Na eleição mais polarizada dos últimos anos, a Serra Gaúcha representa um polo de votos para o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), cenário que se repetiu na eleição passada, em 2018. De 49 cidades da região de abrangência do Pioneiro, Bolsonaro venceu o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 47. Em pelo menos 19 dessas cidades, o atual presidente superou os 70% sobre os votos totais — quando se incluem os brancos e os nulos. Já o petista obteve um percentual maior do que o de Bolsonaro em duas cidades: Bom Jesus e São Francisco de Paula, ambas na região dos Campos de Cima da Serra.
Conforme informações do Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede), os municípios que abrangem a região dos Campos de Cima da Serra são, por ordem alfabética: Bom Jesus, Cambará do Sul, Campestre da Serra, Esmeralda, Jaquirana, Monte Alegre dos Campos, Muitos Capões, Pinhal da Serra, São José dos Ausentes e Vacaria.
Apesar de os votos para Lula terem uma predominância um pouco mais forte nas 10 cidades dessa região, Bolsonaro ainda é o mais votado em oito delas. Em Esmeralda o percentual foi parecido: Bolsonaro com 996 votos (48,14%) e Lula com 948 (45,82%), ou 48 votos de diferença. No caso de Jaquirana, oito votos separaram a votação dos dois candidatos: Bolsonaro fez 1.208 votos na cidade (46,52%) e Lula, 1.200 (46,21%).
Na opinião do prefeito de Jaquirana, Marcos Finger Pires (PP), o resultado no município representa as alianças feitas para essa eleição em comparação à eleição passada. Ele destaca que Bolsonaro não reduziu votos na cidade, inclusive, subiu três por cento se comparado a 2018. Contudo, os votos para o PT tiveram um aumento.
— O que mudou bastante foi o aumento do número de votos que o candidato do PT teve na cidade. Isso eu atribuo à aliança política que o PT fez com o vice (Geraldo Alckmin, do PSB). Alckmin foi candidato à Presidência na outra eleição e fez mais de 11% dos votos em Jaquirana. Também atribuo esse crescimento ao próprio nome do Lula, que é muito mais conhecido do que o (o candidato Fernando) Haddad era em 2018. Outro fator é que tivemos uma redução significativa dos votos do Ciro Gomes (PDT), um candidato que tem uma tendência de esquerda, que baixou de 8% para 2% em Jaquirana.
Já em Vacaria, que fica entre duas cidades com votos mais distribuídos entre Lula e Bolsonaro, desponta com 60,78% dos votos para Bolsonaro, na frente de Lula que conquistou 31,63% do eleitorado.
Agronegócio e espírito empreendedor
A força do agronegócio e a gestão da cidade são dois fatores que contribuem para o resultado mais bolsonarista no município, segundo o prefeito de Vacaria, Amadeu de Almeida Boeira (PSDB).
— Eu sou bolsonarista. Aqui, a gente faz uma gestão diferenciada. O trabalho que nós fizemos acho que pesa na hora do voto (nas eleições gerais) no candidato que o nosso governo apoia. Esse resultado é fruto da administração municipal com a população de Vacaria.
Já na microrregião que envolve Flores da Cunha, Nova Pádua, Antônio Prado e São Marcos, Bolsonaro também ganhou, só que disparado. Neste ano, Nova Pádua, mais uma vez, ficou com o título de município mais bolsonarista do país. O atual presidente conquistou 83,98% do eleitorado e conquistou mais espaço se comparado a 2018. Já em Flores da Cunha, Bolsonaro arrematou 74,88% dos votos, enquanto Lula fez 16,75%.
O prefeito de Flores da Cunha, César Ulian (PP), atribui a votação na cidade por conta da região da Serra e do município não possuírem raízes de esquerda.
— Pelo espírito empreendedor da região, o fato da atual administração do Governo Bolsonaro estar trabalhando forte na desburocratização e na liberdade econômica amplia significativamente o desenvolvimento econômico e, em consequência, o aumento de emprego e renda para a população.
Prefeitos ajudam a explicar a distribuição de votos
"Tradicionalmente, a região da Serra e nosso município de Flores da Cunha não possuem raízes de esquerda [...] Por mais que possam existir algumas situações adversas ao atual governo, não vislumbramos outra opção além de Jair Messias Bolsonaro."
César Ulian (PP), prefeito de Flores da Cunha
"Vacaria é uma cidade que tem muito trabalho e tem a força do agronegócio. Acho que isso influencia nos votos para o Bolsonaro aqui. [...] No primeiro turno, fizemos um trabalho forte para o Bolsonaro e votamos no Eduardo (Leite), mas não fizemos uma campanha forte. Agora, no segundo turno, estamos trabalhando e pedindo voto para o Eduardo Leite. Gravei vídeos e áudios pedindo voto para o Bolsonaro."
Amadeu de Almeida Boeira (PSDB), prefeito de Vacaria
"Eu, especificamente, fiz uma campanha (no primeiro turno) muito mais voltada aos nossos deputados e, claro, para o nosso candidato a governador que estava concorrendo (Luis Carlos Heinze, PP). Neste segundo turno, estamos mais focados porque a eleição polarizou. A minha posição é de continuidade do atual governo. Meu voto é Bolsonaro"
Marcos Finger Pires (PP), prefeito de Jaquirana e presidente da Amucser, a Associação dos Municípios dos Campos de Cima da Serra
"Avaliamos os resultados, e também não temos uma explicação por que aqui deu mais votos para o Lula. A cidade se engajou muito na campanha para deputado, mas não para presidente. (...) As pessoas estavam bem definidas entre Lula e Bolsonaro. Tivemos uma carreata do Bolsonaro mas não vimos nada do Lula. Na eleição passada, Bolsonaro venceu aqui."
Lucila Maggi (MDB), prefeita de Bom Jesus, em entrevista ao Pioneiro em reportagem publicada em 8 e 9 de outubro
Votação por municípios
André da Rocha (61,38% x 30,5%) / Antônio Prado (73,49% / 18,68%) / Bento Gonçalves (69,12% x 23,57%) / Boa Vista do Sul (65,43% x 24,72%) / Bom Jesus (43,51% x 49%) / Cambará do Sul (59,5% x 34,47%) / Campestre da Serra (74,58% x 18,91%) / Canela (58,38% x 32,31%) / Carlos Barbosa (65,16% x 24,27%) / Caxias do Sul (57,54% x 31,79%) / Coronel Pilar (69,98% x 21,53%) / Cotiporã (69,16% x 20,55%) / Esmeralda (48,14% x 45,82%) / Fagundes Varela (72,07% x 19,73%) / Farroupilha (66,41% x 24,63%) / Flores da Cunha (74,88% x 16,75%) / Garibaldi (68,27% x 23,48%) / Guabiju (69,03% x 24,05%) / Guaporé (68,66% x 24,07%) / Ipê (71,12% x 20,88%) / Jaquirana (46,52% x 46,21%) / Montauri (71,40% x 22,62%) / Monte Alegre dos Campos (55,16% x 37,55%) / Monte Belo do Sul (76,2% x 16,34%) / Muitos Capões (63,64% x 30,77%) / Nova Araçá (72,44% x 21,63%) / Nova Bassano (78,6% x 15,63%) / Nova Pádua (83,98% x 10,35%) / Nova Petrópolis (67,55% x 22,17%) / Nova Prata (70,17% x 21,67%) / Nova Roma do Sul (70,75% x 22,11%) / Paraí (68,28% x 22,69%) / Picada Café (61,64% x 26,95%) / Pinhal da Serra (48,91% x 41,97%) / Pinto Bandeira (75,62% x 16,9%) / Protásio Alves (73,27% x 17,9%) / Santa Tereza (66,6% x 26,97%) / São Francisco de Paula (43,58% x 48,18%) / São Jorge (72,21% x 21,23%) / São José dos Ausentes (57,09% x 37,27%) / São Marcos (67,97% x 22,42%) / São Valentim do Sul (71,2% x 21,74%) / Serafina Corrêa (67,81% x 25,73%) / União da Serra (70,57% x 20,53%) / Vacaria (60,78% x 31,63%) / Veranópolis (71,54% x 19,92%) / Vila Flores (71,94% x 20,34%) / Vista Alegre do Prata (66,67% x 21,14%)