Além de alavancar duas candidaturas, a polarização representa efeito colateral à dupla rival. É o que mostram as sondagens de intenção de voto. O aumento da rejeição a Fernando Haddad (PT), que cresceu 11 pontos percentuais e chegou a 38% na pesquisa Ibope, o deixa próximo a Jair Bolsonaro (PSL), rechaçado por 44% dos votantes. Na última Datafolha, divulgada nesta terça-feira (2/10), o militar reformado viu sua rejeição oscilar de 46% para 45%, enquanto a do petista subiu de 32% para 41%.
Caso a dupla confirme a liderança nas urnas no domingo e avance ao 2º turno, a escolha do próximo presidente poderá ser definida menos por empatia e mais pela queda de braço entre antipetistas e críticos do deputado federal.
Desde que assumiu a chapa petista, Haddad se apresenta como representante de Lula, que teve a candidatura barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral. A tática de tentar herdar o espólio eleitoral do ex-presidente vem dando resultado, mas também traz inconvenientes.
– Haddad paga o preço do antipetismo. O aumento da rejeição se deve a ele estar bem colocado nas pesquisas e, por isso, vira alvo dos adversários – opina o cientista político da PUC-RJ Ricardo Ismael.
No levantamento do Ibope, os eleitores respondem em quem não votariam “de jeito nenhum” e podem escolher mais de um nome. O pior desempenho do ex-prefeito de São Paulo está entre eleitores das regiões Sul e Sudeste, homens, com Ensino Superior, que recebem mais de cinco salários mínimos, brancos e evangélicos.
Bolsonaro enfrenta dificuldades, em especial, entre as mulheres, jovens entre 16 e 24 anos, votantes com baixa escolaridade ou com renda de até dois salários mínimos e negros.
Campanha mais curta dificulta a reversão
Ambos os candidatos apresentam índices de rejeição maiores do que os atrelados aos candidatos à Presidência em 2014, quando a polarização foi reforçada no 2º turno da disputa. A então candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), em levantamento do Ibope divulgado um dia antes do pleito de 2014, era rechaçada por 30% dos eleitores, seguida de Marina Silva (então no PSB), com 18%, e Aécio Neves (PSDB), com 16%.
Em eventual 2º turno, com o mesmo tempo no horário eleitoral em rádio e TV, os postulantes ao Planalto tentarão diminuir as resistências em torno de seus nomes nos grupos em que são menos populares. Um obstáculo é a curta duração da campanha, de apenas três semanas. Outro fator visto como decisivo será o tom dos ataques ao adversário, que será ampliado, em especial, por quem estiver atrás nas pesquisas.
Ambos deverão buscar o aumento do leque de alianças, limitado no 1º turno pelo grande número de concorrentes. Ação que também integra as projeções de um futuro governo.
– Ganhe quem ganhar, o novo presidente terá de acenar aos partidos de centro para garantir governabilidade – diz o sociólogo e professor da Universidade Mackenzie (SP) Rodrigo Prando.