Entre segunda (23/9) e quinta-feira (26/9), o Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra está realizando entrevistas com os quatro candidatos a vice-prefeito de Caxias do Sul. Cada bate-papo tem duração de 15 minutos, com mediação dos jornalistas Alessandro Valim e André Fiedler.
Gladis Frizzo, que concorre com Maurício Scalco (PL), é a terceira entrevistada da série. Confira o bate-papo na íntegra:
Gaúcha Serra: A senhora tem experiência de vereadora de alguns mandatos, de líder comunitária, e está numa nova experiência agora na candidatura ao Executivo. Como é que tem sido essa experiência, como é que tem sido essa campanha até agora?
Gladis Frizzo: Para mim, é uma alegria muito grande ter tido essa oportunidade, até porque eu sou uma mulher, e a gente tem lutado muito para estar onde a gente quer. E a política sempre teve o meu carinho e a minha atenção, justamente porque eu venho de uma comunidade que é o Desvio Rizzo, onde a gente teve que trabalhar muito para poder ter melhorias, como ônibus, como UBSs (unidades básicas de saúde), como escola, como ruas pavimentadas.
Então, comecei ali, como líder comunitária da segurança, da saúde, por dois mandatos eu fui vereadora e esse novo desafio para mim está sendo maravilhoso. Quando eu estive à frente da subprefeitura do Desvio Rizzo, eu pude ter o gostinho de ser um pouco administradora daquela mini-prefeitura.
Na verdade, são 70 mil habitantes que nós atendíamos na subprefeitura, com apenas 12 homens e duas mulheres para trabalhar. Então, ali eu já consegui desenvolver um bom trabalho, acredito, porque quando fui eleita com quase 4 mil votos, foi a comunidade do Rizzo que acreditou em mim para ser vereadora.
Aí nós tivemos bastante serviço com rede de esgoto, passamos por tempestades, acho que na época foi a maior tempestade que teve, fazia 40 anos que não havia chuva como em 2013, que eu estava na subprefeitura. O Rizzo era um lugar que alagava muito, e nós tivemos que fazer várias redes de esgoto novas lá.
Então, para mim é uma alegria poder hoje estar concorrendo a vice. Pretendendo continuar o serviço que eu comecei lá, de poder ajudar as pessoas, de poder solucionar os problemas. Eu sempre senti na pele as dificuldades das pessoas que moram em bairros onde não tem um atendimento que elas realmente merecem.
Gaúcha Serra: Em 2019 a gente teve o afastamento do prefeito Daniel Guerra, prefeito de direita. Na época a senhora já era vereadora, então no MDB, votou pela admissibilidade do processo. Depois, na sessão do afastamento em si, a senhora estava de licença, o seu suplente, vereador Adriano Bressan, naquele momento, votou a favor também. De lá para cá, o que mudou na direita em Caxias do Sul e na sua relação com a direita?
Gladis: Bom, neste dia que tu estás falando, foi precisamente no dia 20 de dezembro, era o dia que eu estava enterrando o meu marido. Foi por isso que eu não estava presente na sessão, né? E aí o meu colega assumiu naquele momento. Mas eu tenho comigo o seguinte pensamento: quando a gente assume algum cargo público, quando a gente é servidor, a gente tem que esquecer partidos.
Quando eu entrei na subprefeitura do Desvio Rizzo, eu trabalhei para todos. Eu não olhava de que partido a pessoa era para realizar o trabalho, eu realizava o trabalho porque aquilo era a minha obrigação.
Eu recebia, inclusive, para isso. Quando Daniel Guerra assumiu a prefeitura, eu lembro que eu estive no gabinete dele, como estive em todos os outros gabinetes, quando o próprio (Flávio) Cassina assumiu (cumpriu mandato tampão após o impeachment de Guerra), depois eu estive lá, quando o prefeito Adiló assumiu.
Todos os prefeitos que assumiram, eu estava lá e me colocava à disposição de todos os governos para trabalharmos juntos. Porque muitas das pessoas que votavam em mim como vereadora, também votavam no prefeito, talvez as vezes que não era o meu prefeito e vice-versa, né? Então, eu sempre me coloquei à disposição para trabalhar para todos. Sempre tive um bom relacionamento com todos. Às vezes, eu perco a paciência, sim. Eu tenho 62 anos e tem coisa que eu não consigo ainda admitir.
A burocracia, a demora, as coisas não acontecerem... Porque para mim só o que não tem solução mesmo é a morte. O resto a gente precisa achar uma solução. Seja ela de curto prazo, longo prazo, médio prazo. A gente tem que achar uma solução.
Gaúcha Serra: Sempre trabalhando, digamos, em prol da coletividade, mas houve uma transformação política, né? De alguém que foi do MDB, do PMDB, a senhora foi subprefeita do governo Alceu Barbosa Velho (PDT), e agora se posiciona como uma pessoa mais de direita. Como é que foi essa transformação? A senhora mudou, a política mudou, o que aconteceu nessa mudança?
Gladis: Sim, eu mudei também. Eu mudei porque, quando a gente é jovem, às vezes a gente toma até algumas decisões erradas, né? Eu acho que é um amadurecimento meu, politicamente.
Gaúcha Serra: A senhora mencionou ali no início a sua experiência na subprefeitura, essa experiência administrativa. Desde lá a senhora já enxergava no futuro um papel no Executivo dentro da sua trajetória?
Gladis: Não, sinceramente, não. Eu, quando jovem, fui secretária, quando casei, fui lojista por 36 anos, e a vida me levou a ser política, ou talvez eu era uma política e nem sabia que era. Eu trabalhei na minha comunidade como catequista, vendi rifão, servi mesa, vendi roupa, tinha um magazine. E aí as pessoas chegavam no meu estabelecimento e falavam dos seus problemas pessoais ou da sua rua, ou das dificuldades que tinham as mães para deixar os filhos na creche para poder trabalhar.
E eu sempre me coloquei no lugar dessas pessoas. Então, muitas vezes, eu vou contar até um caso aqui. O meu pai trabalhava na época na Frangosul, hoje é JBS. E a minha loja era bem na frente. E chegou uma mãezinha lá na minha loja praticamente chorando. A empresa tinha levado ela para o Hospital Pompéia na época, mas não tinha leito, e o filho estava com febre. E eu me coloquei no lugar dela e eu liguei para a empresa. Inclusive, o meu pai era o motorista da Kombi, na época era uma Kombi. E eu pedi para o gerente: senhor, deixa eu ir levar ela para o hospital? Senhor, manda o motorista aqui com o veículo, eu vou acompanhar ela. E a gente vai ter que achar um leito para essa criança. E aí eles deixaram, eu fui.
Aí nós chegamos no hospital: "Não, não tem, não tem, não tem". Tem que ter. E aí eu chamei a chefe e disse para ela: "Você é mãe?" Aí ela disse, "sou". "E se fosse o seu filho? A senhora não iria preferir que atendessem ele, inclusive nesse corredor?" Aí ela disse: "nós temos um quarto só, que ele é para particular. Mas eu vou ceder esse quarto, esse leito para esse menino." Então, desde essa época, eu tinha essa veia de me colocar no lugar das pessoas e procurar melhorar a vida das pessoas. Mas eu nunca, não era da minha intenção um dia ser política.
Quem me convenceu a ser, a me candidatar a vereadora, foi a minha comunidade. Eu sempre trabalhei em prol da comunidade. Então eles iam lá e diziam: "você precisa representar a comunidade, nós precisamos que você concorra." E eu lembro que eu dizia para algumas pessoas, "olha, eu vou, mas vocês não vão me fazer passar vergonha."
E de fato, a primeira vez que eu concorri, eu não me elegi, eu fiz 1.740 votos. Fiquei suplente. E aí eu assumi a subprefeitura, como eu disse para vocês, acredito que daí eu fiz um bom trabalho. Porque daí eu fiz 3.975 votos. Eu fui a mais votada do MDB. Fiquei a quarta mais votada de Caxias. E nessa segunda legislatura, eu fiz 3.092 votos. Eu diminuí um pouco, mas eu fui a mais votada do MDB de novo. E fui a mulher mais votada do MDB de todo o Estado. Então, para mim, é um prêmio.
Porque é um trabalho que mostra que a gente trabalhou de acordo. Então, se eu puder ser uma vice, eu gostaria que as portas do meu gabinete estivessem sempre abertas para que eu pudesse receber a comunidade. Porque o nosso plano de governo, junto com o Scalco, é trabalhar conforme as necessidades das pessoas. Nós não podemos governar conforme nós queremos, como eu digo, cada bairro também tem a sua prioridade. Nem todos os bairros têm a mesma prioridade.
Gaúcha Serra: a gente falou antes sobre a questão do Governo Guerra, a senhora não votou por questões particulares no impeachment, mas votaria favoravelmente, é o que tudo indica. Uma das comparações políticas que tem surgido é da candidatura Scalco com a candidatura Guerra no passado. Como é que a senhora vê esse tipo de comparação?
Gladis: Eu vejo que os nossos adversários estão jogando sujo conosco. Eles estão incutindo isso na cabeça das pessoas. Não tem nada a ver o Scalco com o Guerra. Eu não vejo essa comparação porque ele é jovem, porque ele tem muita vontade de trabalhar. Eu vejo meus colegas, eu fico triste até, porque eu escutei as entrevistas deles aqui, poxa vida, eles tiveram praticamente 14 anos no governo e não fizeram o que tinha que ser feito, e não querem deixar que a gente faça o que tem que ser feito.
Eles vêm dizer que agora eles vão fazer, agora eles têm plano para tudo, eles têm solução para tudo. E que nós estamos vendendo ilisão, nós estamos vendendo realidade. Quem não vê as ruas como estão? Quem não vê a poda das árvores como estão? Quem não vê a escuridão que estão nas nossas praças invadidas por mato? Mato de um metro e meio, da minha altura. Quem não vê as goteiras nas salas de aula, e agora vão fazer? Ora, me desculpe, eu acho que é querer enrolar o povo, mas o povo não é, eu acredito, que o povo está enxergando e o povo não quer mais saber dessa política. Essa sim é a verdadeira política antiga, fazer obras apenas nos últimos meses anteriores à campanha e prometer que precisa de mais quatro anos para, nos próximos quatro anos, resolver tudo.
Gaúcha Serra: Para quem faz essa comparação entre Daniel Guerra e Scalco, o que a senhora destaca de diferenças, então?
Gladis: Eu vejo toda a diferença do mundo. O Daniel Guerra tinha um discurso, tanto eu quanto o Scalco, a gente não tem um discurso bonito, a gente não sabe falar bonito, o que a gente quer é resolver os problemas. Quando o Scalco entrou, nos primeiros meses que eu vi o Scalco, porque ele entrou como vereador, eu o observava, porque ele me chamou a atenção desde os primeiros momentos, por ser uma pessoa ética, responsável, falava com segurança. Não falava bonito, talvez, mas falava aquilo que era verdadeiro.
O Scalco é pai, o Guerra não era pai, o Scalco sabe o que ele quer para a filha dele, o Scalco sabe o que ele quer para a família dele. O Scalco tem irmãos, cunhados, que são servidores públicos. Isso também é outra coisa que os nossos adversários estão plantando entre os servidores públicos. Que nós vamos acabar com tudo, que nós vamos privatizar tudo. Isso é impossível. Isso não é verdade. Nós queremos é que o povo nos dê a chance de mostrar o que é trabalhar com o coração, o que é trabalhar com a razão também.
Gaúcha Serra: Tem sido usado muito o "já", as coisas têm que ser feitas já. Com a sua experiência, inclusive, de administração, é possível fazer as coisas já? Isso não pode causar uma frustração daqui a pouco pelas próprias amarras, pela burocracia que a senhora citou que existe?
Gladis: Eu vou só te dar um exemplo. Eu dou exemplos, então, não é nada que fica no ar. Quando eu assumi a subprefeitura em 2013, eu, como subprefeita que não tem muito poder, eu consegui recapar toda a Rua Cristiano Ramos de Oliveira nos meus primeiros seis meses. Então, tu acha que não é possível fazer em Caxias? Lá eu tinha 12 homens, aqui vamos ter 600. Eu sei que a cidade é grande, mas basta querer, basta ter vontade.