Bento Gonçalves cresce como destino turístico e o fortalecimento dos serviços que giram em torno da atividade foi um dos pontos positivos apontados pelo prefeito da cidade, Diogo Siqueira (PSDB), durante entrevista de balanço dos dois primeiros anos de governo ao Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra nesta quarta-feira (4). Porém, destacou a importância de um desenvolvimento sustentável. Falou das medidas para garantir a mobilidade no trânsito tanto de visitantes quanto dos moradores e das iniciativas para ajudar os agricultores a produzirem melhores uvas e, consequentemente, melhores vinhos.
Siqueira também falou sobre projetos da saúde e destacou a importâncias das obras de ampliação do novo hospital da cidade. Em dezembro, a prefeitura recebeu do governo estadual R$ 3,5 milhões para aplicar no complexo junto à unidade de pronto atendimento (UPA), em construção desde 2011.
— Essa obra do hospital é uma das obras mais importantes que a gente tem em Bento Gonçalves nos últimos anos — disse.
Leia a entrevista:
Nesses dois anos de gestão, qual foi o principal desafio?
Eu acho que o principal desafio foi a gente passar por uma pandemia. Parece que já faz tanto tempo o que aconteceu, mas foi agora há pouco e a gente ainda vive esses reflexos, ainda vive reflexos econômicos. A gente passou agora por uma eleição nacional também que acaba tumultuando um pouquinho a realidade de todo cidadão, então, são algumas situações que acabam dificultando a gestão. Mas é lógico, apesar de todos os desafios, a gente tem que baixar a cabeça e trabalhar muito para o cidadão. Uma coisa que a gente fala, não importa o desafio, não importa a dificuldade que se esteja passando, a gente tem que trabalhar melhor para que a gente consiga fazer o serviço para todo cidadão de Bento Gonçalves.
Ouça a entrevista:
Qual a maior realização nesses primeiros dois anos de mandato?
É a gente tentar fazer sempre o simples com excelência. A gente repete muito isso e acaba sendo uma filosofia que se coloca em todas as secretarias. A gente tem que ter uma zeladoria muito bem cuidada. A cidade tem que estar limpa. A gente tem que conseguir fazer com que as ruas fiquem limpas, que sejam roçadas, que a gente tenha um mato capinado, que a gente consiga pintar os meios-fios da cidade, ela tem que estar limpa no recolhimento de entulhos, de lixos. A gente tem que fazer com que tudo esteja funcionando muito bem. A gente tem que ter uma saúde de qualidade. Hoje, o governo federal nos coloca como a quarta melhor saúde entre os municípios acima de 100 mil habitante, então, existe uma qualidade já referenciada na saúde. A gente tem que ter nossa UPA funcionando com rapidez, tem que ter medicamento para todo mundo, não pode faltar. A mesma coisa acontece na educação. É reduzir as falhas que a gente tem com limitação de vaga de creches e a gente conseguir ter merenda para todo mundo e ter uma educação de qualidade com material padronizado para todos os alunos. Isso tudo a gente resume numa frase, tem que ser feito o simples com excelência e esse é o mantra que a gente coloca sempre aqui em Bento Gonçalves.
2022 teve um marco com os dados do Cadastro Geral de Empregos (Caged), mostrando que o setor de serviços superou a indústria na criação de vagas. A gente tem visto como as entidades tem se fortalecido, por exemplo, no turismo. De que forma vocês atuaram para fortalecer esses setores e o que vem pela frente?
Está havendo, sim, uma mudança de matriz, apesar que Bento Gonçalves, a nossa Serra Gaúcha, tem uma característica bastante clara: a gente tem um potencial econômico muito diversificado. A gente tem um setor moveleiro muito forte, metalmecânico muito forte e, nos últimos anos, a gente está vendo o turismo sendo desenvolvido. Aqui em Bento Gonçalves está muito forte o turismo. A questão do enoturismo veio pra ficar. A gente vê que o Vale dos Vinhedos está crescendo muito. A gente está vendo o Caminhos de Pedra da mesma situação. A cidade acaba focando mais nesse setor. Isso acaba desenvolvendo geração de empregos, uma geração maior de impostos e acaba refletindo na cidade. Os dados da economia demonstram isso, a gente vê uma leve diminuição da força industrial, isso não é só Bento Gonçalves, é o Brasil todo, mas ao mesmo tempo a gente vê um crescimento muito forte do setor de serviços e a gente vê esse crescimento específico muito forte na parte turística
Como vocês têm trabalhado para que o turismo cresça de forma ordenada e não traga problemas no futuro tanto pra quem visita quanto pra quem vive em Bento Gonçalves?
Primeira coisa é crescimento sustentável. Muita conversa com as entidades, com os empreendedores locais. E algo muito importante: tem que desenvolver essas rotas. A gente tem que colocar estradas bem cuidadas. Primeira coisa é infraestrutura, ampliar asfaltamento no interior. Nosso turismo é muito característico da zona rural. Vou citar um exemplo apenas de ação que tenho que vai dar um grande impacto. O turista vem a Bento Gonçalves para conhecer basicamente o principal produto que nós temos, o nosso vinho. Nós somos a capital nacional do vinho. Todas as cidades vizinhas estão desenvolvendo o seu próprio vinho também. Se a gente ficar apenas com o título e não melhorar a nossa qualidade a longo prazo, daqui a pouco todo mundo vai estar no mesmo nível, todo mundo vai estar no mesmo padrão e a gente não vai mais conseguir competir de igual pra igual com todos. O que a gente está fazendo? A gente fez um programa muito forte de desenvolvimento de parreirais em espaldeiras. A espaldeira acaba tendo uma uva de maior qualidade, a muda é de maior qualidade e essa maior insolação que a gente tem nesse parreiral acaba gerando um vinho de maior qualidade. A prefeitura está investindo diretamente nisso: dando subsídios para os agricultores, dando hora-máquina, a gente acaba ajudando na compra dessas mudas, e isso vai, a longo prazo, gerar um vinho de alta qualidade. Daqui a 20, 30 anos a gente vai estar com um know-how muito mais forte e competindo de igual para igual com qualquer país da Europa, com Chile, com Argentina, com a região produtora de vinho dos Estados Unidos. Acho que é importante também lembrar que Bento acaba tendo um foco muito grande de grandes empreendedores. A gente vê grandes redes querendo se instalar em Bento Gonçalves.
Nossa vizinha Gramado enfrenta dificuldades no trânsito há anos e Bento Gonçalves também já tem gargalos. O que vocês estão prevendo para essa área?
Bento Gonçalves está crescendo 2 mil cidadãos por ano. A gente está tendo um fluxo muito grande de migração de pessoas que estão vindo de outras regiões. Esses 2 mil habitantes são mais ou menos 2% da população para a gente arredondar a conta, dá mais ou menos 2% a mais por ano. Ou seja, está crescendo muito. Primeira coisa, a gente tem que melhorar os acessos. A gente fez uma obra muito importante que é para quem vem do Barracão, quem vem de São Pedro ou então quem vem de Farroupilha e até de Caxias do Sul. Existe um acesso lateral, digamos secundário, da entrada principal de Bento e a gente fez uma terceira pista para agilizar, principalmente, nos horários de pico. É lá na Aristides Bertuol. A mesma coisa é a troca de asfalto nas principais ruas. Os asfaltos antigos funcionaram muito bem por muito tempo, mas a gente trocando esse asfalto a gente ganha tempo em manutenção. A gente precisa fazer essa troca de tempo em tempo porque a cada chuva a gente tem que colocar uma equipe para tapar buraco. São várias ações que a gente está fazendo de interligação de bairros. A gente conseguiu interligar a Santa Helena com Santa Marta. Para terem uma ideia, para 2023, 2024, a gente já tem organizado mais de R$ 35 milhões apenas em asfalto urbano e mais R$ 25 milhões no interior. São obras que vão acontecer sequencialmente e uma obra por mês é a nossa meta.
Em dezembro vocês receberam do governo estadual um valor de R$ 3,6 milhões para obras de ampliação do hospital da cidade. Esse valor já chegou e está sendo aplicado? O que vocês estão prevendo de investimentos na área da saúde em Bento?
Já chegou e esse valor vai ajudar nas obras. Bento Gonçalves tem apenas um hospital. Estamos com 130 mil habitantes e com esse crescimento de pessoas que estão vindo de outras regiões, a gente precisa agilizar a internação de pacientes. A gente precisa agilizar a diminuição da fila de espera que a gente tem na cirurgias eletivas. Ao mesmo tempo a gente precisa puxar mais referências de alta complexidade para Bento Gonçalves. Esses são os motivos que a gente precisa construir um hospital. Hoje nós temos na UPA um pronto-socorro que atende muito bem o nosso pessoal. A gente já tem um um setor de imagens, a gente está agora construindo três andares de internação para os pacientes e um elevador inteiro e escadarias para acesso e ao mesmo tempo a gente está fazendo mais o bloco cirúrgico. Existem obras paralelas a essa estrutura principal que é a reforma de toda a estrutura antiga. O novo bloco do Samu também está executado e mais outra obra que a gente tem futuramente é a ampliação para ter UTI. Esse recurso do Estado vamos utilizar nessa ampliação que precisa ser feita agora. Essa obra do hospital é uma das obras mais importantes que a gente tem em Bento Gonçalves nos últimos anos. Ela vai ser uma grande retaguarda para todo cidadão que está esperando um atendimento. Hoje, um paciente que entra na UPA que precisa fazer um tratamento de uma infecção, que precisa de uma internação clínica, vai esperar às vezes dois, três dias para conseguir um leito e isso não pode acontecer mais. Eu não consigo encaminhar esse paciente para outro hospital em outra cidade, eu preciso interná-lo em Bento. Esse é um grande motivo para gente conseguir fazer esse hospital e obviamente tem uma grande utilidade para todo o cidadão de Bento Gonçalves.
Neste ano tem uma mudança porque temos Guilherme Pasin como deputado estadual. Ele é ex-prefeito de Bento e o senhor representa a continuidade do governo dele. O que impacta para a cidade? O senhor já pensa se pretende concorrer à reeleição?
O Pasin é um grande parceiro, foi o nosso professor na prefeitura. É um grande conselheiro e a gente ter um deputado depois de 30 anos é uma grande conquista para Bento Gonçalves. Eu tenho certeza que vai ajudar muito Bento e a nossa região, a nossa microrregião principalmente porque a gente estava sendo deixado de lado e faltava essa representação política. Por mais empresas que a gente tenha em Bento Gonçalves, por mais força econômica e desenvolvimento humano que a gente tenha em Bento Gonçalves, faltava uma liderança política estadual do nosso município. O Pasin vai ser esse grande parceiro em Porto Alegre. A questão de reeleição, acho que todo cidadão de Bento Gonçalves sabe porque a gente sempre repete, todos os dias a gente fala a mesma coisa. A gente precisa acordar cedo, a gente precisa trabalhar muito, a gente precisa baixar a cabeça e trabalhar para fazer o melhor. Os indicadores demonstram que Bento está crescendo, está melhorando. Mas esses indicadores de crescimento e de melhorias têm que estar na porta do cidadão. A gente tem que fazer com que o cidadão entenda realmente que a cidade está melhorando. E se a gente conseguir demonstrar isso para o cidadão, tenho certeza que o trabalho vai ser natural e a gente vai estar sempre à disposição para trabalhar pra todo cidadão. Mas é lógico, é um dia por vez. Cada dia é um novo desafio e a gente sempre tem que estar preparado para esses desafios.