A três meses da eleição, sete pré-candidatos ao governo do Estado apresentaram, nesta quinta-feira (5), em Porto Alegre, suas credenciais para comandar o Palácio Piratini a partir de janeiro de 2019. Diante de prefeitos de todo o Estado, Abigail Pereira (PC do B), Eduardo Leite (PSDB), Jairo Jorge (PDT), Luis Carlos Heinze (PP), Mateus Bandeira (Novo), Miguel Rossetto (PT) e Roberto Robaina (PSOL) responderam a perguntas da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), dando uma demonstração do que vem pela frente na campanha deste ano.
José Ivo Sartori não participou do evento, segundo a assessoria de comunicação da entidade, porque ainda não é pré-candidato – a decisão deverá ser anunciada oficialmente pelo MDB apenas no próximo dia 19. Já Robaina saiu mais cedo, devido a um compromisso.
Durante cerca de duas horas, os participantes discorreram sobre seis pautas: saúde, educação, ambiente, agricultura, segurança pública e mobilidade urbana.
O tema da crise nas finanças foi tangenciado por todos, mas de forma superficial, como de resto na maioria das respostas. Não houve embate direto.
Sentados lado a lado, eles se preocuparam em falar sobre trajetórias e planos. O tempo de cada resposta era de dois minutos. Cada um respondeu como quis, às vezes fugindo do tema.
Sem sinais de tensão no ar, os adversários não saíram do tom nem mesmo quando fizeram críticas à atual gestão. Heinze, por exemplo, afirmou que "está faltando liderança" e prometeu "pulso firme". Se for eleito governador, disse que vai liderar uma frente para pressionar a União a revisar a dívida e a compensar o Estado pelas perdas da Lei Kandir. Foi o mais aplaudido da tarde – vale lembrar que a maioria dos prefeitos e vice-prefeitos são filiados ao partido dele, o PP, que, até o início do ano, integrava a gestão Sartori.
— Estou convocando as senhoras e os senhores a se somarem nessa luta. Está faltando liderança. É o que o Rio Grande precisa – enfatizou Heinze.
Defesa de Lula provoca vaias de prefeitos
Rossetto, por sua vez, classificou o atual governo como "omisso" e "desistente". Abigail, que apostou em um discurso feminista, e Robaina, que apontou o "domínio da oligarquia financeira", também empilharam críticas à administração do MDB. No outro extremo, Jairo adotou postura apaziguadora: fez questão de dizer que "não atiraria pedras" em ninguém.
— Precisamos de convergência, de união, de liderança, de um governador que olhe para frente e não se resuma a lamúrias — ressaltou o pedetista.
Ao longo da tarde, houve apenas um incidente, que teve Rossetto como alvo. O ex-ministro foi vaiado ao defender a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e afirmar que gostaria de vê-lo novamente na Presidência da República. Apesar do constrangimento, Rossetto concluiu a frase sem se deixar intimidar.
— Foi uma falta de respeito, mas a gente já sabia que poderia acontecer. Tinha uma claque reunida ali — lamentou um assessor do petista.
Embora todos tenham reconhecido a crise financeira do Estado, apenas Bandeira e Leite foram incisivos ao afirmar, com todas as letras, que não poderiam prometer mais recursos para os prefeitos e que será preciso elencar prioridades.
— Estamos hoje pagando a conta do descontrole do passado — disse Leite.
Liberal convicto, Bandeira foi o único a defender a adesão ao regime de recuperação fiscal proposto pela União e a privatização de estatais. Segundo ele, o Estado "caminha numa linha muito tênue entre crise fiscal e colapso".
— Os recursos não vão aumentar de maneira substancial, seja quem for o governador. Muito provavelmente, o déficit será ainda mais severo no próximo ano — afirmou Bandeira.
Frases
"O debate não é sobre um Estado obeso ou raquítico. Vou governar um Estado necessário, com as políticas públicas que o povo precisa. E não serei enfeite de bolo. Não serei omissa. Coragem é uma característica da mulher gaúcha.
O que me coloca nesta disputa é a angústia de ver o Estado perdendo posições. Se nada for feito, e o ponto de virada está passando, vamos concretizar o que dizia um antigo artigo: vamos virar o novo Nordeste. Precisamos romper esse ciclo.
Quero ser governador para fazer diferente, para transformar vidas. Entendo que não é atirando pedras que vamos construir o Rio Grande que queremos. Vamos usar as pedras para construir o futuro que desejamos. O Rio Grande tem solução.
O Estado tem jeito e temos de mostrar uma forma diferente de administrá-lo. Não sou de reclamar. Vim aqui para trabalhar. Esse é e sempre foi o meu lema de vida. Assim nasci, assim sou e assim quero ajudar o Rio Grande.
Falhamos como sociedade ao levar ao poder, por décadas, pessoas que não souberam respeitar o dinheiro dos impostos. Esse Estado obeso é a expressão da velha política. Precisamos de um Estado que veja o setor produtivo como parceiro.
Os tempos difíceis que vivemos são resultado de um governo federal golpista e de um governo estadual omisso e desistente. Quero que o presidente Lula volte a liderar o país e quero governar o Rio Grande com uma proposta de mudança.
Queremos debater temas como sonegação, isenções fiscais, Lei Kandir e dívida. Estou convencido que ou o Estado enfrenta essas questões ou todas as discussões serão discurso jogado ao vento.