachment da presidente Dilma Rousseff, a legenda elegeu somente 38 prefeitos — quase metade da performance da disputa anterior. Para reverter essa perda de popularidade, o PT terá cerca de 150 candidatos a prefeito e 50 a vice — em 2016, foram 123 no total. A meta é conquistar ao menos cem administrações e eleger em torno de 500 vereadores.
O projeto de retomada do protagonismo passa por uma situação inédita. Pela primeira vez em 40 anos de existência, o partido não terá candidato à prefeitura de Porto Alegre. Considerada anos atrás uma das principais fortalezas eleitorais da sigla e onde foi governo por quatro gestões sucessivas, de 1988 a 2004, a Capital não tem sido receptiva à legenda.
Nas duas últimas eleições, seus candidatos não chegaram nem sequer ao segundo turno. Desta vez, o projeto terá à frente a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), com o ex-vice-governador Miguel Rossetto (PT) de vice. A escolha de Rossetto reflete também uma dificuldade de renovação nos quadros do partido. O ex-ministro já concorreu ao Palácio Piratini em 2018, quando ficou em terceiro lugar com quase metade dos votos do segundo colocado. Na disputa pela prefeitura em 2016, a legenda havia recorrido ao ex-deputado Raul Pont, que já havia anunciado aposentadoria da vida pública.
A estratégia de repetir nomes conhecidos de eleitores foi retomada em alguns dos principais municípios. Em Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Bagé, Alvorada e Santa Rosa, por exemplo, voltarão a ter o nome na urna, respectivamente, os ex-prefeitos Pepe Vargas, Tarcísio Zimmermann, Luiz Fernando Mainardi, Stela Farias e Orlando Desconsi.
— O processo de renovação está acontecendo, implica um novo momento, de transformação do partido. Mas também não podemos abdicar dos bons quadros históricos que temos. Estamos muito bem nessas cinco cidades, com grandes chances de voltar ao poder — analisa o presidente estadual da sigla, deputado Paulo Pimenta, completando:
— O PT governa hoje, com prefeito ou vice, 74 ou 75 municípios, tem 473 vereadores e obteve 18,7% do total de votos na eleição de 2018. A ideia é fortalecer esse patrimônio, construir uma relação forte com nossos aliados e chegarmos em 2022 com plenas condições de elegermos o governador.
Entre as prioridades do partido, está a conquista dos cinco maiores colégios eleitorais (Porto Alegre, Caxias, Canoas, Pelotas e Santa Maria), além de cidades onde já é governo, como Rio Grande e São Leopoldo. Há ainda a expectativa de recuperar parte dos municípios da Região Metropolitana com o ex-deputado Nelsinho Metalúrgico em Canoas, o ex-deputado Edson Portilho em Sapucaia do Sul e o ex-presidente da CUT Jairo Carneiro em Gravataí. Em Esteio e Viamão, o partido irá indicar os vices em coligações lideradas pelo PDT. A dobradinha com o PCdoB se repete em Passo Fundo, onde o PT vai de vice do ex-deputado Juliano Roso.
Uma resolução nacional da sigla restringe as alianças a partidos do mesmo espectro ideológico, vetando qualquer aproximação com legendas identificadas com a direita. É um retorno à política de coligações que vigia nos anos 1990 no partido, bem diferente do PT de alguns anos atrás. Em 2012, por exemplo, Jairo Jorge, hoje no PSD, concorreu à reeleição em Canoas à frente de uma coalização de 17 partidos.
Paulo Pimenta cita a atual divisão de espaços com outras siglas de esquerda para rebater as acusações de uma suposta vocação hegemônica. Ele também refuta a predominância de um sentimento antipetista no eleitorado, lembrando que a legenda tem as maiores bancadas na Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados e uma liderança consolidada em pesquisas de preferência partidária.
— Trabalho muito com pesquisas e em todas o PT é o partido preferido, quase nunca com menos de 20%. O antipetismo hoje não é maior do que historicamente foi — assegura o dirigente.
Na campanha eleitoral, além do destaque primordial às pautas locais, o partido pretende discutir temas nacionais, como a oposição ao governo Jair Bolsonaro. Nas últimas semanas, debates internos também consolidaram como eixos da propaganda partidária o combate à fome e à evasão escolar, além de os investimentos na universalização do atendimento à saúde.