Reuniões da associação de moradores para discutir as necessidades do bairro; paralisações de professores por garantia de direitos. Lá no meio estava a pequena Denise. Aos finais de semana, o passeio era conhecer a cidade. Não apenas os pontos turísticos, mas as comunidades mais afastadas do centro. O futuro da menina, mesmo não planejado, não poderia ser diferente: a militância social e política.
— Meu pai foi presidente do (loteamento) Garbin e vice da UAB (União das Associações de Bairros). Lutou por infraestrutura, escola, UBS, ônibus. E minha mãe foi professora municipal. Sempre participou de sindicato. A gente vai crescendo acreditando que não basta nós estarmos bem. A gente só fica bem se o coletivo está bem. Essa luta coletiva aprendi dentro de casa — reflete a presidente da Câmara de Caxias e deputada federal eleita, Denise Pessôa (PT).
O compromisso com um mundo melhor a levou a cursar Direito, mas mudou para Arquitetura e Urbanismo. A possibilidade de planejar cidades onde não se reproduzam desigualdades sociais a encantou. Teve um pouco da influência do pai Oscar, que era pedreiro. Já a mãe, professora, inspirou a filha a cursar magistério.
— Sou o resultado dos dois e da luta dos dois — diz.
Foi na universidade que a liderança surgiu. Denise foi presidente do Diretório Acadêmico de Arquitetura da UCS em 2006 e integrante do DCE em 2007. O convite para concorrer a vereadora não demorou muito. Por incentivo de Geci Prates, fundadora do PT, Marisa Formolo, ex-vice-prefeita e padre Roque Grazziotin, ex-deputado estadual, Denise disputou uma vaga em 2008, aos 25 anos de idade. E ganhou:
— Nunca pensei nisso. Eu só tinha o compromisso com a luta. Mas meu pai sempre dizia que quem não se interessa por política acaba sendo comandado por quem se interessa.
EDUARDO E ESPERANÇA
Aos 39 anos, a história parece se repetir. Mãe de Eduardo, 5, agora é ela quem leva o filho aos encontros políticos. É a forma de ficar mais tempo com o menino e de mostrar a importância do seu trabalho para ele.
— É outra coisa quando tu gera uma criança. Passa a bater nosso coração em outra pessoa. O Eduardo me dá mais esperança na política. Quando posso, levo ele, até para ele entender a minha ausência em vários momentos.
Com o mandato de deputada a partir de fevereiro, Denise ficará parte da semana afastada do filho. Eduardo já está em idade escolar e ficará estudando em Caxias. Quando possível, levará o garoto a Brasília.
— Eu acho que sou uma mãe que talvez queira proteger demais o filho, mas qual mãe não? Eu vivo para o Eduardo.
DEPOIS DE 14 ANOS
Denise dá um importante passo após 14 anos de atuação na Câmara, onde chegou com apenas 25 anos. Em três mandatos e meio, ela leva aprendizados e momentos marcantes, como o mutirão para auxiliar imigrantes ganeses que chegaram à cidade na Copa de 2014.
— Para mim, foi muito importante, para reconhecer um pouco da história do Brasil. Os africanos fazem parte da nossa história. Tinha toda uma questão humanitária — recorda.
O preconceito por ser mulher também ficará marcado. Foram muitos momentos de violência de gênero na política. Uma discriminação sofrida não só por ela, mas por colegas.
O Eduardo (filho) me dá mais esperança na política.
DENISE PESSÔA
Deputada federal eleita
Denise quer ajudar a região em temas sensíveis a ela como saúde, habitação e agricultura familiar. Mas não nega a possibilidade de, daqui dois anos, disputar a prefeitura. Frisa que se trata de decisão coletiva:
— Eu não tenho mais receio quanto a isso e gosto de Caxias. Fica em aberto para o futuro. Eu tenho disposição, estou disponível. Não tenho problema — destaca Denise, eleita para o Congresso com 44.241 votos.
INFÂNCIA E FÉ
Com a irmã gêmea Márcia e o irmão Rodrigo, quatro anos mais velho, mais os primos que moravam perto de sua casa, Denise conta que viveu como uma criança deve viver: cercada de amor e carinho.
— Foi uma infância de muita brincadeira, de esconde-esconde, de pega-pega. E, mesmo criança, gostava de dar aula para outras crianças. Comecei a ler cedo e brincava de escola, de peças de teatro — conta Denise, que estudou na Escola Padre Antônio Vieira, uma conquista para o Garbin, onde a mãe lecionou.
Denise também teve atuação na Pastoral da Juventude. Durante o mandato da então deputada Marisa, ela se aproximou da Pastoral da Criança.
— Padre Roque sempre dizia que a fé só pode existir de fato quando tem ação.
NATUREZA
Torcedora do Caxias, Denise gosta é de estar em contato com a natureza. O sítio dos pais em Pinhal da Serra é um dos locais preferidos da vereadora.
A conexão com o meio ambiente rendeu até uma tatuagem no pulso direito. Um tucano, símbolo do PSDB, adversário do PT. A escolha, obviamente, não tem relação com política. Foi por ter recebido a visita de vários tucanos durante as práticas de meditação na chácara onde morava.
— Eu gosto de ler, de brincar com o Eduardo, que é o que mais faço. Gosto de ler para o Eduardo. Preciso gostar mais de fazer esporte. O esporte hoje em dia é correr atrás do filho — acrescenta.