Dono da maior rejeição popular desde a redemocratização, o presidente Michel Temer se tornou um incômodo para seus maiores aliados no Estado. Os ex-ministros Osmar Terra (MDB) e Ronaldo Nogueira (PTB), além do vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (MDB), não fazem qualquer alusão ao chefe na propaganda de rádio e TV.
Atualmente em busca do sexto mandato consecutivo de deputado federal, Terra não cita sequer a pasta que ocupou por quase dois anos, o Ministério do Desenvolvimento Social. “Tenho uma longa trajetória de realizações na área da saúde, na área social. Fui prefeito de Santa Rosa, fui secretário da Saúde e ministro”, afirma na peça publicitária.
Terra era um dos mais ativos frequentadores do Palácio do Jaburu durante as articulações para o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). Com Perondi, buscava votos para depor a petista e manejava as tabelas com a posição de cada um dos 513 deputados. Com o êxito, queria ser ministro da Saúde, mas acabou liderando a pasta que cuidava dos programas sociais e da Previdência. Por força da legislação, deixou o cargo em abril para disputar a eleição.
Situação semelhante vive Perondi. Animados após o sucesso do impeachment, ele e Terra tinham um pacto: como ambos ambicionavam o Senado, quem estivesse melhor posicionado nas pesquisas ficaria com a candidatura. Com Temer na Presidência, Terra foi para a Esplanada e Perondi ficou na Câmara, atuando em prol do governo. Trabalhou pela aprovação de medidas polêmicas, como o teto de gastos e a reforma trabalhista.
Com a sucessão de escândalos que abalaram o Planalto, Perondi se tornou um dos mais fiéis e agressivos defensores do presidente. Capitaneou a derrubada das duas denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer, mas viu a desaprovação recorde do governo frustrar os planos de tentar uma vaga no Senado. Restou a busca pelo sétimo mandato de deputado. Na propaganda de rádio e TV, Perondi afirma fazer política séria, com “compromisso, coragem e sempre cuidando das pessoas”. Não há qualquer menção a Temer.
Nogueira assumiu o Trabalho por indicação do partido. À frente da pasta, conduziu uma das maiores apostas do governo, a reforma trabalhista. Antes e depois da votação, defendeu a proposta em seminários Brasil afora, classificando as medidas como “modernização das leis trabalhistas”.
Na campanha, porém, não cita a reforma, tampouco o governo Temer. Na internet, divulga ações como o saque de contas inativas do FGTS, a redução da idade mínima para retiradas do PIS/Pasep e a carteira de trabalho digital. Sua principal peça no rádio e na TV é sobre o seguro-desemprego. “Como ministro do Trabalho, implantei o pedido de seguro-desemprego pela internet”, diz Nogueira no comercial.
O que eles argumentam
Ronaldo Nogueira (PTB)
“Na minha trajetória política, nunca citei nenhum chefe do Executivo. Fui presidente da Fundação Gaúcha do Trabalho e nunca citei o nome da então governadora Yeda Crusius (PSDB). Nem foto ao lado de personalidades políticas tiro, jamais posei ao lado do maior líder do PTB, Sergio Zambiasi. Não uso as pessoas para me promover. Fui o idealizador da reforma trabalhista, tenho muito orgulho dela, é o meu legado. A partir de segunda-feira vai entrar alguma peça (no rádio e TV). Se atualmente temos melhores resultados na geração de empregos é por causa da segurança jurídica que a reforma garantiu”, diz o ex-ministro do Trabalho.
Darcísio Perondi (MDB)
“Sei falar de mim. Mas é preciso citar (o presidente Michel Temer)? Estou sempre falando nas reformas. Está implícito. Tenho dito todos os dias as reformas que liderei: a terceirização, as novas leis trabalhistas, o limite de gastos, a lei do pré-sal. Falo no governo que mais fez por hora, por dia, no Brasil. Me acompanha em um dia de campanha e tu vais ver as coisas que falo e como falo no governo”, afirma o vice-líder do governo na Câmara.
Osmar Terra (MDB)
“Todas as minhas publicações falam da relação que tive com o governo, o ministério. Na TV, o tempo é bem curto, 15 segundos, não dá para citar tudo. Mas fiz muitas coisas (como ministro) e acho que fiz coisas boas. Cito o presidente em discursos. Não tenho problemas em relação a isso e não acho essa questão relevante”, diz o ex-ministro do Desenvolvimento Social.