O dinheiro da campanha eleitoral em 2018 está mais enxuto e concentrado em nomes que já estão no poder. Dos R$ 55,5 milhões arrecadados por todos os candidatos a deputado federal no Rio Grande do Sul, 90,6% (R$ 50,3 milhões) vêm de financiamento público, abastecido pelo fundo eleitoral e pelo fundo partidário. Mais da metade dessa cifra foi distribuída a concorrentes que já têm mandato – em média, os políticos que buscam a reeleição arrecadaram quase 15 vezes mais do que os adversários sem mandato, fato que deve dificultar a renovação de parlamentares, avaliam especialistas. Hoje, 422 candidatos disputam as 31 cadeiras na Câmara.
A maior concentração de dinheiro em candidatos já conhecidos e a grande relevância das doações vindas do financiamento público, via diretórios partidários, ocorre na esteira da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2015, de proibir doações de empresas às campanhas políticas, após as denúncias de corrupção levantadas pela Operação Lava-Jato.
Partidos miram maior tempo de rádio e TV
Hoje o financiamento da campanha é feito com doações de pessoas físicas e do próprio candidato, mas principalmente pelo fundo eleitoral, uma verba de R$ 1,7 bilhão distribuída pelo Tesouro Nacional entre os partidos conforme sua participação no Congresso, e pelos R$ 888,7 milhões do fundo partidário. Os dois fundos representam, na campanha a deputado federal no Estado, R$ 50,3 milhões. Desse valor, 61,1% (R$ 30.750.706,40) estão destinados aos 28 parlamentares que buscam renovar o mandato.
O levantamento de GaúchaZH leva em conta dados parciais retirados do site do Tribunal Superior Eleitoral (TRE) na manhã de terça-feira (18).
Com o cobertor mais curto, os partidos optaram por priorizar o escasso dinheiro na tentativa de reeleger deputados federais. Segundo analistas, isso ocorre porque a presença na Câmara é fundamental para que as siglas, nas próximas eleições, recebam mais dinheiro público e tempo de rádio e de TV. No caso de legendas menores, a bancada na Câmara é fundamental para vencer a cláusula de barreira, um problema para partidos pequenos.
Ex-governadora tem a campanha mais rica
— O dinheiro está mais curto e concentrado, o que leva a uma tendência maior a não termos renovação nesta eleição. As campanhas são caras no Brasil por serem personalistas e em lista aberta, o que causa competição com adversários de outros partidos e da própria legenda. As doações estão focadas na Câmara porque a representação lá será fundamental para as próximas eleições e para a própria sobrevivência dos partidos — analisa Bruno Carazza, especialista em financiamento de campanha e autor do livro Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro.
— O fundo público está focado em pessoas que já ocupam cargo como estratégia de sobrevivência, porque há uma crença de que quem está no mandato terá mais chances de se eleger. É um raciocínio circular que nos leva a imaginar que haverá menos renovação e mais candidatos reeleitos. É um investimento mais seguro apostar nas candidaturas a deputado federal — completa Michael Mohallem, coordenador do centro de Justiça e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A candidata que mais arrecadou verba foi a ex-governadora Yeda Crusius (PSDB), com R$ 2,095 milhões – R$ 2 milhões vieram do diretório nacional do partido. Em seguida, vem Covatti Filho (PP), que arrecadou R$ 1,94 milhão, dos quais R$ 1,89 milhão saíram da conta do diretório nacional.
Candidatos com mandato também em vantagem na campanha à Assembleia
Prejudicados pela decisão dos partidos de destinar a maior parte dos fundos públicos para as campanhas a deputado federal, os candidatos às 55 cadeiras na Assembleia Legislativa vivem em um cenário de vacas magras. Dos R$ 26,6 milhões arrecadados no Estado, 54,1% vieram de financiamento público. O dinheiro é concentrado em poucos e em quem já é conhecido do eleitor: dos 20 concorrentes com campanhas mais ricas, 12 tentam a reeleição. No total, 44 parlamentares buscam novo mandato em outubro.