Uma imagem circula no Facebook e no WhatsApp com a foto de uma mulher e a frase "Essa senhora aparece na propaganda do Haddad chorando. Amelinha Teles, junto com seu marido, matou e esquartejou militares em nome da ditadura do proletariado". Maria Amélia de Almeida Teles — conhecida por Amelinha Teles — e o marido, Cezar Augusto Teles, não cometeram esse crime e nunca foram acusados ou julgados por ele.
Amelinha ficou em evidência nas redes depois de aparecer em um programa eleitoral do candidato à Presidência Fernando Haddad (PT) no dia 16 de outubro. Amelinha deu um depoimento contando como ela e o seu marido foram presos em dezembro de 1972 e humilhados pelos militares na frente dos filhos após uma violenta sessão de tortura. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a suspensão da veiculação da propaganda.
O casal foi preso junto a outros militantes do PC do B. À época, a acusação era de que o "agrupamento era prejudicial à segurança nacional" e estava relacionada ao que foi classificado como "propaganda escrita" do partido — a edição de jornais, panfletos e artigos com conteúdo supostamente subversivo. O processo é de março de 1973, e Amelinha foi condenada a 7 meses de reclusão.
No trecho do documento que detalha a atuação de Amelinha no grupo, não há qualquer menção ao crime de homicídio. O processo diz que ela e o marido eram responsáveis pelo setor de imprensa do partido e que a residência do casal havia se tornado um "aparelho" do partido. "Mantinha estreitos ligamentos com membros da organização e quando da doença de seu esposo mudou-se para outro 'aparelho', com recursos fornecidos pelo partido, onde mimeografou exemplares do jornal CLASSE OPERÁRIA, auxiliada por Carlos Nicolau Danielli, vulgo Antonio. Os documentos apreendidos em seu poder são altamente subversivos e bastariam para uma condenação", sustenta o processo.
Amelinha e o marido foram torturados no Destacamento de Operações de Informação — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), em São Paulo. O comandante da unidade era o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que participou das sessões de tortura do casal. Ele foi declarado torturador pela Justiça brasileira em 2008.
Ustra é frequentemente associado ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL). O presidenciável declarou, no programa Roda Viva, em julho, que seu livro de cabeceira é A Verdade Sufocada — A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça, de Ustra. Ele também dedicou à memória de Ustra o voto "sim" pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), acrescentando que ele era o "pavor" da então presidente. Dilma também foi torturada por Ustra durante a ditadura.
Tanto no vídeo da campanha do PT quanto em outros depoimentos, como os prestados à Comissão da Verdade e à novela Amor e Revolução, Amelinha descreve o tipo de tortura a que o casal foi submetido: cadeira do dragão, choques, espancamento e violência psicológica, com ameaças aos filhos. As crianças — Janaína e Edson, na época, com 5 e 4 anos, respectivamente — foram levados para verem os pais torturados. Janaína também participou do vídeo da campanha de Haddad, relatando que lembrava de ter sido forçada a ver os pais naquela situação.
Carlos Danielli, que foi preso junto com o casal, morreu em uma sessão de tortura. A versão apresentada pelo DOI-CODI em São Paulo era de que ele havia sido morto em tiroteio com policiais após tentativa de fuga. A história foi esclarecida pela Comissão da Verdade.
Após a veiculação do vídeo e da circulação do boato sobre Amelinha, ela passou a sofrer ameaças pelas redes sociais. Amigos gravaram um vídeo em apoio.
A montagem foi enviada para o WhatsApp do Comprova. Postagens sobre o tema em sites e redes sociais foram apagados. Entre as que ainda estão no ar, a da página Curitiba Contra a Corrupção teve mais de 12,1 mil compartilhamentos.
Falso
Amelinha Teles e seu marido jamais foram acusados de ter assassinado militares durante a Ditadura. O casal não cometeu esse crime.
Projeto Comprova
Este texto foi originalmente publicado no site do Projeto Comprova. Foi verificado pelos veículos parceiros SBT, Jornal do Commercio e Gazeta do Povo.
O Comprova é um projeto que reúne jornalistas de 24 diferentes veículos de comunicação brasileiros, incluindo GaúchaZH, para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas durante a campanha presidencial de 2018.