
Desde a última segunda-feira (26), sempre às 7h15min, o Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra entrevistou os candidatos à prefeitura de Caxias do Sul. O bate-papo teve duração de 30 minutos cada, com mediação dos jornalistas Alessandro Valim e André Fiedler.
Scalco é o quarto entrevistado da série. Confira o bate-papo na íntegra:
Gaúcha Serra: O senhor é vereador e está concluindo o seu primeiro mandato eletivo. Não tem experiência no poder Executivo. O que leva o senhor a querer ser prefeito e a julgar que tenha a experiência e condição para ser prefeito já nesse momento?
Maurício Scalco: Eu me elegi vereador e fui um dos vereadores que mais fiscalizou o poder Executivo em Caxias. Eu sou um grande fiscalizador de números públicos, de gastos públicos, protocolei mais de 20 projetos de lei que melhoraram a vida das pessoas e da cidade de Caxias do Sul. Até quero contar um deles que, quando entrei como vereador, Caxias do Sul não fazia pregão eletrônico, e então, eu propus um projeto obrigando a fazer. Subi na tribuna e expus o caso, porque o governo federal fazia pregão eletrônico há mais de 10 anos. Quinze dias depois houve o primeiro pregão eletrônico em Caxias do Sul, e para o pessoal que está nos ouvindo, e para surpresa, houve 42% de desconto na primeira compra. Vocês imaginam quantos milhões de reais Caxias gastou nesse período por não fazer pregão eletrônico.
Então essas economias que o meu mandato trouxe, com a cobrança, com a fiscalização, trazem um benefício gigante para a cidade, porque sobra dinheiro para aplicar na saúde, na educação e na segurança. Também um outro projeto importantíssimo que eu fiz no meu mandato: há três anos eu protocolei o projeto de seguro de obras públicas, seguro garantia em obras públicas. Obras que nem lá no Rizzo, que está parada, se tivesse o prefeito pegado o meu projeto e feito um seguro de obra pública, com certeza aquela obra não estaria parada, porque teria um seguro garantia para poder concluir a obra, assim como a rótula ali da subida do Planalto.
Então, são muitos projetos, são mais de 20 que eu fiz. O projeto do 5G liberando as antenas, é projeto meu aqui em Caxias. O projeto de transparência no IPTU, para as pessoas saberem quanto é arrecadado por bairro, para poder cobrar. Como é calculado o valor do imóvel e o valor do IPTU, para dar transparência, é um projeto meu. Assim, as pessoas sabem quanto o seu bairro arrecada e pode cobrar melhorias no seu bairro, porque sabe a arrecadação que o bairro está tendo no IPTU. Isso é muito importante, além de 49 emendas em projetos de lei, eu tenho uma emenda no PPA também, que amplia as hortas comunitárias, que é importantíssimo pois vários bairros utilizam hortas comunitárias para a comunidade.
A LAC, que é uma indicação minha também, que é Licenciamento Ambiental por Adesão e Compromisso, que muda o princípio da boa-fé para quem quer empreender na cidade, uma autoliberação do seu negócio, uma vez eram muito complicadas as liberações ambientais, é um projeto meu também. Então eu tenho muitos projetos que mudam a vida das pessoas, auxiliam, trazem transparência.
É um mandato que fiscalizou as obras públicas, além de estar presente no bairro, cobrando que o Executivo feche o buraco e tenha limpeza. A gente fiscalizou muito os balanços das empresas, principalmente Codeca e Samae. Uma outra descoberta que eu fiz também no meu mandato, que eu botei indicação, eu acho muito importante a população saber, é que o que acontece com o Samae, que cobra a taxa de água e afastamento de esgoto nas galerias mistas, que é onde o esgoto cloacal cai junto com a água da chuva, e aí mistura. Agora, o Samae é obrigado pelo Marco do Saneamento a concluir a separação do esgoto da chuva com o esgoto cloacal.
Essa água que cai nessas redes gerais, quem faz a obra é a Secretaria de Obras. Então ela usa cascalho, patrola e mão de obra da prefeitura, usa toda a infraestrutura da Secretaria de Obras, e quem recolhe o dinheiro é o Samae! Daí o Samae, que é o primo rico, como dizem, fica com a arrecadação, e a despesa fica no caixa da prefeitura. Então, falta dinheiro para poder fazer as obras necessárias da cidade. E o Samae fica com o caixa. E esse repasse que o Samae deveria pagar para a prefeitura que está realizando essas obras, o dinheiro não vem. E daí, quando eu descobri isso, também no meu mandato, eu fui para a tribuna, comecei a brigar e dizer que está errado essa forma. Porque daí você capitaliza o Samae por uma obra que é realizada pela prefeitura.
Para o pessoal de casa entender, é que nem você, motorista de Uber, você cobrar e alguém pagar a sua gasolina. O lucro é muito maior, e o lucro do Samae, boa parte do caixa é por causa disso. Quando eu comecei a cobrar, eles começaram a dizer que iam fazer uma obra de contrapartida, de drenagem. É mais que a obrigação do Samae fazer isso e pagar, porque o dinheiro desses 15, 20 anos que ele reteve, são mais de R$ 100 milhões, R$ 200 milhões, que era dinheiro que deveria estar na Secretaria de Obras, entregando serviços públicos na ponta. Então, a gente vê que a gente passou agora quatro anos com o prefeito, sem comprar sequer brita. Tem as obras dos calçamentos comunitários, que a gente chama, que é uma contrapartida. O prefeito entra com a pedra, com a cancha, que a gente chama, e o morador só paga a mão de obra. Não tinha pedra, as estradas do interior não tinham cascalho. O interior não conseguia desafogar a produção porque não tinha patrulhamento e cascalho. E tudo porque o caixa, que deveria estar na Secretaria de Obras, que nós deveríamos ter dinheiro disponível para fazer as obras públicas, ficou com o Samae.
Gaúcha Serra: O município, até pela sua limitação do poder de atuação, depende muito do governo do Estado e do governo federal. Hoje, no governo do Estado nós temos o PSDB, no governo federal o PT, aos quais o senhor e o seu partido fazem uma oposição contundente. Como o senhor pretende conduzir a relação com esses entes em favor dos interesses de Caxias?
Maurício Scalco: Olha, em primeiro lugar, são os interesses da cidade. Quando eleito prefeito, nós estamos administrando para todos, independentemente de partido, a gente administra a cidade e os interesses do povo caxiense. A gente precisa dar resultado na ponta, para a população que está ali no bairro precisando da UBS que não funciona, precisando de médico. Nós temos que dar resultado nas vagas, nas escolas, que muitas vezes estão faltando. Vagas em creche são 4 mil vagas faltando em Caxias do Sul.
E a gente tem que trabalhar por Caxias, independentemente do governo estadual e federal, a gente tem que apresentar projetos estruturantes, planejar a cidade de Caxias a curto, médio e longo prazo, que é o que não é feito hoje. E levar esses projetos, ter um banco de projetos grandes, para poder entregar esses projetos e captar dinheiro novo. O dinheiro novo tem que vir do governo federal, tem muito dinheiro lá. Só que a gente não apresentando projetos para trazer essas obras para Caxias, o dinheiro não vem.
Precisamos, para começar, de projetos. Caxias não tem projetos. Então, o diálogo é aberto. Nós temos que defender os interesses de Caxias e da nossa região, isso é o principal, não existe partido para isso. Existe a cidade de Caxias do Sul.
Gaúcha Serra: Ao longo da sua trajetória como vereador, o senhor tem defendido, por exemplo, as privatizações. Em relação a Caxias, em relação à futura gestão sua, o senhor vê espaço para privatizar alguma coisa em Caxias? O que seria possível privatizar?
Maurício Scalco: É muito boa essa pergunta, porque é uma pergunta que circula e muitas vezes a gente não tem oportunidade de responder. Nosso maior bem em Caxias é a água, e somos um dos poucos municípios que tem água abundante e tem como fazer novas represas, novos reservatórios, que isso aí é o futuro. Então, não se fala em privatizar a água em Caxias.
Quanto à Codeca, por ser uma empresa pública, ela tem a permissão para explorar a coleta do lixo. A partir do momento em que fosse privatizada, ela perde o direito de exploração do lixo, porque você tem que abrir uma nova licitação, porque você não pode transferir, vendendo uma empresa, um direito de exploração, você tem que abrir um novo edital para fazer a exploração do lixo. A Codeca é uma empresa que apresenta há anos um problema sério, de dar prejuízos frequentes. Para vocês terem uma ideia, mais ou menos R$ 35 milhões de prejuízos acumulados nos últimos anos. A prestação de contas era feita sempre na Câmara de Vereadores e, pela minha formação em administração e Direito, é normal que eu saiba olhar balanços, conseguir ver os números e analisar esses números.
Quando chegou agora a última prestação de contas esse ano, que disseram a Codeca está com R$ 600 mil ou R$ 700 mil e voltou a ter receita positiva, eu comecei a olhar os números e disse poxa, a Codeca pegou e parcelou em 30 meses R$ 7 milhões de impostos. Ela jogou para frente para diluir em 30 meses uma dívida de impostos, que os impostos têm que pagar no vencimento. Então ela fez caixa com isso. O balanço não está incorreto, mas a gente sabe que se a gente jogar para 30 parcelas R$ 7 milhões ou R$ 8 milhões de impostos, esses R$ 700 mil ou R$ 800 mil vão sumir.
Gaúcha Serra: O senhor não privatizaria a Codeca também?
Maurício Scalco: Ela tem um passivo grande e está com sucateamento de caminhões, a gente sabe disso, ela não tem valor de mercado para ser privatizada. E mesmo assim ela perde o direito à exploração do lixo. Então, privatizar a Codeca não tem como fazer isso.
Porém, é muito importante a gente trazer aqui alguns números para o pessoal também de casa entender. Nós vamos ter que abrir todos os contratos vigentes na Codeca, reavaliar tudo o que está acontecendo lá. Existem contratos de aluguéis de caminhões, caminhões que levam o lixo pagando mais de R$ 5 mil por dia, é por dia, não é por mês, R$ 5 mil por dia o aluguel de um caminhão. Não é a carreta, é só o caminhão e toda a manutenção dele, gasolina, pneu, troca de óleo, fica por conta da Codeca também. Não é a empresa que está alugando.
Isso aí, eu não quero nem falar a palavra certa que eu penso sobre isso, mas é simplesmente inadmissível. O valor gasto só com aluguéis de caminhão e tudo mais é mais de R$ 500 mil ou R$ 600 mil por mês. Então nós temos que rever todos os contratos, rever como está sendo gasto o dinheiro da Codeca, porque é dinheiro público. Gastar mal dinheiro público a gente não pode. É muito caro para a população, nós pagamos muitos impostos e o nosso dinheiro tem que ser bem gasto, com o quê? Dando retorno para a população, e o retorno não está vindo em Caxias.
Gaúcha Serra: Candidato, na sua avaliação, qual o principal problema de Caxias do Sul hoje e como encaminhar essa solução?
Maurício Scalco: O principal problema nosso em Caxias do Sul hoje é a saúde. É um problema muito complexo e que nós temos que resolver. O sistema de saúde é um sistema que é tripartite. O que é? Deveriam o governo federal, o governo estadual e o governo municipal ajudar a pagar essa conta. É assim que funciona.
O Estado do Rio Grande do Sul está repassando atualmente só 5%, onde ele devia no mínimo repassar 12% ou 15%, ele repassa 5%. E o que me deixa mais, assim, inconformado, até na Câmara de Vereadores, é que, como você comentou lá no início, o governo municipal é do mesmo partido do governo estadual. Eu duvido que o prefeito não tenha o telefone direto do governador para cobrar isso, e a gente aceita, por ser do mesmo partido, um valor inferior do necessário para Caxias do Sul sanar o problema da saúde. Isso é inadmissível. Nós nos contentamos e achamos correto estar recebendo valores menores para resolver o problema da saúde. A gente não pode, isso é uma coisa que não tem como.
Nós estamos hoje com uma fila de espera de 30 mil consultas pendentes, 26 mil exames pendentes e 5 mil pessoas esperando cirurgia em Caxias. Tem muitas pessoas que não têm tempo mais para esperar. Uma pessoa que espera um exame e agrava a sua situação de saúde vai chegar um momento que nem no hospital vai resolver mais. Elas vão morrer, e nós temos que dar atenção para essas pessoas. Tem família sofrendo aqui. Tem pessoas que deixam de trabalhar porque estão doentes, e o retorno e o atendimento não está acontecendo. Chega na UBS e não tem médico, a pessoa que está doente não pode esperar. Nós temos que dar prioridade para isso, e Caxias está pecando nisso.
E não adianta gastar muito e gastar mal. Nós temos que começar lá na base. Nós temos que rever as UBSs, e é obrigação do prefeito colocar médicos. Nós temos que fazer isso. Focar no atendimento direto às famílias, no atendimento diferenciado. Hoje de manhã, aqui no CES, aqui no Centro de Caxias, quem subiu a Sinimbu deve ter visto, era nem 6 da manhã, a fila dobrava a esquina, de pessoas indo buscar remédio. Tem dias que está chovendo ali e as pessoas estão embaixo de chuva, no frio. Semana passada eu estive ali, eu estava conversando com o pessoal na fila e eu vi uma senhora chegando com o andador, devagarinho. Eu corri lá e pedi o empréstimo de uma cadeira de rodas, e levei ela para dentro.
Aí, conversando com o filho dela, que era outro senhor, porque ela tinha quase 90 anos. Ela tinha uma consulta de cardiologista ali e então eu ajudei. Ela entrou, e deu 5, 6 minutos depois que eles subiram, eu estava na fila e voltou ele: "o médico não veio". Corta o coração. Esse é o valor e importância que a gente dá para a população? Uma senhora de 90 anos, que não conseguia nem descer do carro, passar por isso.
Gaúcha Serra: Tem a questão do financiamento que o senhor falou, da busca de recursos com o governo do Estado r com o governo federal, mas tem ações específicas de gestão da saúde. Já que o senhor falou a questão dos CES, quais são essas ações que pretende implantar?
Maurício Scalco: Nós vamos tirar o CES da localização que está e vamos descentralizar a entrega de medicamentos. Pessoas de idade, pessoas que não conseguem mais vir, a gente tem que entregar em casa o medicamento, porque é injusto trazer essas pessoas com 80, 90 anos, para uma fila.
Nós temos que aperfeiçoar o programa Médico de Família e implementar um sistema informatizado de saúde, para evitar que exames sejam refeitos duas, três vezes, porque, às vezes, ele faz um exame e o paciente não está satisfeito com o exame na UBS, e aí ele vai na UPA e refaz o exame. Depois ele cai no hospital e refaz o exame. Esse gasto que tem o retrabalho de fazer exames custa muito para a gente. Então, nós temos que ser eficientes, e temos que informatizar e fazer com que todo o sistema de saúde das UBSs, da UPA e dos hospitais sejam interligados, e que a gente tenha online esses exames todos, para a gente evitar que sejam refeitos.
Ao mesmo tempo, nós vamos qualificar também todos os funcionários da área, a gente tem que ampliar algumas UBSs, nós temos que instituir a UBS do trabalhador com horário estendido, porque tem muitos trabalhadores que trabalham durante o dia, e quando eles chegam para tentar o atendimento, a UBS já fechou. Então nós vamos ter que buscar um horário diferenciado com médicos nesses horários, para poder atender o trabalhador também, porque não adianta todo mundo cair aqui na UPA, que a UPA virou um depósito de leitos do hospital, aguardando. Chegou a ter 60, 70 pessoas semana passada na fila de espera por leitos em Caxias. Há 20 dias, antes de abrir os leitos, tinha 110 pessoas esperando. É uma vergonha, corta o coração, e não pode continuar assim.
Gaúcha Serra: Candidato, nós tivemos no fim do ano passado a aprovação do Planmob, agora falando de mobilidade aqui da cidade, com diversas diretrizes em várias áreas da mobilidade. Gostaria de ouvir o senhor sobre isso, mas focando também na questão do transporte coletivo, que é sempre um tema bastante sensível. Ele tem sofrido nos últimos anos com problema de financiamento, e como é que o senhor pretende encaminhar uma solução para isso? E eu já aproveito para perguntar também se o senhor manteria, por exemplo, subsídio ao sistema?
Maurício Scalco: O problema do transporte coletivo é que nós precisamos implementar mais duas estações, no mínimo, de transbordo, uma na zona sul e outra na zona norte. O Plamob tem no seu plano três, mas no mínimo no próximo governo tem que ser construído e montado duas estações, para nós diminuir as rotas dos ônibus e assim conseguir otimizar, acelerar esse processo. Por que todo o custo da passagem de ônibus é baseado no quê? Na quilometragem percorrida e no número de usuários.
Então nós temos que tornar o sistema público de transporte algo atrativo, então o preço não pode ser muito elevado, senão as pessoas causam desinteresse e vão para os aplicativos. Isso é normal. E quando veio a pandemia, a pandemia nos mostrou que era muito bom andar de aplicativo. Então as pessoas já têm um carinho especial pelo aplicativo, e deixaram um pouco de lado o transporte público. Então a importância do transporte público é fundamental em Caxias sim, e nós temos que ter um valor de passagem que seja adequado, que as pessoas, porque quem paga na ponta é caro. Então a gente tem que ter um valor que possa ser justo pelo serviço que está sendo prestado.
A gente sabe que os ônibus em Caxias não são ônibus ruins, a qualidade é muito boa, só que nós temos que rever os trajetos, porque existe muita reclamação de horários de ônibus que não estão passando, porque essa reestruturação toda de horários e valor de passagem não é a empresa de transporte que faz, e sim é o Conselho de Transporte que tem na prefeitura que estabelece.
Quanto aos incentivos que você diz na passagem de ônibus ou subsídios, é muito importante dizer assim, todo subsídio que é pago, alguém paga a conta. Então é importante que haja, via governo federal, uma contrapartida de todo esse subsídio que é dado. A gente tem que cobrar o governo federal sobre a passagem a mais de 65 anos, que o governo federal arque com esse custo, já que é uma lei federal, assim como outros subsídios que tem, para a gente conseguir manter a passagem com valor atrativo e possa fomentar que mais pessoas andem de ônibus em Caxias.
Gaúcha Serra: Hoje não há essa contrapartida do governo federal. O governo municipal está tendo que bancar. O senhor bancaria?
Maurício Scalco: O que está sendo bancado hoje a gente vai manter, mas a gente vai fazer essa cobrança porque leis federais a gente precisa tentar buscar esse dinheiro fora. Porque se fica sempre todo o custo com o município, a exemplo que o Estado não paga a saúde, os outros 49 municípios da região não pagam a saúde, Caxias vai chegar uma hora que vai faltar caixa. Nós somos o polo da região, nós temos um orçamento alto, mas o orçamento tem limite. A gente não consegue bancar saúde para outras cidades, a gente não consegue bancar serviços públicos que não seja para a população de Caxias.
Gaúcha Serra: Falando em caixa da prefeitura, candidato, a questão das finanças já foi mais confortável no passado. As finanças da prefeitura, hoje é uma situação um pouco mais delicada e uma particularidade de Caxias do Sul é o Caso Magnabosco. Como o senhor enxerga a situação atual desse caso? Como o senhor pretende encaminhar a solução a partir do ano que vem, se o senhor for prefeito?
Maurício Scalco: Sobre finanças, nós precisamos ser eficientes, ter uma gestão eficiente. Não adianta gastar muito, gastar mal, ou gastar e ter que refazer o serviço. Eu trago aqui um exemplo bem fácil. Aqui eu acho que a rua ali é a Graciema Formolo. Foi feito um serviço público para drenagem, asfaltamento ali no bairro, eles abriram e fecharam a rua seis vezes, sendo que asfaltaram, dessas seis vezes, três vezes, romperam o asfalto.
Então quando a gente faz coisas sem projeto na cidade, sem projeto, a gente gasta mal dinheiro público, e esse dinheiro faz falta. Todo retrabalho feito na prefeitura é dinheiro público indo pelo ralo. E nós temos que ser eficientes, ter uma prefeitura eficiente em processos e tudo mais. Nós precisamos desburocratizar Caxias e não podemos admitir que empresas saiam da nossa cidade. Nós estamos perdendo mais de uma empresa por dia até para Flores da Cunha, porque as nossas burocracias internas do sistema público travam a cidade.
Nós precisamos destravar a cidade de Caxias do Sul e alterar as leis ou as normativas que emperram Caxias, porque Caxias tem uma velocidade. Já o empresário, o empreendedor e as empresas têm outra velocidade. O capital não aceita desaforo, e a prefeitura de Caxias do Sul tem uma velocidade muito inferior à pujança de Caxias. Isso aí trava negócios, e os empresários acabam investindo em outra cidade. Isso aí tem que parar, e nós temos que reter empresas aqui, atrair novas empresas, gerar renda em Caxias do Sul. Nós temos que virar a página. Caxias do Sul, a partir do ano que vem, será outra. Nós vamos destravar a cidade, e é muito importante que, destravando a cidade, virão novos investimentos e nós poderemos arrecadar mais em Caxias do Sul e, tendo maior arrecadação, a gente pode entregar serviços públicos melhores a toda a população. Isso aí é fundamental.
Quanto ao Caso Magnabosco, é importante, sim, sentar, tentar uma conciliação e fazer um acordo. Porém, em véspera de eleição, eu acharia mais prudente pedir um adiamento desse encontro no STF, para poder negociar já com o próximo prefeito eleito. Porque vai impactar diretamente nas contas do município, e um acordo mal feito inviabiliza a futura administração de Caxias.
Então, nós temos que ter muito cuidado, os valores são muito altos, a gente sabe que tem que haver uma responsabilidade absurda sobre isso. Porque, se for mal negociado, vai estourar na saúde, vai estourar nas vagas da educação infantil e vai estourar nos serviços públicos. É um caso sensível que eu pediria ao atual prefeito, que pedisse um adiamento desse possível acordo para que o próximo prefeito eleito possa estar junto e ajudar a tomar essa decisão, que é uma decisão que vai impactar os próximos 20 ou 30 anos da cidade de Caxias do Sul.
Gaúcha Serra: O cuidado com o dia a dia da cidade, é um tema bastante presente nessa eleição. Como o senhor avalia a situação atual e que ações pretende implantar para que a cidade fique mais cuidada em relação à questão de limpeza, em relação à questão do lixo?
Maurício Scalco: Um dos maiores problemas, e são vários... A gente começa a elencar aqui saúde, educação e tudo mais. Mas, assim, a zeladoria está uma vergonha, eu posso dizer, está uma vergonha. Nós chegamos a ter mais de 1,1 mil lixões na cidade, lugares que as pessoas depositam lixo, sem lixeira e no barranco, no bairro, atirado. Então, assim, nós pecamos demais. Nós, eu digo a prefeitura, não o Scalco, pecou demais nos serviços prestados. Então, assim, nós temos problemas sérios de limpeza urbana, nós já fomos a referência no país em limpeza urbana, hoje a gente não é referência,
A parte de iluminação pública. Agora entrou uma PPP de iluminação pública que vai resolver até o final do ano que vem esse problema. Mas, quando a empresa assumiu esse serviço, a prefeitura disse para ela que somente tinham 2 mil lâmpadas queimadas na cidade. Quando a empresa assumiu, ela descobriu que tinham mais de 6 mil lâmpadas queimadas. A informação não era correta, e então todo o fluxo de trabalho dessa empresa atrasou por uma informação que não fechou com a do serviço público quando foi licitado. Mas vai ser resolvido, porque nós precisamos ter iluminação pública.
São milhares de reclamações, e o meu WhatsApp como vereador não para, é todo dia foto dizendo 'faz seis meses que eu protocolei, estou com a lâmpada queimada na frente da minha casa', 'um ano que protocolei, estou com a lâmpada queimada na frente da minha casa'. Então, Caxias ficou parada durante quatro anos, vamos botar assim, e os serviços não funcionaram. Então, tivemos problema de lixo na cidade, problema de iluminação pública, problema de zeladoria. Nós olhamos a nossa cidade, os cartões postais de entrada e parques, estão todos abandonados. É uma cidade sem cor, sem alegria. Teve um projeto lá no início do governo Adiló, eu me lembro, que disseram nós vamos implementar o Luz, Cor e Flor. Durou um mês e abandonaram, não conseguiram fazer. Poxa, quem assume o governo municipal tem que ter a responsabilidade e a obrigação de entregar serviços públicos, que é o que não está acontecendo.
Os impostos que pagamos são gigantes. Mexe no bolso de todo mundo, não importa o tamanho do salário. É imposto para comida, é imposto para luz, é tudo imposto nesse país. Nós estamos com uma síndrome de vira-lata. Mais ou menos assim, Caxias, se trocou a minha lâmpada, eu agradeço, graças a Deus. Não tem que agradecer, isso é o básico, tem que ser entregue. Recolher o lixo é o básico, tem que ser entregue. Para vocês terem uma ideia, eu vou trazer aqui o caso do lixo de novo. Flores da Cunha paga três vezes menos para coleta de lixo urbano do que Caxias do Sul. A gente paga coleta de lixo para box de garagem, que não gera resíduo de lixo. Para terreno baldio as outras cidades não cobram. A nossa taxa de lixo é a maior do Estado. Poxa, e o serviço não funciona, está na hora de mudar, está na hora de transformar Caxias do Sul. Nós não podemos mais aceitar problemas de gestão. Quem está pagando a conta é o povo e o serviço público não está sendo entregue.
Gaúcha Serra: Com relação às PPPs, o senhor mencionou a educação, tem uma PPP em andamento, então gostaria que o senhor mencionasse um pouco até com relação a essa especificamente da educação.
Maurício Scalco: A PPP de Educação é muito importante, porque a gente está com muitas vagas faltando em Caxias. Essa PPP vai trazer 7,3 mil vagas, mais ou menos. A gente vai ter uma economia de R$ 300 milhões com a PPP de educação, porque a gente não recebe os recursos do Fundeb sobre as vagas que são compradas no município. Então o município aplica esse dinheiro para comprar as vagas e o governo federal não repassa esse valor de volta para o município, que é a contrapartida.
Então sai muito dinheiro do nosso caixa, e com a PPP da educação, esse dinheiro não vai mais sair e vai ser todo pago esse projeto da PPP com o dinheiro bancado pelo BNDES. Então para o cidadão de casa saber, o governo não vai gastar nada para construir 32 escolas. Será financiado pelo BNDES com a zeladoria pela iniciativa privada e o ensino, toda a metodologia continuará com o poder público.
