Entre segunda (23) e quinta-feira (26), o Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra realiza entrevistas com os quatro candidatos a vice-prefeito de Caxias do Sul. Cada bate-papo terá duração de 15 minutos, com mediação dos jornalistas Alessandro Valim e André Fiedler.
Alceu Barbosa Velho, que concorre com Denise Pêssoa (PT), é o primeiro entrevistado da série. Confira o bate-papo na íntegra:
Gaúcha Serra: Como é que está sendo para o senhor voltar para a política?Alceu Barbosa Velho: Olha, muito legal, porque eu fiquei oito anos fora. Eu saí do governo em 2016, final de 2016, e aí passei oito anos vendo de fora, e não gostei do que eu estava vendo. Então eu pensei o seguinte: eu não vou mais vaiar da arquibancada, porque vaiar da arquibancada é fácil, então, se eu acho que está errado, se eu acho que está mal feito, se eu acho que está sendo mal conduzido, e é assim que eu penso, eu vou lá para o campo jogar e não ficar criticando. Então foi essa a minha decisão.
E depois, numa parceria excepcional, que é a deputada, ex-vereadora, arquiteta, mãe de família, minha dileta amiga Denise Pessôa, que é uma pessoa que tem todos os requisitos de forma e mérito para bem administrar essa cidade de Caxias do Sul. Até porque é a única que tem uma relação política muito forte, muito profícua com o governo federal.
Queiramos ou não, hoje, pelo sistema federativo, as coisas estão em Brasília. Infelizmente um dia pode ser que mude, mas as arrecadações vão a Brasília e de lá retornam, então é preciso que haja essa relação política para que possamos trazer Caxias para aquele protagonismo que sempre teve.
Caxias é muito grande, Caxias é muito pujante. Eu fui oito anos vice-prefeito do Sartori, eu fui deputado estadual e depois prefeito, e as pessoas me perguntavam sempre: "prefeito, como está Caxias do Sul?" Eu dizia, pô, Caxias está bem, está fazendo isso, fazendo aquilo. Depois que saí da prefeitura, passou um tempo e as pessoas me perguntavam diferente: "prefeito, o que houve com Caxias do Sul?" Então, com essa condição é que eu não concordei mais, e eu disse: puxa vida, se é assim, e de fato é, vamos lá para o campo de jogo para ver o que está acontecendo e retornar esse protagonismo, não só de Caxias, mas regional.
A primeira coisa regional importante que eu trago é essa questão da saúde, dos 49 municípios que "se abastecem" da saúde de Caxias do Sul. Nos reunimos com todos, a Dilma (Tessari), nossa secretária da saúde, e todos assinaram contratos com a prefeitura para que, se viessem a Caxias do Sul, trouxessem seus doentes, mas pagassem o equivalente aos seus doentes, e não Caxias pagar a conta.
Então havia esta unidade com a liderança do prefeito. Então não adianta o prefeito só dizer: "não, porque todo mundo vem para Caxias", mas só conversa e não age, ou não tem liderança para agir. Isso que é importante, é Caxias do Sul se impor, porque, afinal de contas, nesse conglomerado da Serra, Caxias do Sul, induvidosamente, é a capital.
Então nós precisamos fazer voltar esse protagonismo de Caxias do Sul e é por isso que eu me propus nesta coligação ser o vice-prefeito.
Gaúcha Serra: O senhor foi prefeito no que se chamava de terceiro andar do governo Sartori. O senhor havia sido vice dele, o atual prefeito foi seu secretário e, no entanto, hoje o senhor é vice da candidata Denise Pessoa, que era oposição a sua gestão. Como é que se deu esse arranjo político? Lhe questiono até porque é algo que gera muitas dúvidas no eleitor e, às vezes, até questionamento. Como é que se deu esse reagrupamento, vamos dizer assim, das forças políticas?
Alceu: Tranquilo, são composições políticas. Eu podia ter respondido assim: eu vejo em Porto Alegre, eu não vou longe, em Porto Alegre, o Eduardo Leite, que é do partido do prefeito, está fazendo campanha para a Juliana Brizola, que é do meu partido, e que lá é contra o PT, por exemplo.
Então, são composições, tem em Nova Roma, que elegeu um prefeito antes da eleição, que é uma composição enorme, tem um prefeito que é do PT, e outras tantas de outros partidos. Então, a composição política é de ocasião, porque a eleição municipal é diferente da estadual.
Mas eu te trago um exemplo para ver que não tem nada de errado nessas composições, sejam elas quais forem. Em Caxias, como você disse, isso surpreende. Não, não surpreende, porque se você pegar a coligação do prefeito (Adiló Didomenico), eles têm quatro ministros no governo federal: Portos e Aeroportos, Turismo, Comunicações e Defesa.
Se você pegar o governo do candidato do MDB, por exemplo, do Felipe (Felipe Gremelmaier), eles têm seis ministros no governo federal. Se você pegar o governo do candidato Scalco (Maurício Scalco), eles têm um ministro, que é do PP, do Esporte, o Fufuca (André Fufuca).
Então, lá em Brasília, esses partidos que aqui em Caxias têm matizes diferentes, lá em Porto Alegre e lá em Brasília, estão todos juntos no governo federal. Então eu vejo isso normal, o que tem a mais em Caxias, o componente, é uma dose de hipocrisia maior, porque lá pode, porque muitas outras cidades podem e Caxias não pode.
Gaúcha Serra: Mas ainda no ritmo dessa pergunta, o eleitor tem entendido isso? Tem recebido um retorno positivo do seu eleitor tradicional?
Alceu: Ah, o eleitor tradicional, ele de repente diz "mas ué?", agora o termo que eles usam é "mudou de lado". Não, eu não mudei de lado porque eu sou o mesmo, eu sou do PDT e nunca troquei de partido. Aliás, se tu fizer uma análise aí nesses candidatos, é difícil ver um que não trocou de partido.
A Denise tem o mesmo partido e eu o meu, e eu sempre digo das composições: o que importa é que ela seja honesta, que ela não tenha subterfúgios, que ela não tenha interesses escusos. No momento que eu faço uma composição, eu só não, o PDT e muitos outros partidos que estão conosco.
É com uma pessoa de valor, uma candidata federal que já mostrou a que veio, uma mulher que tem quatro mandatos como vereadora, presidente da Câmara de Vereadores e que, como deputada federal, tem se mostrado eficiente, arquiteta, urbanista.
Então, a coligação é para somar forças para que Caxias volte a ter protagonismo, para que Caxias volte a ser grande, para que nós pensamos no aeroporto de Vila Oliva, que eu coloquei os marcos geodésicos lá quando estava quase saindo do governo. Tudo estava caminhado e de lá para cá pouco ou nada se ouviu falar ou houve um interesse.
Esses dias eu vi até o prefeito dizer que estava com dificuldade de agenda, de passagem para ir a Brasília. Eu (quando prefeito), quando falava que era do aeroporto, eu saía correndo para o aeroporto, ia para Brasília. Nós trouxemos para Caxias a planta do aeroporto de Vila Oliva, nós trouxemos lá do Ministério da Aviação.
Então tudo ficou encaminhado e, de repente, uma coisa que é muito importante fica de lado, passa ao largo, que, de repente, é mais importante uma campanha de reeleição do que brigar pelo aeroporto. Então essas coisas todas que eu digo que não pode, e vocês lembram, há quatro anos atrás, quando eu fui prefeito, há oito anos atrás, eu sou contra a reeleição e não fui para a reeleição.
O que nós estamos vendo agora? Um prefeito que se preocupou com quase nada durante o mandato, quase nada, e agora não na última hora, na hora da eleição, tenta fazer obra por Caxias inteira.
É obra aqui, obra ali, o que é isso? Isso é falta de planejamento e obra eleitoreira. Eu disse esses dias que isso chega a ser um deboche com o povo de Caxias, porque você não pode pensar que tem que fazer obra só na hora da eleição, você tem que trabalhar do primeiro dia de governo até o último. Pensando nisso, e foi o que eu fiz, eu inaugurei escola infantil até o último dia do meu governo, quando fizemos 10 escolas infantis, todas em turno integral e todas entregues.
Os corredores de ônibus, olha a buraqueira que foi naquela época, mas o que houve? Houve um planejamento, faz 100 metros, cura o concreto e passa para frente, mais 100 metros, mais 200 metros, mais 500 metros, cura o concreto, começa a passar os carros, libera as garagens e vamos para frente.
E nós terminamos os corredores da Pinheiro Machado, da Sinimbu, da Avenida Itália e, quando terminou, eu pergunto, tinha algum buraco perto ou nos corredores de ônibus?
Nenhum, por quê? Porque um prefeito precisa planejar, ele tem que saber que são quatro anos de planejamento e o não planejamento transformou nossa cidade nessa loucura que
Gaúcha Serra: Candidato, o senhor disse que as pessoas lhe questionam o que houve com Caxias, depois que o senhor saiu da gestão, qual é a resposta que o senhor dá?
Alceu: Falta de protagonismo, falta de pulso firme, falta de você ter representatividade, falta de você ter a Festa da Uva. Eu, prefeito, tomo a frente e vou lá e entrego o convite para o presidente Lula, eu vou lá e entrego o convite para o presidente Bolsonaro, eu vou lá e entrego o convite para o presidente Dilma, eu vou lá e entrego o convite para o presidente Fernando Henrique Cardoso. Você entendeu? Eu cheguei a entregar o convite para a Festa da Uva para a presidente Dilma na última edição ali na BR-448, quando ela veio inaugurar, para ter oportunidade de fazer Caxias aparecer, fazer Caxias ter esse protagonismo.
Então, há que se ter vontade, há que se ter, como nós dissemos na nossa propaganda, Acelera Caxias, por isso que nós fizemos esse plano de ação, um plano de ação factível, com quem tem experiência. Quando eu fui prefeito, ela foi oposição, mas era sempre um diálogo respeitoso e acima de todas essas questões que o vice-prefeito é importante, tem que ter o diálogo. Eu me lembro quantas tarefas o prefeito Sartori me deu e eu desempenhava discretamente, mas desempenhava, por quê? Porque o papel do vice, acima de tudo, é saber o seu lugar, o vice tem que conhecer o seu lugar e quando provocado pelo prefeito, nas férias e outras situações, por exemplo. Teve uma greve de médicos em Caxias do Sul que não terminava mais, no governo Sartori, eu assumi e terminou a greve de médicos. Teve um problema lá do loteamento (Monte Carmelo), que teve uma invasão, a pessoa se enterrou lá na terra e tal, lá em cima do morro. Encheu a Câmara de Vereadores, o prefeito Sartori disse: "é o seu, vai lá, resolve". Fui lá, de repente todo aquele pessoal que estava enterrado lá e tal, estava lá no meu gabinete conversando e acertamos tudo. Então esse é o papel do vice-prefeito, é ele ser uma retaguarda ali do prefeito, quando o prefeito tem necessidade e às vezes o prefeito não pode, de fato, se expor, tem que ter um timoneiro ali que vá à frente e faça.
Quando foi para conseguir esse asfaltamento do interior todo. Sartori me nomeou, vai chefiar uma comissão, é você, o Búrigo e o Cabelon, e saímos atrás de dinheiro para o asfaltamento do interior de Caxias do Sul, que nenhum distrito ficou sem ligação asfáltica. Lá fomos nós e quando voltei e prestei contas para o prefeito, eu disse, "ó, não procura outro lugar, vai na Confederação Andina de Fomento, a CAF, que lá nós temos o dinheiro, inclusive para fazer esse malfadado entroncamento ali do bairro Planalto", que aquilo ali tinha um projeto com dinheiro no caixa da CAF, eram dois milhões de dólares, porque tinha uma passarela e tal, nem isso fizeram.
As estradas do interior, que eu deixei 33 milhões de dólares, não conseguiram terminar em oito anos, com dinheiro e projeto. Então, é isso tudo a minha inconformidade, e pensando nesta relação política destacada da prefeita Denise, vejam só, a Universidade Federal, estava, muitas mãos ajudaram, muitas mãos, inclusive a Rádio Gaúcha Serra, quanta reportagem, quanto fez por isso. Mas chegou um momento que tinha que decidir, e a Denise estava no lugar certo na hora certa, e de 10 universidades federais no Brasil, de São Paulo para baixo, só tem um lugar que tem, e é Caxias do Sul. O que isso significa? Relação política, prestígio político, e isso que nós vamos transformar novamente essa cidade de Caxias do Sul com essa relação que temos.