A fidelidade dos mesários de Caxias do Sul com a democracia é facilmente constatada por meio de exemplos de cidadãos que atuam há décadas, sempre a cada dois anos, nas eleições gerais e municipais de forma voluntária.
Na Escola Hercílio Petry, no bairro Ana Rech, por exemplo, é comum que alguns dos 396 eleitores da seção 197 reconheçam seu local de votação não pelo número informado no título de eleitor, mas pela presença do professor Ricardo Rubens Pereira, 41 anos, e da analista judiciária e princesa da Festa da Uva de 1998 Letícia Bacchi Mazzochi, 44.
— As pessoas, quando chegam para votar, brincam que somos patrimônio da eleição, porque trabalhamos sempre juntos há diversas eleições — contou Letícia, mesária voluntária há 20 anos na escola onde cursou o Ensino Fundamental.
Voltar ao colégio onde estudou, fazer parte da mesa e receber os eleitores é, para os voluntários, uma forma de manter contato com a comunidade e viver a eleição de forma mais imersiva. Acompanhar a procura dos vizinhos, jovens e idosos pela urna dá aos voluntários a certeza de pertencer ao processo democrático do país.
— Colaboramos com a Justiça Eleitoral e isso nos dá orgulho. Auxiliamos pessoas com dificuldade, encontramos quem há tempo não víamos e percebemos cada vez menos abstenções — contou o professor Ricardo.
Ele tem na ponta da língua a informação de que 32 abstenções foram registradas na seção no primeiro turno.
— Uma vez não se tinha a preocupação de votar, agora há desejo. Acho que os próprios candidatos provocam esse acirramento eleitoral que faz com que as pessoas frequentem mais a urna — citou o docente ao fazer uma reflexão sobre o que mudou em 14 anos como mesário.
Desde a primeira eleição em que atuou como mesário em 2006, Patrick Mezzomo, 37, já auxiliou eleitores em três locais diferentes: no antigo Colégio Santo Antônio, no Salão Paroquial dos Capuchinhos e, agora, no Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG). O advogado faz parte do grupo que é lembrado pelo público como presença certa nos domingos de votação. E para manter a relação visual dos eleitores com as seções onde votam, ele conta com uma estratégia que se mostrou eficaz após 16 anos na função.
— Para a maioria, a seção é uma lembrança visual e não numérica. Então, é importante deixarmos elas sempre nas mesmas salas quando o local de votação é uma escola, por exemplo. Em salões comunitários, é preciso fazer a divisão por filas, e a figura do mesário é muito importante para os eleitores encontrarem sua urna — explicou.
Por influência do irmão, Luana Mezzomo, 40, tornou-se mesária voluntária há seis anos e hoje faz coro ao dizer que a função só lhe trouxe benefícios. A participação de uma figura familiar na comunidade durante o processo eleitoral faz com que o processo dê segurança ao eleitor na hora do voto.
— Como trabalho no bairro onde moro, acabo encontrando os vizinhos. É um trabalho voluntário que precisa que as pessoas apareçam para acontecer. Ser mesário desmitifica que haja qualquer risco das urnas serem fraudadas, participamos de todo o processo e vimos que é íntegro. As pessoas fazem questão de ir votar, e presenciar isso é muito legal — contou a servidora pública, que atua como presidente de mesa no Salão Paroquial do bairro Desvio Rizzo.
Ritmo mais ágil
Com apenas dois candidatos a serem apontados na urna eletrônica, o ritmo de votação deste domingo (30) deverá ser mais ágil em comparação ao primeiro turno, quando cinco nomes precisaram ser escolhidos pelo eleitor. Por isso, a Justiça Eleitoral do Rio Grande do Sul dispensou os secretários de seções e o número de mesários baixou de quatro para três servidores em cada uma das mesas.
Em Caxias do Sul, segundo maior Colégio Eleitoral do Estado, serão 3.282 mesários distribuídos em 1.098 seções. O contingente de quem auxiliará no andamento da votação no município ainda conta com 300 administradores de prédio e 120 pessoas que atuarão no Cartório Eleitoral.
De acordo com o chefe do cartório da 169ª Zona Eleitoral de Caxias, Edson Borowski, 90% desse quadro é formado por voluntários engajados em fazer com que a eleição transcorra com tranquilidade.
— De 4,8 mil mesários no primeiro turno, não chegamos a 50 ausências e que não refletiram em prejuízo ao andamento da eleição — afirmou.
Folga e vale-alimentação garantidos
Todos os brasileiros que estiverem a serviço da Justiça Eleitoral, sejam eles voluntários ou que tenham sido convocados, receberão um vale-refeição de R$ 55. Além do benefício para alimentação, a Lei 9.504 assegura dois dias de folga para cada dia trabalhado na eleição. De acordo com as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as folgas devem ser negociadas entre patrões e funcionários. Edson Borowski ressalta que isso não deve ser motivo de constrangimento entre as partes.
— Algum ruído sempre tem, mas temos a fiscalização do Ministério Público do Trabalho e, em Caxias do Sul, em regra não temos grandes problemas quanto a isso. Além do mais, qualquer dúvida, tanto do empregador quanto do funcionário, pode ser esclarecida pela Justiça Eleitoral — explicou.