A ausência de sangue na região abdominal do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), nas imagens feitas no momento em que ele sofreu uma facada em comício em Juiz de Fora, em Minas Gerais, na quinta-feira (6), causou estranhamento em parte da população. Mas o fato está longe de ser incomum, de acordo com o gastroenterologista Guilherme Sander, coordenador da Unidade de Endoscopia Digestiva do Hospital Ernesto Dornelles.
Isso porque o abdômen tem poucas veias superficiais — ao contrário do pescoço ou dos pulsos, por exemplo —, que poderiam causar jorro externo de sangue. Como o corte atingiu uma artéria na cavidade abdominal, "escondida" pelos intestinos grosso e delgado, a hemorragia foi interna. Para entender o sangramento, pode-se imaginar um saco plástico com um recipiente com líquido dentro. Se uma faca rompe o saco plástico e depois o recipiente, o líquido inundará o interior do saco antes de vazar para fora.
— O intestino está dentro de um saco, que é a cavidade peritoneal. Ao ser cortado, é dentro deste saco que o sangue acumula primeiramente. Vai sair quando acumular ou a pessoa fizer uma compressão do abdômen — explica Sander. — Como Bolsonaro saiu carregado, o sangramento imediato se restringiu aos vasos superficiais menores e pôde ser contido pela pressão dos panos usados para tapar a ferida — completa.
O acúmulo de sangue na cavidade abdominal, por sinal, explica a intensa dor relatada por Bolsonaro em vídeo publicado nas redes sociais após passar por cirurgia. Conforme médicos que atenderam Bolsonaro no Hospital Santa Casa, o ataque fez com que ele perdesse 2,5 litros de sangue, o equivalente a 40% do volume sanguíneo de um ser humano médio. Isso levou à necessidade de transfusão de sangue.
A equipe médica verificou que o intestino grosso de Bolsonaro foi transfixado pela faca, mas o órgão foi costurado em cirurgia. Outras três lesões foram detectadas no intestino delgado, e também foram tratadas com êxito. Segundo a previsão dos médicos, o candidato deve continuar na UTI pelos próximos dias e deve permanecer hospitalizado entre 10 dias e duas semanas.