Crítico das práticas de "toma lá, dá cá", e sem medo de apontar o dedo para o próprio partido, o ex-senador Pedro Simon está pessimista. Afastado após ter atuado nos plenários públicos por mais de meio século — somados os mandatos de todos os cargos que ocupou ao longo da vida, o líder histórico do MDB gaúcho diz não ver chances para renovação dos quadros e classifica as recentes alterações nas regras para financiamento de campanha como tentativa de reação da velha e má política.
Aos 88 anos, o sopro de esperança de Simon reside nos estudantes e na ampliação, via redes sociais, da voz popular. Confira trechos da entrevista concedida por telefone a GaúchaZH.
Como a Lava-Jato está influenciando o fechamento de alianças para as eleições deste ano?
A influncia é geral, não só nas eleições. Nunca na historia da República um homem importante foi para cadeia na política. Pela primeira vez estamos esclarecendo os fatos. Mas há um confronto: ficou provado que existia caixa dois, mas agora a doação de empresas está proibida. Cortaram o caixa dois. Mas deputados e senadores com mandato vão ter o dinheiro (do Fundo Eleitoral). Saem as empreiteiras e entra o Tesouro Nacional, dinheiro da saúde, educação. Os atuais deputados vão ter uma enorme vantagem.
Os partidos mais disputados tem dirigentes como alvos da Lava-Jato ou condenados no mensalão. Como o senhor vê essa situação?
Os caras querem espaço, uns minutinhos a mais de televisão, uns deputados a mais para dar cobertura.
Apesar da Lava-Jato, a velha política ainda existe?
Está tentando reagir. Por que há campanha para tirar o Lula da cadeia? É que se ele não for solto, quem vai tirar os políticos dos outros partidos quando forem presos? É o que está em jogo. Um esquema por baixo entre MDB, PSDB, PT, todo mundo. É muito triste.
Há chance de renovação na política mesmo com tempo menor de campanha e menos dinheiro?
Não tem nenhuma chance. E tem mais: ninguém pode pegar dinheiro de empresa para a campanha, mas se o candidato é rico vai poder usar o dinheiro dele. É uma coisa fantástica.
Seu partido, o MDB tem diversos caciques investigados por corrupção.
É igual aos outros. Não tem nenhum santo. Não tem santo em partido nenhum, ninguém pode atirar a primeira pedra. E o coitado do povo vai ter que buscar a verdade no meio dessa confusão toda.
Sendo crítico à atuação do MDB, como é sua relação com a cúpula do partido?
Eles estão felizes da vida que estou em casa. Até me mandam recados, desejam minha saúde, mas que eu fique em casa. Não me chamam para nada. Mesmo assim, estou andando pelo Brasil, fazendo palestras para estudantes. E posso dizer uma coisa: as redes sociais estão revolucionando. A concentração popular vai aumentar, e o povo vai querer fazer as coisas.